editorial do Estadão
Com presteza que a conjuntura impunha à questão, o presidente Michel
Temer indicou na segunda-feira passada o ministro da Justiça, Alexandre
de Moraes, para preencher a vaga no Supremo Tribunal Federal (STF)
aberta com a morte do ministro Teori Zavascki. Justifica-se a escolha de
Alexandre de Moraes por seu currículo acadêmico e profissional e seu
trânsito na área política, significativamente maior do que o dos demais
candidatos ao cargo – e não foram poucos nem discretos. Mas Moraes é
também um risco por seu temperamento explosivo e exibicionista. De
resto, Alexandre de Moraes, constitucionalista como o próprio chefe do
governo, despontou desde sempre como depositário da confiança do
presidente da República, a quem cabe e de quem será cobrada a
responsabilidade pela indicação do novo integrante da Suprema Corte.
Político hábil e experiente, Michel Temer acabou fazendo a escolha que
lhe parecia mais acertada para as condições excepcionalmente complexas
impostas pela atual conjuntura político-institucional. Quando se trata
da escolha de um nome para vestir a toga no STF, desde logo se impõe uma
condição essencial: a qualificação jurídica do candidato. Alexandre de
Moraes preenche a condição. Formou-se pela Faculdade de Direito da USP,
onde graduou-se como mestre e doutor e hoje ministra aulas em sua
especialidade, o Direito Constitucional. Tem várias obras acadêmicas
publicadas, e uma delas, Direito Constitucional, está na 32.ª edição.
Quanto à qualificação política de Moraes, há quem considere que se trata
de questão impertinente à nomeação de um ministro togado. O cargo, de
fato, exige independência político-partidária de quem o ocupa. Mas de um
ministro do Supremo se exige, simultaneamente, que tenha, muito claros,
pensamento e ação política em sentido amplo, de visão do mundo. Já há
quem esteja argumentando – muitos com motivação exatamente
político-partidária – que Alexandre de Moraes não pode ser ministro do
STF porque é militante tucano. De fato, para tomar posse na Suprema
Corte depois de ter seu nome aprovado pelo Senado, o indicado de Temer
terá que se desligar do PSDB. Da mesma forma como Dias Toffolli precisou
se afastar, formalmente, do PT quando foi nomeado por Lula. O mesmo já
ocorrera, dentre outros, com os ministros Paulo Brossard e Nelson Jobim,
ambos inscritos no PMDB. A história da Suprema Corte está repleta de
exemplos de políticos que, para ela nomeados, tornaram-se juízes
exemplares pela imparcialidade.
O que deve existir e persistir, repetimos, é uma condição política lato
sensu que não pode ser ignorada, em qualquer tempo, por qualquer
presidente, na escolha de ministros da Suprema Corte. Uma sociedade
democrática é aquela em que divergências são naturais, desejáveis, e é
próprio do líder democrata politicamente competente saber buscar o
entendimento, preservar a unidade na diversidade. Um dos fatores
preponderantes dessa escolha é a identidade de pontos de vista – de
visão de mundo – compartilhada pelo presidente e pelo indicado. E isso
não é um vício do sistema – é, antes, uma garantia de estabilidade.
Temer assegurou-se disso também por meio de amplas consultas, de modo
especial, nos círculos partidários e judiciários. Observou
tranquilamente a multiplicação de candidatos promovidos pelos interesses
mais diversos – e, repetimos, eles foram muitos – e chegou às suas
próprias conclusões. Se acertou, o futuro dirá.
Pode-se, no entanto, desde já, dizer que o presidente da República teve a
sabedoria de estabelecer como condição para a indicação de seu
candidato a definição prévia, pelo STF, de quem herdaria a relatoria dos
processos da Lava Jato. Se não tivesse tomado essa cautela e cedido à
tentação de ver seu indicado assumir automaticamente o lugar de Teori
Zavascki, Temer levantaria sobre si a suspeita – e, daqueles de quem não
se poderia esperar outra coisa, a acusação – de manobrar para colocar
seus amigos e correligionários, e a si mesmo, a salvo das investigações
da Lava Jato sobre a corrupção que se tornou método político e
estratégia de consolidação de poder a partir do advento do lulopetismo.
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