por Felippe Hermes
22 mil.
Essa é a quantidade de obras públicas paralisadas ao redor do país.
Muita coisa, não? O motivo é escandaloso: acredite, falta dinheiro para
finalizá-las, não apenas planejamento. E não pense que é qualquer
trocado. Segundo o governo, de R$ 10 mil a R$ 1 bilhão cada, dependendo
da complexidade da empreitada.
Se lembra
do PAC? Das dez maiores obras anunciadas pelo governo, apenas duas foram
concluídas. Na área da saúde, a média é ainda pior: de cada dez obras
prometidas, só uma conseguiu funcionar a pleno vapor até o momento.
O Brasil
virou um grande canteiro de obras, sugando cada centavo do dinheiro dos
pagadores de impostos. E aqui, nós separamos 11 dessas construções
mastodônticas que não param de assaltar o seu bolso.
1. A ferrovia que só transporta forrozeiros: Transnordestina.
Idealizada
para ligar os portos de Pecém, no Ceará, e Suape, em Pernambuco, além
do Estado do Piauí, a Ferrovia Transnordestina deveria ser o maior
projeto ferroviário do primeiro PAC (Programa de Aceleração do
Crescimento).
No
entanto, dos 1700 km projetados, apenas 600 km foram entregues até
agora, mais de 10 anos após o início da construção. Com gastos de R$ 4
bilhões previstos inicialmente, R$ 6,2 bilhões
já foram investidos e outros R$ 5,5 bilhões ainda devem ser necessários
para a conclusão da obra (que está 52% terminada, uma vez que a parte
de viadutos encontra-se mais avançada do que os trilhos).
Ao
contrário do modelo tradicional de construção ferroviária, a
Transnordestina não começou a ser construída do porto para o interior,
mas na direção oposta. Caso optasse pelo modelo padrão, a ferrovia
poderia ter começado a operar com meros 30 Km concluídos, ligando
cidades do entorno de Suape ao porto, permitindo desafogar a logística
na região.
Sua grande
vantagem era o sócio privado, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN),
que, além de assumir parte dos gastos (25% do total), ajudaria a cobrar
resultados. Para a CSN, porém, a obra foi um grande transtorno e
colaborou significativamente para derrubar o valor de mercado da
companhia, uma vez que os recursos drenados para a obra deixaram de ser
investidos em áreas mais lucrativas, como a mineradora Casa de Pedra,
seu principal ativo.
Com o
caixa da mineradora vazio graças à queda no preço das commodities e o
governo relutando em liberar mais recursos públicos, a obra começou a
andar em marcha lenta. A siderúrgica fingia que pagava e a Odebrecht,
responsável pela obra, fingia que produzia.
Apesar dos
atrasos e do alto custo, a ferrovia não é de todo inútil: cerca de 300
mil pessoas já foram transportadas no chamado trem do forró, uma
festividade que ocorre na época das festas juninas e que utiliza os
trilhos da ferrovia para percorrer parte do interior dos 3 estados.
2. O estado que decidiu construir um aquário em meio à maior seca dos últimos 100 anos.
Que o
Ceará possui uma vocação turística invejável, não há como negar. As
belas praias do estado, como Jericoacoara e Canoa Quebrada, são
reconhecidas mundialmente e atraem milhares de turistas todos os anos.
Para o estado, porém, isto ainda é pouco. É preciso oferecer aos
turistas opções para que permaneçam por mais tempo, consumindo e gerando
empregos.
Com uma das menores dívidas do país, o estado se tornou um enorme canteiro de obras.
Proporcionalmente,
nenhum governo brasileiro investia tanto quanto o cearense. O resultado
de tanto espaço para se endividar foi um descomedimento por parte do
governo, em especial na gestão do ex-governador Cid Gomes.
Em tese, o
aquário deveria custar US$ 150 milhões, sendo US$ 105 milhões por parte
do americano Ex-Im Bank e o restante vindo dos cofres estaduais. Os
recursos do tesouro saíram. Já o financiamento estrangeiro, aguarda uma
última etapa para liberação.
O sucessor de Cid, Camilo Santana (PT), considera a continuação da obra inviável.
O investimento foi alto demais e o retorno tornou-se incerto. O que
fazer com a obra então? Para o atual governador, a resposta é simples:
privatizar.
Uma consultoria deve ser contratada para analisar os termos e então repassar a obra para a iniciativa privada.
3. O Metrô que levou 12 anos para ser inaugurado e ainda não está pronto.
Iniciada
em 2000, a obra do metrô em Salvador, capital da Bahia, deveria ser uma
das maiores obras de mobilidade do país. Desde que a promessa surgiu, o
projeto foi tema de três campanhas eleitorais estaduais e duas
presidenciais. Na última delas, a ex-presidente Dilma Rousseff andava na
linha 1, ainda inconcluída, para demonstrar a entrega do projeto.
Isto,
porém, é apenas parte do que deve ser o metrô. A linha 2, que
praticamente triplicará o número de usuários, ainda aguarda a conclusão
de três estações e, se nada der errado, estará pronta em 2017, a tempo
portanto de aparecer nas eleições de 2018 como uma grande conquista.
Para o New
York Times, que deu destaque ao metrô da capital baiana em uma matéria
sobre obras abandonadas e inacabadas no Brasil (ainda em 2014), o grande
destaque era outro: o custo da obra triplicou. Deveria custar R$ 350
milhões na primeira fase, e saiu por R$ 1,4 bilhão.
A
construção da obra reúne nada menos do que todas as cinco maiores
empreiteiras do país em um único consórcio. Para o TCU, a obra contém
superfaturamento em determinados trechos, motivo pelo qual a interrupção
foi pedida em 2012, paralisando a obra.
4. A Transposição do São Francisco: já foi inaugurada, mas a conclusão ficou para 2018.
Inaugurar
obras incompletas não é nenhuma novidade quando se trata do Brasil.
Inaugurações de trechos e promoção de múltiplos eventos tornaram-se um
padrão para os últimos governos do país. Como já era de se esperar, o
mesmo ocorreu com a transposição das águas do Rio São Francisco.
Idealizada
no século XIX por Dom Pedro II, a construção começou a ser tocada em
2005 e, em 2007, foi incluída no PAC1. Entre 2005 e 2015, entre R$ 8,37
bilhões e R$ 9,5 bilhões foram investidos (sequer o valor gasto até aqui
é conhecido com exatidão), mais do que o dobro do valor de R$ 4,5 bilhões previsto inicialmente. Para ser concluída, a obra ainda demandará R$ 1,1 bilhão.
Os desvios
de recursos da obra já chegaram a ser alvo de uma operação da Polícia
Federal, intitulada Vidas Secas. Em meio à seca que atinge a região
Nordeste há pelo menos cinco anos, a obra ainda é uma promessa.
5. A refinaria que custou oito vezes o valor inicial previsto e levou calote do sócio.
Um símbolo
da união entre Brasil e Venezuela, a Refinaria Abreu e Lima, em
Pernambuco, chegou a ser inaugurada pelos presidentes dos dois países
(Lula e Hugo Chávez). Era a primeira grande refinaria construída em
décadas, com um orçamento de US$ 2,4 bilhões cedidos em parceria pela
Petrobras e PDVSA, a estatal venezuelana de petróleo.
A ideia de
refinar petróleo venezuelano, agregando valor a ele e ajudando os dois
países a se tornarem menos dependentes dos preços internacionais não
passou de um sonho. O pesadelo, entretanto, veio com a conta: a
refinaria custará, segundo estimativas, US$ 20 bilhões quando
estiver totalmente concluída. A parte da PDVSA, porém, não virá. A
empresa deu oficialmente um calote na sua parte, mas contou com a
generosidade brasileira: a Petrobras perdoou o calote e abriu mão de
cobrar o valor.
As
constatações de superfaturamento na obra, que já somam dezenas de
denúncias, chegaram a ser julgadas pelo juiz Sergio Moro e já
ultrapassaram a casa dos bilhões de reais.
6. Os parques eólicos que produzem energia que ninguém usa.
Restam
poucas dúvidas de que o setor de energia eólica realmente decolou no
Brasil. Já foram dezenas de bilhões em investimentos apenas nos últimos
dois anos e nada menos do que 166 parques construídos até 2015.
Construir
um parque, no entanto, é apenas parte da questão. É preciso escoar a
produção por meio de linhas de transmissão e é justamente aí que reside o
problema. Segundo o TCU, o atraso médio na construção de usinas está em
dez meses (para 88% dos casos), contra 14 meses de atraso médio nas
linhas de transmissão. O resultado é um desencontro cujo custo chega em R$ 4 bilhões. Do total de parques já construídos, 34 apresentam falhas neste sentido.
7. A Ponte do Rio Que Cai.
Clássico
dos anos 50, “A Ponte do Rio Kwai” narra a saga da construção de uma
ponte ferroviária na selva tailandesa durante a Segunda Guerra.
Construída por prisioneiros ingleses a mando dos japoneses, a obra levou
alguns poucos meses para ser erguida, até que é destruída pelos
ingleses durante seu primeiro uso, para parar o avanço japonês.
Por aqui,
sem estarmos em guerra – exceto com os políticos e a lentidão da coisa
pública -, nossas pontes levam anos ou décadas para serem construídas e,
sem necessitar de nenhum bombardeio inglês, muitas acabam por cair de
abandono.
Este é o
caso de obras como a ponte do riacho Taipa, no Rio Grande do Sul, que
deveria facilitar o transporte na ER-132 e hoje não passa de escombros. É
também o caso a da ponte que liga os bairros de Iputinga e Monteira, no Recife, que sequer projeto possui, muito menos prazo para ser concluída.
Em meio à
Serra do Mar, em São Paulo, dois viadutos, de 100 e 360 metros,
simbolizam a desordem na gestão do governo federal. Estão há 40 anos abandonados, graças a uma mudança de rumo dos investimentos públicos ocasionada pela crise do petróleo.
8. Ferrovia Norte-Sul.
Ligar a
região Norte à região Sul do Brasil por meio de transporte ferroviário
pode parecer uma utopia em um país que notadamente relegou o
investimento ferroviário ao segundo plano. Na prática, porém, a história
está mais para uma distopia. Atrasos em ferrovias levam décadas, custam
bilhões, e deixam os entusiastas da área quase sempre decepcionados.
Graças à
não conclusão da obra, o país segue perdendo US$ 12 bilhões em negócios
que deixam de ser feitos e impostos que deixam de ser arrecadados.
No trecho
de 855 km entre Palmas (TO) e Anápolis (GO), a inauguração ocorreu em
clima de campanha, ainda em maio de 2014. Foram gastos R$ 4,2 bilhões,
apenas neste trecho. De lá pra cá, porém, quase nada da ferrovia foi de fato utilizado, exceto por alguns poucos comboios de farelo de soja.
Em apenas dois trechos da ferrovia, que juntos somam cerca de 30% do total, os sobrepreços já ultrapassam R$ 5,1 bilhões.
9. A aviação regional no Brasil não decolou.
Ligar o
país por meio da aviação regional parece mais um daqueles planos óbvios
que quando são vistos pela primeira vez você sempre se pergunta: afinal,
por que ninguém pensou nisso antes?
Companhias
de baixo custo, como a JetBlue (do mesmo fundador da brasileira Azul),
nasceram nos Estados Unidos, exatamente com o objetivo de atender este
mercado. Afinal, se podemos viajar para cidades menores no interior no
conforto de um avião, por que encarar horas e horas nas mal conservadas
estradas brasileiras?
Em Paris, no ano de 2012, a ex-presidente Dilma anunciou a construção de 800 aeroportos regionais. Dois anos depois, discretamente, a meta se tornou um pouco mais modesta: 270. Em 2015, sem construir nenhum, a meta se tornou menos ambiciosa: 190 até 2018.
Em 2016 porém, os planos megalomaníacos foram para a gaveta. Serão 53 aeroportos construídos até 2020.
10. Comperj
O convite
para que empreiteiras estrangeiras venham trabalhar no Complexo
Petroquímico do Rio de Janeiro é mais um capítulo na saga do que deveria
ser a maior obra brasileira, de proporções monumentais e uma das dez
obras que mais demandaram investimentos em todo o planeta.
Lançada em 2006, a obra era inicialmente prevista para custar US$ 6,5 bilhões. Hoje, porém, o custo está estimado em US$ 30,5 bilhões e a conclusão ainda é incerta.
No início
do projeto, a obra era tocada por ninguém menos que Paulo Roberto Costa,
um dos principais nomes envolvidos na Operação Lava Jato e então
diretor da Petrobras.
11. Uma triste realidade sobre o Brasil: não estamos preparados para receber extraterrestres.
Manter
boas relações diplomáticas com estrangeiros é, via de regra, uma
tradição brasileira. Não somos um país de entrar em conflitos e nos
orgulhamos disso. Nos últimos anos, por exemplo, inauguramos uma
embaixada na capital da Coréia do Norte, ao custo de alguns poucos
milhões.
Na teoria, o Brasil pretendia ajudar a Coréia do Norte a se sentir menos acuada e assim colaborar com a paz mundial.
EXTRAÍDADESPOTINKS
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