editorial de O Globo
Trunfo do Rio de Janeiro na negociação com o governo federal para aderir
ao programa de recuperação fiscal, a Cedae é um dos pontos nevrálgicos
do ajuste pelo qual o estado precisa passar. Há a resistência
corporativista, como toda vez que uma empresa pública caminha para a
privatização, e existem também cuidados com a forma como este patrimônio
será usado no processo de recuperação de um estado que acumulará até
2019 um déficit de R$ 62,4 bilhões.
Para chegar a este ponto, foram cometidos muitos erros de gestão. Um
deles, apostar em volumes crescentes de royalties, quando a revolução
do shale gas (gás
não convencional) já acontecia nos Estados Unidos, e portanto era
possível antever que o preço internacional do petróleo cederia. Tão
grave quanto isso foi usar dinheiro dessa fonte de recursos não estável
para aumentar a folha de salários e de benefícios previdenciários,
gastos engessados por força de lei.
Segundo o acordo feito entre o governador Luiz Fernando Pezão e o
ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, sob as bênçãos do presidente
Michel Temer, a Cedae será cedida à União para servir como garantia a
empréstimos ao estado num total de R$ 3,5 bilhões, para colocar em dia
salários e benefícios previdenciários. É óbvia a importância desta
operação a fim de apaziguar os ânimos no extenso universo do
funcionalismo público estadual.
A corporação dos servidores da estatal se mobiliza, mas não há
alternativa. Em princípio, o governador Pezão, devido a compromissos
eleitorais, foi contra a abrir mão da Cedae. Mas deve ter concluído que
não há saída.
Para a população é bom negócio que a estatal venha a ser privatizada.
Há, inclusive, um plano competente no BNDES desenhado para a empresa —
assim como para outras companhias de água e esgoto controladas pelo
poder público.
Passar suas operações a capitais privados é a melhor maneira de elevar
seus baixos índices operacionais. Haja vista outras experiências feitas
no próprio Rio de Janeiro. Niterói, por exemplo, onde a atividade foi
privatizada, está na relação das 15 cidades de melhor padrão de
saneamento básico do país. O Rio, em que a Cedae tem grande operação, é a
50ª.
O prefeito Marcelo Crivella, do Rio, cidade em que a empresa tira a
maior parcela de sua receita, quer discutir o negócio. O mesmo ocorreria
entre prefeitos da Baixada Fluminense.
Pode ser que este movimento atrase ainda mais o resgate do estado,
porém, haja o que houver, o governador Pezão precisa ter consciência de
que tem de fazer o ajuste que negociou em Brasília. Caso contrário,
voltará a faltar dinheiro para servidores e aposentados, e tudo o mais,
sem que haja outra Cedae para servir de garantia a novos empréstimos.
O presidente da Alerj, Jorge Picciani, do PMDB de Pezão, se declara mais
tranquilo agora do que na primeira tentativa, infrutífera, de aprovar o
pacote de ajustes. Picciani argumenta que, desta vez, há o que oferecer
em troca: a regularização dos pagamentos de folhas.
Que esteja seguro, porque, se não houver o aumento da contribuição
previdenciária e cortes de comissionados, por exemplo, apenas será
adiada a falência dos serviços públicos.
extraidaderota2014blogspot
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