Jornalista Andrade Junior

domingo, 29 de julho de 2018

A DIFERENÇA ENTRE FALAR E FAZER

por Valdir Reginato

Uma famosa orientadora educacional tinha uma agenda tão apertada, que necessitou contratar três babás para os seus três filhos. Isso pode parecer uma piada, mas é fato que conhecemos pessoas que falam demais daquilo que nunca, ou pouco, praticaram. Geralmente, são pessoas com uma oratória perfeita e cativante, afetiva e emocional, com argumentações e respostas para todas as circunstâncias daqueles que seguem seus conselhos.
Se nos dedicamos demais a estudar e a ensinar o assunto, nos afastamos dos próprios filhos. Perdemos o contato com a realidade pessoal e assumimos o risco de verificarmos em nossos filhos erros que, insistentemente, procuramos prevenir nas outras famílias. Associar ao magistério do ensino a prática pessoal torna-se indispensável para que se verifiquem as dificuldades reais pelas quais passam muitos dos ouvintes. Isso exige uma dedicação pessoal extraordinária. É verdade que existem inúmeros professores e educadores que, sem filhos, dedicam-se a palestras e pesquisas sobre filhos. É diferente. Mas a convivência com famílias, para esses professores, é indispensável para que possam avaliar melhor suas teorias e orientações. Orientações nascidas em “gabinetes do conhecimento”, onde só entram teorias e sonhos, distantes da realidade, estão fadadas, na sua maioria, a se afastarem da verdade.
Nos “gabinetes do conhecimento”, pessoas fechadas em suas ideias e teorias ficam muito distantes do caso concreto. Na pesquisa científica, toda hipótese teórica deve emergir de uma questão, fruto da observação de um fenômeno ocorrido. É fundamental o contato com a realidade que nos desafia, mesmo com uma pesada carga de estudos, trabalhos, pesquisas, cursos e congressos. O mestre jamais deve esquecer da necessidade imprescindível de viver o real. Os pais com os filhos, os professores com estudantes, os médicos com pacientes, etc. Quando idealizamos teorias sem esse princípio, construímos ideologias, ou seja, uma teoria ideal para qual a realidade deve se adaptar. Não é difícil de se constatar isto atualmente.
Dentre os idealizadores e defensores da ideologia de gênero estão aqueles que imaginaram algo que não se faz evidente na história da humanidade e no mundo todo. E agora precisam colocar toda a história do mundo dentro da ideologia criada, distante da realidade. Busca-se hoje, com saudosismo, a humanização. O ser humano se desumanizou com a tecnologia, com a informática, e precisamos nos humanizar. Tamanha necessidade está levando o homem a gastar cada vez mais esforços e horas de trabalho em investimentos para confeccionar robôs humanizados. Incrível! Robôs humanizados que possam ser mais amigos, generosos, compreensíveis com os seres humanos que estão abandonados com seus milhares de amigos do Facebook, ou solitários cercados de inúmeros aparelhos de comunicação. É a fuga completa do conceito em presença de uma realidade concreta, de uma sociedade que não convive mais entre si humanamente.
É a diferença entre falar e fazer. Não nos ocupamos dos próprios filhos, mas aconselhamos o mundo todo. Não valorizamos a masculinidade e a feminilidade na constituição da família, e surgem aqueles que passam a falar de ideologias esdrúxulas para as questões de sexo. Não se tem mais tempo para um “bate-papo” descompromissado, uma conversa de amigos, uma boa discussão entre pais e filhos, porque se está trabalhando muito para criar robôs que sejam nossos amigos, virtuosos, que nos orientem com o rigor científico da certeza e uma inesgotável paciência de seus circuitos, devidamente escondidos em corpos plásticos feitos a imagem do homem.
Raríssimas vezes Santa Madre Teresa de Calcutá parou para falar. No seu curriculum não constam palestras, aulas ou participações em congressos sobre a importância da fraternidade e da generosidade. Não conheço um livro ou artigo escrito e publicado por ela que tenha tido essa finalidade. No entanto, estava presente na intimidade da realidade mais pobre do planeta. Trabalhava com aqueles que eram invisíveis ao mundo. Pessoas que mal tinham capacidade de ouvir, falar ou agradecer. Lá estava a sua autoridade, na ação silenciosa, eficaz e cativante, que, de fato, ajuda a transformar a miséria da humanidade em um mundo melhor.
*Médico de Família, professor da Escola Paulista de Medicina e Terapeuta Familiar
**Publicado originalmente em http://www.osaopaulo.org.br/colunas/a-diferenca-entre-falar-e-fazer





















extraídadepuggina.org

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