Jornalista Andrade Junior

sexta-feira, 25 de março de 2016

O torneio dos judas -

RUY CASTRO Folha de SP

Amanhã, Sábado de Aleluia, é dia de malhação do judas. É um rito secular, em que os católicos se vingam de Judas Iscariotes, o apóstolo que, segundo os autos, entregou Cristo aos romanos e o levou à crucificação. Judas é representado por um boneco recheado com trapos, jornais ou serragem, arrastado pelas ruas, pendurado num poste, xingado, cuspido, surrado pela multidão e, por fim, queimado. Mas não mais por ser traidor. O judas moderno tornou-se apenas alguém que as grandes massas estejam odiando. O ex-treinador Zagallo cansou de servir de judas.

Ouço dizer que, nas últimas décadas, a malhação do judas declinou no Brasil. Não por falta de judas a malhar, mas pela perda de fiéis entre os católicos. Além disso, o valor pelo qual Judas vendeu Cristo – 30 dinheiros, a moeda da época – ficou insignificante. Em seu tempo, daria para levar Maria Madalena para jantar à luz de velas no melhor restaurante de frente para o mar Morto. Hoje não pagaria nem um cafezinho na cadeia para Delcídio, Vaccari, Dirceu e outros guerreiros do povo brasileiro.

Mas tradição é tradição e vice-versa, e quero crer que a conjuntura tem oferecido motivos para que a malhação do judas volte amanhã ao seu esplendor. Candidatos ao boneco abundam nas duas correntes em litígio.

A julgar pelas passeatas antipetistas, em que somente Lula e Dilma são contemplados com pixulecos – os bonecos infláveis gigantes, agora também em versão portátil –, são eles os únicos com potencial para surras (os outros nomes do PT se volatizaram). Já os petistas, podendo escolher entre FHC, Aécio Neves e Geraldo Alckmin como suas "bêtes noires", certamente se concentrarão no juiz Sergio Moro.

As manifestações de rua têm sido comparadas por números. Talvez seja o caso de, neste sábado, se fazer também a contagem dos judas. 













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