Jornalista Andrade Junior

sábado, 18 de fevereiro de 2017

"Ação de Temer pode ser inócua, mas mostra força da Lava Jato"

Igor Gielow: Folha de São Paulo

 A decisão do presidente Michel Temer (PMDB) de afastar ministros denunciados no âmbito da Lava Jato demonstra novamente o peso simbólico que a operação ganhou, para bem e para mal.
Na prática, o chefe do Executivo dá à Procuradoria-Geral da República um poder discricionário enorme. Se o procurador-geral, Rodrigo Janot, achar que os indícios contra um ministro são suficientes para denunciá-lo, isso significa que o sujeito está fora temporariamente. Se o Supremo concordar com ele e torná-lo um réu, será demissão.
Radical num ambiente de moral gelatinosa como o de Brasília, o movimento no entanto conta com a tradicional marcha lenta dos processos nas instâncias superiores.
No mês anterior à sua morte em um acidente aéreo, o então relator da Lava Jato, Teori Zavascki, apontava que a lentidão nas investigações era tão ou mais responsável pela morosidade no STF quanto o foro privilegiado em si. Apenas uma fração dos inquéritos que recebera até então havia gerado denúncia pela PGR.
Temer pode contar com isso. Seu governo tem pouco menos de 22 meses pela frente, e ministros enrolados que desejem ser candidatos no ano que vem terão de deixar o governo de qualquer jeito em abril de 2018. É um cálculo.
Mas o episódio demonstra também que Temer piscou. Foi cristalizada na opinião pública a impressão de que o governo aproveitou a melhoria no cenário político e econômico para avançar contra a Lava Jato.
A outorga do foro privilegiado a Moreira Franco, a ida de Edison Lobão para a CCJ do Senado, a indicação de Alexandre de Moraes para a vaga de Teori e a especulação sobre o perfil de quem iria para seu lugar na Justiça formaram um conjunto probatório coeso.
Mesmo negando querer interferir na Lava Jato, e descontando com o fato óbvio que tal acordão precisaria da adesão das instâncias de investigação, Temer ficou sem opção.
Foi bombardeado na mídia e, ainda contando com o apoio dos agentes econômicos, ouviu sirenes de alerta nos grupos de monitoramento qualitativo da reação ao noticiário. Para piorar, isso ocorre no momento em que policiais federais acusam a chefia da corporação de aderir ao tal acordão contra a Lava Jato.

Mesmo que acabe sendo inócua na prática, a medida demonstra que a Lava Jato pode ser atacada, e novos lances são previsíveis, mas que possui vida própria como régua moral residual no país.
























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