Pedro Marcondes de Moura IstoÉ
Os privilégios recebidos pela família do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no caso do tríplex do Guarujá vão além de reformas pagas pela OAS. O projeto inicial do condomínio Mar Cantábrico – renomeado Solaris – foi alterado pela Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo (Bancoop) para se ajustar a exigências de Lula e da ex-primeira-dama Marisa Letícia. É o que apontam documentos enviados pelo Ministério Público paulista à força-tarefa da Lava Jato. IstoÉ teve acesso a dois deles. O primeiro é o depoimento do corretor Temoteo Mariano.
Por anos, ele intermediou a aquisição de terrenos para a cooperativa. Em 2003, participou da compra da área em que foram erguidas as duas torres do condomínio Solaris.
Temoteo afirmou, diante dos promotores em fevereiro, que o empreendimento fora alterado pela Bancoop para garantir o desejo de Lula de ter uma cobertura de frente para o mar. Mudanças que trouxeram prejuízos a cooperados e contaram com a participação do ministro e ex-dirigente da cooperativa, Ricardo Berzoini.
COM VISTA PARA O MAR
No depoimento, Temoteo afirma ter sido “o primeiro a comprar um imóvel naquele empreendimento”, em 2003. Adquiriu um apartamento de frente para o mar no 10º andar da torre hoje chamada Salinas. Mas desfez o negócio em poucos meses, após a Bancoop adotar uma medida controversa. Mudou a localização dos quatro apartamentos de cada pavimento para beneficiar o líder petista. “O ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, através de Ricardo Berzoini, era um dos aspirantes a uma unidade no prédio defronte ao mar”, afirma.
“Desde o início do empreendimento Mar Cantábrico já havia a prévia solicitação do ex-presidente por uma cobertura. Ocorre que as unidades defronte para a praia já estavam vendidas.”, diz. Nada que o companheirismo da cooperativa ligada ao PT não pudesse resolver.
A Bancoop modificou “a numeração dos apartamentos constantes do projeto original, ou seja, quem comprou as unidades finais 1 e 2 passou a ter a vista traseira e quem comprou as unidades finais 3 e 4, passou a ter a vista frontal para a praia.” O tríplex que, para os investigadores, pertence a Lula é o 164A.
APARTAMENTO DEVOLVIDO
Outro ex-proprietário confirmou a inversão das unidades ao MP. Em 3 fevereiro, o corretor José Roberto Maifrino, que trabahou para a Bancoop, disse ter exigido a devolução das oito parcelas pagas após descobrir que seu apartamento de final 2 não teria vista para o mar. Procurou Carlos Della Libera, da empresa Dellpar, para entender a razão da mudança. A firma, diz, desenvolvia empreendimentos com a Bancoop. A resposta veio sem rodeios. Carlos Della Libera disse que “Tomas (Edson Botelho Fraga, ex-diretor da Bancoop) mandou avisar que era para mudar de empreendimento, porque questões internas da Bancoop sinalizavam a necessidade de mudança de posição dos apartamentos”, afirma.
A mudança privilegiava, além de Lula, outros integrantes da cúpula da cooperativa. Nos depoimentos, Temoteo e José Roberto revelam que a Bancoop fez outra alteração na planta. Não existiam tríplex, como o de Lula, no projeto do condomínio Mar Cantábrico – renomeado Solaris. Os maiores apartamentos eram duplex. “Com a construtora antiga, que não era a Archtech nem a OAS, havia a previsão de duplex e não tríplex”, afirmou Temoteo ao MP. Autoridades desconfiam que o acréscimo de um andar nos apartamentos da cobertura foram feitos para atender, entre outros, à família Lula. “São afirmações importantes, eles conhecem a história do empreendimento desde os primórdios”, diz o promotor paulista Cássio Conserino.
ANTERIOR AO PETROLÃO
“Estas e outras oitivas, além de documentos, revelam que o favorecimento ao casal é bem anterior ao Petrolão”, complementa. Para Conserino, os relatos obtidos nestes e em outros depoimentos jogam pá de cal na versão do ex-presidente de que ele teria comprado, apenas uma cota de outra unidade em 2005. A defesa de Lula diz que ele e Marisa não optaram por ficar com esta unidade nem por receber o dinheiro de volta quando a Bancoop transferiu o empreendimento inacabado à OAS em 2009. Outros proprietários foram obrigados a decidir em 30 dias sob o risco de perder o dinheiro. Em 2014, Lula, Marisa e um filho do casal foram vistos no tríplex. A primeira-dama acompanhou a reforma do imóvel, que custou mais de R$ 700 mil e foi paga pela OAS.
O MP-SP pediu a prisão preventiva do ex-presidente no caso do tríplex no Guarujá na quarta-feira 9. Lula teria cometido os crimes de falsidade ideológica e lavagem de dinheiro. A Justiça, no entanto, enviou a denúncia ao juiz federal Sergio Moro, que cuida da Lava Jato.
Na terça-feira 22, o ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, determinou que a investigação fosse remetida ao STF. No meio jurídico, no entanto, é dado como certo que as investigações sobre o tríplex voltarão aos domínios de Sergio Moro.
EXTRAÍDADETRIBUNADAINTERNET
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