Jornalista Andrade Junior

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Seis notas

de Carlos Brickmann

Um bom político é o que cheira a direção do vento, ensinava Ulysses Guimarães, o lendário comandante da oposição civil à ditadura militar. O faro do próprio Ulysses falhou, e ele se candidatou à Presidência quando não tinha a menor chance. Michel Temer, que manteve unido o maior partido do país, que conseguiu aliar-se alternadamente ao PT e a Bolsonaro, que moveu os cordéis do impeachment e chegou à Presidência; e Lula, que tem a política no sangue e soube exercitá-la, ambos farejaram com atraso a direção dos ventos e pagam caro por isso.
Temer e Lula cometeram o mesmo erro: deixaram claro que seu objetivo não era político, era livrar-se de Sérgio Moro. Se Lula entrasse no Ministério de Dilma um mês antes, a acusação de que procurava proteger-se no foro privilegiado perderia muito de sua força. Mas resolveu esperar o Bessias (e ainda por cima combinar com Dilma, por telefone, como funcionaria a manobra). Se Temer tivesse colocado Moreira Franco como ministro, até seria criticado, mas ninguém iria acusá-lo de oferecer o foro privilegiado ao amigo. Moreira Franco entraria no pacote de Jucá, Padilha, Geddel e outras criaturas. E tanto Temer como Lula sabiam, muito antes que qualquer outra pessoa, o que é que tinham feito, e porque lhes seria difícil comparecer perante um juiz de primeira instância. Gerou-se a crise.
Como diria Vinícius de Moraes, de repente, não mais que de repente.

Trim, trim
Certa vez, Tancredo Neves disse que telefone só servia para marcar encontro, e no lugar errado. Para conversas sérias, jamais. Por que? “Eu fui ministro da Justiça e sei como são essas coisas”. Tancredo foi ministro da Justiça em 1954, há 63 anos, e já naquela época Havia “essas coisas”. Lula e Dilma falaram o que não deviam quando a tecnologia já tinha avançado.

Mas quem não é?
A Comissão de Constituição e Justiça do Senado ouvirá Alexandre de Moraes, indicado pelo presidente Michel Temer para o Supremo Tribunal Federal. O presidente da CCJ é Édison Lobão. E, dos seus 13 integrantes, dez respondem a processo no STF. E são eles que ouvirão um candidato a ministro do tribunal em que estão sendo processados.
Mas tudo bem: no Senado, o presidente, Eunício Oliveira, o líder do PMDB, Renan Calheiros, o líder do Governo no Congresso, Romero Jucá, e a líder do PT, Gleisi Hoffmann, na melhor das hipóteses estão entre os citados em delações premiadas. Mas há também investigados e indiciados na Lava Jato e operações correlatas. Atravessando os corredores, chega-se à Câmara – cujo presidente, Rodrigo Maia, é o próximo alvo da Procuradoria Geral da República, que já anunciou um pedido ao Supremo de abertura de inquérito contra ele.

O nome das coisas
A imprensa e os políticos em geral que perdoem esse colunista, mas no Espírito Santo não houve greve nenhuma: houve um motim, uma insurreição. É caso de prisão imediata dos amotinados, com julgamento pelo Regulamento Disciplinar do Exército. Há 700 PMs presos por insubordinação, mas são poucos diante do tamanho do motim.Cabe às Forças Armadas enquadrar os insurretos. As queixas sobre salários podem até ser justas, mas tropa armada não tem a greve entre seus direitos.

Com arma não se brinca
E o Governo Federal tem de tratar a população do Espírito Santo, no mínimo, com seriedade; lembrar do número de pessoas que morreram porque as autoridades, tão rígidas na hora de cobrar impostos, não conseguem sequer policiar as ruas. Enviar 300 agentes da Força Nacional ao Estado é brincadeira sem graça. Primeiro, porque os homens da Força Nacional não conhecem a região, suas peculiaridades, nada; segundo, porque 300 homens é o tamanho da tropa mobilizada para policiar o jogo Campinense x 13, de Campina Grande, Paraíba. Terceiro, a Polícia Militar capixaba tem 11 mil homens. Não vão resistir aos 300 de Brasília, vão?

Agora vai
Mas, justiça seja feita, mandar cinco ônibus de soldados para o Espírito Santo não foi a única providência do Governo Federal para restabelecer a paz. Houve também a importantíssima e corajosa medida de mudar o nome do Ministério da Justiça para Ministério da Justiça e Segurança Pública. É outra coisa. Voltando ao passado, imagine Renan Calheiros como “ministro da Justiça e da Defesa Pública”! E fora o temor que o novo nome causará nos policiais amotinados e nos bandidos, haverá outras consequências: trocar toda a papelaria do Ministério, para que as notas fiscais, por exemplo, já saiam com a nova identificação; mandar fazer aquelas belas letras de latão polido que identificam cada Ministério pelo lado de fora; trocar os cartões de visita dos altos escalões da Casa. É caro mas é bom.
















EXTRAÍDADEAUGUSTONUNESOPINIAOVEJA

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