13 mil famílias deixam lista da miséria após extra de R$ 2
Folha transparência
Aporte é feito por programa do governo federal que visa erradicar pobreza extrema
Efeito estatístico se dá porque piso de R$ 70 per capita é superado; economistas dizem que não é só renda que conta
Daniel Carvalho - enviado especial do Piauí "Com R$ 2 não dá para comprar nem meio quilo de frango. Comprei um coco hoje com R$ 2", afirma Luiza Sousa, 51, desempregada em Demerval Lobão, no Piauí. - Folha de São Paulo -
Para o governo, ela e seus quatro filhos deixaram
de ser "miseráveis" no fim de 2012, quando passaram a receber, cada um,
R$ 2 mensais do programa Brasil Carinhoso.
Com esse programa, famílias já beneficiadas pelo Bolsa Família recebem um complemento financeiro para tecnicamente deixar a miséria. Segundo os critérios do governo, uma família com renda mensal de até R$ 70 por pessoa é "miserável".
Com esse programa, famílias já beneficiadas pelo Bolsa Família recebem um complemento financeiro para tecnicamente deixar a miséria. Segundo os critérios do governo, uma família com renda mensal de até R$ 70 por pessoa é "miserável".
Luiza já recebia R$ 140 do Bolsa
Família. No final do ano passado, os R$ 2 do Brasil Carinhoso foram
somados ao benefício, a doações e ao que ela, como lavadeira, e o filho
mais velho, como caseiro, conseguem com bicos.
Com
esses R$ 2 extras, Luiza e seus filhos passaram a engrossar a
estatística oficial, que comemora 16,4 milhões de "ex-miseráveis" apenas
nos últimos sete meses.
Próximo à Luiza
vivem Joelina Maria de Sousa, 31, e a filha Jucélia, 7, que também
receberam R$ 2 para sair oficialmente da miséria.
Para
o governo, por exemplo, um casal com três crianças com renda mensal de
R$ 350 é "miserável" (R$ 70 por pessoa). Com mais R$ 2 do Brasil
Carinhoso, atinge R$ 352 e deixa oficialmente a "miséria" (com renda de
R$ 70,40 por pessoa).
Segundo dados do
programa obtidos pela Folha com base na Lei de Acesso à Informação, as
piauienses Luiza e Joelina e outras 13,1 mil famílias em todo o país
recebem R$ 2 por mês para integrar essa estatística que ajuda Dilma a
chegar perto de sua promessa: acabar com essa "miséria" até o "início de
2014".
O programa foi lançado em meados do ano passado com o objetivo de erradicar a pobreza extrema.
"Quando
a gente tem essa preocupação de retirar da miséria (...) estamos não só
praticando um ato moral, um ato ético, mas, também, nós estamos olhando
para o futuro do Brasil", disse a presidente Dilma em recente discurso
em Teresina (PI).
Complementar ao Bolsa
Família, o benefício do Brasil Carinhoso varia de R$ 2 a R$ 1.140, sendo
que esse valor máximo é pago a apenas uma única família, segundo mostra
documento do programa ao qual a reportagem teve acesso. O valor médio
do complemento é de R$ 86.
Em média, uma família beneficiada pelo Bolsa Família e pelo Brasil Carinhoso recebe R$ 245 ao mês do governo.
METADe acordo com o Ministério do Desenvolvimento Social, há ainda cerca de 600 mil famílias na extrema pobreza em todo o país. Antes do lançamento do Bolsa Família, em 2003, havia 8,5 milhões de famílias nessa situação, segundo a pasta.
Economistas ouvidos pela
Folha dizem que é preciso levar em consideração outros aspectos, além da
renda da família, para se falar em erradicação da miséria.
"A
saída da pobreza, efetivamente, é quando a pessoa tem condições de
moradia, vestuário, educação, saúde e emprego para poder se
autofinanciar", diz Socorro Lira, coordenadora do doutorado em
Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Federal do Piauí (UFPI).
Jaíra
Alcobaça, também da UFPI, afirma que iniciativas que trazem algum tipo
de melhoria de vida são válidas, mas precisam ser encaradas como
políticas emergenciais e também deveriam levar em conta as diferenças
regionais.
As avaliações remetem à piauiense
Luíza. Ela recebeu a Folha na casa de tijolos em que vive há dois anos. O
imóvel foi erguido pelo irmão após a casa de taipa desmoronar.
Na cozinha, ela tinha pão, dois cocos e um pouco de arroz. "Só não fico sem porque como na casa da minha mãe", diz Luiza.
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