editorial do Estadão
O Brasil já está reagindo e voltará a avançar neste ano, promete o governo, apoiado em alguns sinais positivos, na expectativa favorável de alguns setores e em medidas projetadas para animar os mercados, como a liberação de mais de R$ 30 bilhões de contas inativas do FGTS e mais estímulos à construção de imóveis. As projeções de crescimento continuam, na maioria, na faixa de 0,5% a 1% para 2017 e de 2% para 2018. Qualquer resultado acima desses números será um bônus, a julgar pelas condições atuais. Mas será necessário crescer muito mais apenas para voltar ao nível de produção de 2014, quando o País começou a afundar. Só no ano passado a economia afundou 4,55%, segundo o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), ou 3,6%, de acordo com o Monitor do PIB – FGV.
Os dois indicadores servem como antecipações, imperfeitas mas úteis, do relatório oficial do Produto Interno Bruto (PIB), produzido trimestralmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). As novas atualizações do IBC-Br e do Monitor saíram na manhã de ontem. As contas oficiais, elaboradas pelo IBGE, devem ser divulgadas no começo de março e muito dificilmente mostrarão um quadro muito melhor que qualquer dos cenários correntes no mercado.
Pelas contas do BC, a atividade recuou 0,26% de novembro para dezembro. A perda chegou a 0,36% no trimestre e a 4,55% no ano, na série livre de fatores sazonais. Na série sem o desconto da sazonalidade a retração atingiu 4,34% em 12 meses. Pelos cálculos da FGV, em dezembro o PIB foi 0,2% menor que em novembro. No trimestre, a diminuição foi de 0,89%. Em 12 meses, de 3,6%, número muito próximo da maior parte das estimativas divulgadas nos últimos meses por várias instituições.
Os cenários de forte retração publicados pelo BC e pela FGV são compatíveis, apesar de algumas diferenças nos detalhes, com os balanços parciais publicados até os últimos dias pelo IBGE. Segundo esses balanços, em 2016 houve recuos de 6,6% na produção industrial, de 5% nos serviços e de 8,7% nas vendas do varejo ampliado (com inclusão de veículos e de material de construção). O balanço da agropecuária, mais difícil de consolidar com os dados disponíveis, é amplamente negativo no caso da safra de cereais, leguminosas e oleaginosas, com redução de 12,2%, resultante em boa parte de condições desfavoráveis de tempo.
Os números muito ruins da indústria, do varejo e dos serviços combinam facilmente com o cenário do mercado de trabalho. O desemprego passou de 9% no trimestre final de 2015 para 12% um ano depois. A população desocupada chegou a 12,3 milhões nos últimos três meses de 2016, com acréscimo de 3,3 milhões em um ano. O rendimento real habitualmente recebido ficou estável, nesse intervalo, mas o número de pessoas com alguma remuneração diminuiu dramaticamente, a insegurança das famílias cresceu e o reflexo dessas mudanças é visível na contração do consumo de bens e serviços.
O desemprego ainda muito alto dificultará, quase certamente, a recuperação do consumo, embora haja sinais de melhora de expectativas dos consumidores. Mais investimentos na construção civil, na pauta de estímulos da política oficial, poderão apressar a melhora desse quadro. Do lado da empresa privada há pouca perspectiva, por enquanto, de reativação dos investimentos em máquinas, equipamentos e instalações, porque a capacidade ociosa ainda é ampla.
No ano passado, a formação bruta de capital fixo (investimento geral em atividades privadas e na infraestrutura) foi 10,2% menor que em 2015, segundo o Monitor da FGV. Foi mais um ano, portanto, de enfraquecimento da capacidade brasileira de produção de bens e serviços, uma grave limitação, portanto, do potencial de crescimento nos próximos anos. O Brasil precisará de muito mais que uma firme reativação em 2017 e 2018 para se tornar capaz de crescer, como outros emergentes, pelo menos 4% ao ano por um longo período. O objetivo, agora, é tirar o País da UTI. A recuperação total será muito mais trabalhosa.
extraídaderota2014blogspot
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