por João Domingos O Estado de São Paulo
Se de um lado o governo tem até conseguido boas notícias na economia – e num tempo relativamente curto, dado o caos em que Dilma Rousseff deixou o País –, de outro é de se perguntar como é que, com os problemas que tem em sua equipe de auxiliares, o presidente Michel Temer tenha conseguido dar alguns passos à frente, não uma monumental marcha a ré.
Porque parte do Ministério é quase um espanto.
Pra começar, com seis meses de governo (três na interinidade e três já efetivo) Temer perdeu seis ministros, três deles apor causa da Lava Jato e três por brigas entre si. Depois, saíram mais dois: Alexandre de Moraes para ocupar uma cadeira no STF e José Serra, por questões de saúde. A se julgar pelo andar do caixa 2, Eliseu Padilha não volta depois da licença que pediu.
A solução encontrada por Temer para montar o ministério tem seu lado peculiar. Dyogo Oliveira, que substituiu Romero Jucá, o primeiro a cair, pode bater o recorde de interinidade, pois até hoje não foi efetivado no Planejamento; já o deputado alagoano Marx Beltrão, que entrou no lugar de Henrique Alves, investigado pela Lava Jato, também é investigado no STF, só que por falsidade ideológica. Não se sabe até quando se sustentará no cargo. Segundo Temer, quem virar réu está fora.
Um pouco antes do início do julgamento de Dilma Rousseff pelo Senado e ainda antes de assumir interinamente, Temer começou a planejar sua equipe de ministros. A ideia é que fosse formada por “notáveis”. Uma semana antes do afastamento de Dilma, no entanto, Temer desistiu de seu ministério fora do comum e cedeu ao pragmatismo, segundo o qual o apoio e os votos no Congresso dependem do espaço dado a cada partido aliado.
No presidencialismo de coalizão, em que um governo só se sustenta se garantir uma gigantesca base de apoio no Congresso, é compreensível que o presidente escolha a equipe que mais lhe render votos. Esse é o jogo.
Temer, no entanto, quebrou algumas regras. Por exemplo: Pernambuco, que tem 25 deputados, recebeu quatro ministérios (Cidades, Defesa, Educação e Minas e Energia), sem contar que Roberto Freire, da Cultura, é pernambucano, embora seu colégio eleitoral hoje seja São Paulo. Alagoas, que tem oito deputados, ficou com dois ministérios (Transportes e Turismo). Minas Gerais, que tem 53 deputados, não emplacou nenhum.
É claro que a conta do toma lá, dá cá, não fechou. Desde então, o PMDB de Minas, que tem seis deputados, pressiona Temer por um ministério. Chegou até a pensar que levaria o da Justiça. Não levou. Temer nomeou para a pasta o deputado Osmar Serraglio, do Paraná. Os mineiros se revoltaram. Ameaçam o governo com a arma que têm, o voto. Talvez a reforma da Previdência pague o pato.
Se já era difícil entender o PMDB quando o partido não estava na Presidência da República, agora que chegou lá é que a coisa ficou complicada mesmo. O ministro Moreira Franco (Secretaria-Geral) criou uma impressionante celeuma ao dizer que o PMDB não fechará questão a favor da reforma da Previdência.
Deixemos de lado as suspeitas que pesam sobre Moreira na Lava Jato e o status de ministro que ele ganhou. Fiquemos no PMDB. Ora, Moreira preside a Fundação Ulysses Guimarães e é um importante quadro dirigente da legenda. Ao dizer que no partido cada um fará o que quiser, a impressão que fica é que Moreira está sabotando o governo de Temer. Assim como todos os partidos que integram a força política que está no poder, o PMDB também depende da aprovação das reformas para sobreviver em 2018. Deixar cada um votar como quiser na proposta que pode garantir o futuro do partido é uma imprudência.
extraídaderota2014blogspot
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