Proposta indecente
O Estado de S.Paulo
O
governo federal propos ao governo de São Paulo a ocupação
militar da Favela de Paraisópolis, onde atuam chefes do PCC, principal
organização criminosa do Estado. Conforme afirmou a titular da
Secretaria Nacional de Segurança Pública, Regina Miki, a ação seria
semelhante à que resultou na "pacificação" do Complexo do Alemão, no Rio
de Janeiro, em novembro de 2010. Trata-se de uma ideia de quem não
conhece São Paulo.
O modelo adotado no Rio é o de recuperação de
território perdido para o narcotráfico. Para isso, as favelas (chamadas
ali de "comunidades") estão sendo ocupadas pela tropa de elite da
polícia fluminense, com o apoio das Forças Armadas e da Força Nacional
de Segurança Pública, obrigando os bandidos a abandonar o local. Em
seguida, instalam-se as já famosas Unidades de Polícia Pacificadora
(UPPs). Não é uma ação que vise prioritariamente a prender traficantes,
mas sim restabelecer a presença do Estado em áreas nas quais sua atuação
era inviabilizada pelo crime organizado.
Em
São Paulo o Estado está presente nas favelas, que não são territórios
controlados pelas organizações criminosas. Os chefes do narcotráfico
utilizam as favelas como esconderijo e base para sua atuação, mas não se
impõem como substitutos do Estado, como acontece nos morros do Rio. Uma
vez denunciados pelos moradores, o que ocorre com frequência, esses
criminosos são presos.
Nada disso impede a
secretária Regina de fazer a "oferta" a São Paulo. "É uma crise. A gente
estanca a crise e sai de lá (da favela), porque entende a autonomia e a
competência do Estado", afirmou ela ao Estado. "A gente fez isso no
Rio. Você faz a dosimetria das forças, analisando cada caso." Regina
reconheceu a "expertise em segurança" de São Paulo, mas disse que os
policiais estão com "medo por eles e pela família deles", referindo-se
aos ataques contra Policiais militares (PMs) na região metropolitana.
A
reação do governo paulista foi imediata e dura. Para o secretário de
Segurança Pública, Antonio Ferreira Pinto, somente quem não conhece
Paraisópolis ou mesmo São Paulo poderia ter feito semelhante proposta.
"É uma comunidade de 70 mil habitantes. Temos base da PM funcionando lá
dentro, guardas-civis metropolitanos, escolas, postos de saúde e
diversos equipamentos", disse Ferreira Pinto. O secretário acusou o
governo federal de querer "desconstruir a segurança pública" em São
Paulo.
Há um evidente odor político na
"oferta" do governo federal a São Paulo. As UPPs, convém lembrar, são
uma patente do governador Sérgio Cabral (PMDB), grande aliado do governo
petista, e sua suposta eficiência foi festejada a tal ponto que se
tornou a principal promessa da campanha presidencial de Dilma Rousseff
para a área de segurança. Logo no início do mandato, a presidente
incluiu o projeto na segunda fase do PAC, mas, 15 meses depois, a
instalação nacional de UPPs foi abandonada, por sua óbvia inviabilidade.
Mais do que isso: os cortes no Orçamento federal atingiram o Programa
Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci), e os Estados que
decidiram abraçar a ideia das UPPs tiveram de fazê-las com recursos
próprios. Na Bahia, o governador Jaques Wagner (PT) precisou passar o
chapéu entre empresários para construir as unidades.
Como
se nota, a atual situação de confronto com o crime organizado em São
Paulo, com o acentuado aumento do número de homicídios, animou o governo
Dilma a oferecer a "ajuda" que o próprio Planalto sabe não ser viável.
Logo, trata-se de "oportunismo barato", como salientou, corretamente, o
secretário Ferreira Pinto.
A crise enfrentada
pelos paulistas na segurança pública não pode ser transformada em peça
de jogo político, ainda mais quando agentes do Estado são executados
sistematicamente por bandidos. Na quinta-feira, mais dois policiais
militares à paisana foram mortos em São Paulo, na Favela de Heliópolis,
elevando para 88 o número de PMs assassinados apenas neste ano. A
exploração dessa onda de terrorismo contra policiais, com inconfessável
objetivo político, é simplesmente indecente.





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