Jornalista Andrade Junior

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

11 obras públicas inacabadas que não param de sugar dinheiro do seu bolso

por Felippe Hermes

22 mil. Essa é a quantidade de obras públicas paralisadas ao redor do país. Muita coisa, não? O motivo é escandaloso: acredite, falta dinheiro para finalizá-las, não apenas planejamento. E não pense que é qualquer trocado. Segundo o governo, de R$ 10 mil a R$ 1 bilhão cada, dependendo da complexidade da empreitada.
Se lembra do PAC? Das dez maiores obras anunciadas pelo governo, apenas duas foram concluídas. Na área da saúde, a média é ainda pior: de cada dez obras prometidas, só uma conseguiu funcionar a pleno vapor até o momento.
O Brasil virou um grande canteiro de obras, sugando cada centavo do dinheiro dos pagadores de impostos. E aqui, nós separamos 11 dessas construções mastodônticas que não param de assaltar o seu bolso.

1. A ferrovia que só transporta forrozeiros: Transnordestina.

Idealizada para ligar os portos de Pecém, no Ceará, e Suape, em Pernambuco, além do Estado do Piauí, a Ferrovia Transnordestina deveria ser o maior projeto ferroviário do primeiro PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
No entanto, dos 1700 km projetados, apenas 600 km foram entregues até agora, mais de 10 anos após o início da construção. Com gastos de R$ 4 bilhões previstos inicialmente, R$ 6,2 bilhões já foram investidos e outros R$ 5,5 bilhões ainda devem ser necessários para a conclusão da obra (que está 52% terminada, uma vez que a parte de viadutos encontra-se mais avançada do que os trilhos).
Ao contrário do modelo tradicional de construção ferroviária, a Transnordestina não começou a ser construída do porto para o interior, mas na direção oposta. Caso optasse pelo modelo padrão, a ferrovia poderia ter começado a operar com meros 30 Km concluídos, ligando cidades do entorno de Suape ao porto, permitindo desafogar a logística na região.
Sua grande vantagem era o sócio privado, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), que, além de assumir parte dos gastos (25% do total), ajudaria a cobrar resultados. Para a CSN, porém, a obra foi um grande transtorno e colaborou significativamente para derrubar o valor de mercado da companhia, uma vez que os recursos drenados para a obra deixaram de ser investidos em áreas mais lucrativas, como a mineradora Casa de Pedra, seu principal ativo.
Com o caixa da mineradora vazio graças à queda no preço das commodities e o governo relutando em liberar mais recursos públicos, a obra começou a andar em marcha lenta. A siderúrgica fingia que pagava e a Odebrecht, responsável pela obra, fingia que produzia.
Apesar dos atrasos e do alto custo, a ferrovia não é de todo inútil: cerca de 300 mil pessoas já foram transportadas no chamado trem do forró, uma festividade que ocorre na época das festas juninas e que utiliza os trilhos da ferrovia para percorrer parte do interior dos 3 estados.

2. O estado que decidiu construir um aquário em meio à maior seca dos últimos 100 anos.

Que o Ceará possui uma vocação turística invejável, não há como negar. As belas praias do estado, como Jericoacoara e Canoa Quebrada, são reconhecidas mundialmente e atraem milhares de turistas todos os anos. Para o estado, porém, isto ainda é pouco. É preciso oferecer aos turistas opções para que permaneçam por mais tempo, consumindo e gerando empregos.
Com uma das menores dívidas do país, o estado se tornou um enorme canteiro de obras.
Proporcionalmente, nenhum governo brasileiro investia tanto quanto o cearense. O resultado de tanto espaço para se endividar foi um descomedimento por parte do governo, em especial na gestão do ex-governador Cid Gomes.
Em tese, o aquário deveria custar US$ 150 milhões, sendo US$ 105 milhões por parte do americano Ex-Im Bank e o restante vindo dos cofres estaduais. Os recursos do tesouro saíram. Já o financiamento estrangeiro, aguarda uma última etapa para liberação.
O sucessor de Cid, Camilo Santana (PT), considera a continuação da obra inviável. O investimento foi alto demais e o retorno tornou-se incerto. O que fazer com a obra então? Para o atual governador, a resposta é simples: privatizar.
Uma consultoria deve ser contratada para analisar os termos e então repassar a obra para a iniciativa privada.

3. O Metrô que levou 12 anos para ser inaugurado e ainda não está pronto.

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Iniciada em 2000, a obra do metrô em Salvador, capital da Bahia, deveria ser uma das maiores obras de mobilidade do país. Desde que a promessa surgiu, o projeto foi tema de três campanhas eleitorais estaduais e duas presidenciais. Na última delas, a ex-presidente Dilma Rousseff andava na linha 1, ainda inconcluída, para demonstrar a entrega do projeto.
Isto, porém, é apenas parte do que deve ser o metrô. A linha 2, que praticamente triplicará o número de usuários, ainda aguarda a conclusão de três estações e, se nada der errado, estará pronta em 2017, a tempo portanto de aparecer nas eleições de 2018 como uma grande conquista.
Para o New York Times, que deu destaque ao metrô da capital baiana em uma matéria sobre obras abandonadas e inacabadas no Brasil (ainda em 2014), o grande destaque era outro: o custo da obra triplicou. Deveria custar R$ 350 milhões na primeira fase, e saiu por R$ 1,4 bilhão.
A construção da obra reúne nada menos do que todas as cinco maiores empreiteiras do país em um único consórcio. Para o TCU, a obra contém superfaturamento em determinados trechos, motivo pelo qual a interrupção foi pedida em 2012, paralisando a obra.

4. A Transposição do São Francisco: já foi inaugurada, mas a conclusão ficou para 2018.

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Inaugurar obras incompletas não é nenhuma novidade quando se trata do Brasil. Inaugurações de trechos e promoção de múltiplos eventos tornaram-se um padrão para os últimos governos do país. Como já era de se esperar, o mesmo ocorreu com a transposição das águas do Rio São Francisco.
Idealizada no século XIX por Dom Pedro II, a construção começou a ser tocada em 2005 e, em 2007, foi incluída no PAC1. Entre 2005 e 2015, entre R$ 8,37 bilhões e R$ 9,5 bilhões foram investidos (sequer o valor gasto até aqui é conhecido com exatidão), mais do que o dobro do valor de R$ 4,5 bilhões previsto inicialmente. Para ser concluída, a obra ainda demandará R$ 1,1 bilhão.
Os desvios de recursos da obra já chegaram a ser alvo de uma operação da Polícia Federal, intitulada Vidas Secas. Em meio à seca que atinge a região Nordeste há pelo menos cinco anos, a obra ainda é uma promessa.

5. A refinaria que custou oito vezes o valor inicial previsto e levou calote do sócio.

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Um símbolo da união entre Brasil e Venezuela, a Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, chegou a ser inaugurada pelos presidentes dos dois países (Lula e Hugo Chávez). Era a primeira grande refinaria construída em décadas, com um orçamento de US$ 2,4 bilhões cedidos em parceria pela Petrobras e PDVSA, a estatal venezuelana de petróleo.
A ideia de refinar petróleo venezuelano, agregando valor a ele e ajudando os dois países a se tornarem menos dependentes dos preços internacionais não passou de um sonho. O pesadelo, entretanto, veio com a conta: a refinaria custará, segundo estimativas, US$ 20 bilhões quando estiver totalmente concluída. A parte da PDVSA, porém, não virá. A empresa deu oficialmente um calote na sua parte, mas contou com a generosidade brasileira: a Petrobras perdoou o calote e abriu mão de cobrar o valor.
As constatações de superfaturamento na obra, que já somam dezenas de denúncias, chegaram a ser julgadas pelo juiz Sergio Moro e já ultrapassaram a casa dos bilhões de reais.

6. Os parques eólicos que produzem energia que ninguém usa.

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Restam poucas dúvidas de que o setor de energia eólica realmente decolou no Brasil. Já foram dezenas de bilhões em investimentos apenas nos últimos dois anos e nada menos do que 166 parques construídos até 2015.
Construir um parque, no entanto, é apenas parte da questão. É preciso escoar a produção por meio de linhas de transmissão e é justamente aí que reside o problema. Segundo o TCU, o atraso médio na construção de usinas está em dez meses (para 88% dos casos), contra 14 meses de atraso médio nas linhas de transmissão. O resultado é um desencontro cujo custo chega em R$ 4 bilhões. Do total de parques já construídos, 34 apresentam falhas neste sentido.

7. A Ponte do Rio Que Cai.

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Clássico dos anos 50, “A Ponte do Rio Kwai” narra a saga da construção de uma ponte ferroviária na selva tailandesa durante a Segunda Guerra. Construída por prisioneiros ingleses a mando dos japoneses, a obra levou alguns poucos meses para ser erguida, até que é destruída pelos ingleses durante seu primeiro uso, para parar o avanço japonês.
Por aqui, sem estarmos em guerra – exceto com os políticos e a lentidão da coisa pública -, nossas pontes levam anos ou décadas para serem construídas e, sem necessitar de nenhum bombardeio inglês, muitas acabam por cair de abandono.
Este é o caso de obras como a ponte do riacho Taipa, no Rio Grande do Sul, que deveria facilitar o transporte na ER-132 e hoje não passa de escombros. É também o caso a da ponte que liga os bairros de Iputinga e Monteira, no Recife, que sequer projeto possui, muito menos prazo para ser concluída.
Em meio à Serra do Mar, em São Paulo, dois viadutos, de 100 e 360 metros, simbolizam a desordem na gestão do governo federal. Estão há 40 anos abandonados, graças a uma mudança de rumo dos investimentos públicos ocasionada pela crise do petróleo.

8. Ferrovia Norte-Sul.

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Ligar a região Norte à região Sul do Brasil por meio de transporte ferroviário pode parecer uma utopia em um país que notadamente relegou o investimento ferroviário ao segundo plano. Na prática, porém, a história está mais para uma distopia. Atrasos em ferrovias levam décadas, custam bilhões, e deixam os entusiastas da área quase sempre decepcionados.
Graças à não conclusão da obra, o país segue perdendo US$ 12 bilhões em negócios que deixam de ser feitos e impostos que deixam de ser arrecadados.
No trecho de 855 km entre Palmas (TO) e Anápolis (GO), a inauguração ocorreu em clima de campanha, ainda em maio de 2014. Foram gastos R$ 4,2 bilhões, apenas neste trecho. De lá pra cá, porém, quase nada da ferrovia foi de fato utilizado, exceto por alguns poucos comboios de farelo de soja.
Em apenas dois trechos da ferrovia, que juntos somam cerca de 30% do total, os sobrepreços já ultrapassam R$ 5,1 bilhões.

9. A aviação regional no Brasil não decolou.

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Ligar o país por meio da aviação regional parece mais um daqueles planos óbvios que quando são vistos pela primeira vez você sempre se pergunta: afinal, por que ninguém pensou nisso antes?
Companhias de baixo custo, como a JetBlue (do mesmo fundador da brasileira Azul), nasceram nos Estados Unidos, exatamente com o objetivo de atender este mercado. Afinal, se podemos viajar para cidades menores no interior no conforto de um avião, por que encarar horas e horas nas mal conservadas estradas brasileiras?
Em Paris, no ano de 2012, a ex-presidente Dilma anunciou a construção de 800 aeroportos regionais. Dois anos depois, discretamente, a meta se tornou um pouco mais modesta: 270. Em 2015, sem construir nenhum, a meta se tornou menos ambiciosa: 190 até 2018.
Em 2016 porém, os planos megalomaníacos foram para a gaveta. Serão 53 aeroportos construídos até 2020.

10. Comperj

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O convite para que empreiteiras estrangeiras venham trabalhar no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro é mais um capítulo na saga do que deveria ser a maior obra brasileira, de proporções monumentais e uma das dez obras que mais demandaram investimentos em todo o planeta.
Lançada em 2006, a obra era inicialmente prevista para custar US$ 6,5 bilhões. Hoje, porém, o custo está estimado em US$ 30,5 bilhões e a conclusão ainda é incerta.
No início do projeto, a obra era tocada por ninguém menos que Paulo Roberto Costa, um dos principais nomes envolvidos na Operação Lava Jato e então diretor da Petrobras.

11. Uma triste realidade sobre o Brasil: não estamos preparados para receber extraterrestres.

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Manter boas relações diplomáticas com estrangeiros é, via de regra, uma tradição brasileira. Não somos um país de entrar em conflitos e nos orgulhamos disso. Nos últimos anos, por exemplo, inauguramos uma embaixada na capital da Coréia do Norte, ao custo de alguns poucos milhões.
Na teoria, o Brasil pretendia ajudar a Coréia do Norte a se sentir menos acuada e assim colaborar com a paz mundial.



















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