Jornalista Andrade Junior

domingo, 29 de julho de 2018

PT difunde narrativa manipulada para cooptar militantes na defesa de Lula

Pablo Ortellado

Na última semana, descobrimos que Lula deve empurrar sua candidatura até o último momento e deve concorrer com um programa muito parecido com o que praticou nos anos 2000. Essa estratégia é fruto de uma armadilha retórica na qual o PT se emaranhou.
Desde que foram forçados a retomar a mobilização, para se contrapor aos protestos que pediam o impeachment, os petistas difundiram uma narrativa, a narrativa do golpe, uma estratégia discursiva para assustar a militância de esquerda e cooptá-la na defesa do legado lulista.
DEFESA FALSA – A narrativa tenta interpretar todo o processo político recente como uma orquestração conservadora contra os avanços sociais dos governos de esquerda. Segundo ela, a Lava Jato não teria desvelado um gigantesco esquema de corrupção na Petrobras, mas seria apenas uma armação sem fundamento para perseguir o PT.
Dilma Rousseff não teria sofrido um impeachment porque seu partido se enredou em corrupção e um movimento de massas se levantou contra ele, nem porque perdeu completamente o controle do Congresso por pura incapacidade política, nem por ter cometido erros grosseiros de condução da política econômica, nem por ter traído seu programa eleitoral tão logo reeleita.
O que aconteceu, segundo a narrativa, foi que as elites não teriam tolerado o avanço social dos programas petistas e forjaram uma coalizão com o Judiciário, a oposição e a imprensa para derrubar Dilma e impedir novos governos de esquerda.
MAIS ILUSIONISMO – Às vezes, a narrativa faz parecer que programas como o Fies, o Bolsa Família e o Luz para Todos foram tão revolucionários que teriam ameaçado o status quo. Outras vezes, ela faz parecer que nossa elite é tão reacionária que não toleraria mesmo programas moderados e ambivalentes.
De qualquer maneira, a corrupção com a qual o PT se envolveu e os graves erros do governo Dilma são jogados para debaixo do tapete e toda a responsabilidade pelo fracasso passa a ser da oposição.
A crença na narrativa é ambígua. Por um lado, como se acreditassem nela, rebaixam as expectativas, fazendo crer que o que tivemos com Lula é tudo o que é possível fazer —qualquer proposta mais ousada, as elites simplesmente não autorizariam.
JOGO ELEITORAL – Por outro lado, como se não acreditassem tanto nela, rejeitam uma ruptura institucional, optando por jogar o jogo eleitoral supostamente viciado, inclusive buscando o apoio de políticos “golpistas”.

Embaraçado pela própria narrativa, o PT, com Lula ou sem Lula, deve reeditar um programa gasto e limitado, projetando um horizonte de mudanças muito aquém da urgência social imposta pela desigualdade brasileira.




















EXTRAÍDADETRIBUNADAINTERNET

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