por William Waack
Supõe-se que o campo das disputas políticas, especificamente eleições,
seja o das decisões frias. Não é à toa que boa parte do vocabulário
venha da linguagem militar e do pensamento clássico sobre estratégia,
pois trata-se de ganhar uma batalha. Nesse sentido, a expressão mais
consagrada é a de um general prussiano do século 19, Helmuth von Moltke
(“O Velho”): nenhum plano resiste ao primeiro contato com o adversário.
Antes de mais nada, um recado: vou me concentrar aqui nos personagens
políticos que estão pontuando melhor nas pesquisas. Não importa a
simpatia e admiração que se possa ter por movimentos autênticos de
renovação de métodos e ideias, e o essencial exemplo de engajamento
político de milhares em torno de propostas modernas – e o que isso
aponte de positivo para a futura política brasileira – o peso desses
movimentos nas próximas eleições estará ainda bem aquém das elogiáveis
ambições de seus participantes.
Vamos tentar limpar a “verborragia” típica de candidatos, exacerbada com
a revolução digital (que incentiva a produção de “soundbites” de 10
segundos para viralização em redes sociais) e focar no que são planos
nítidos de combate. O balé do Centrão é, em primeiro lugar, com a quase
infinita possibilidade de alianças e parcerias, o espelho fiel da
maçaroca ideológica brasileira, impossível de ser corretamente definida
pelos termos “direita” e “esquerda”.
Em segundo lugar, essa movimentação é a evidência de que todos calculam
friamente que elementos do sistema (tempo de TV, acesso a fundos com
dinheiro público e controle de pedaços da máquina governamental) trazem
vantagens na disputa eleitoral. E, eventualmente, na capacidade de
governar em 2019. É o plano óbvio de Geraldo Alckmin, mas também de Ciro
Gomes (que sai em desvantagem), assim como é bastante óbvio o plano de
candidatos que se apresentam como “de fora” (não importa se de fato o
são, o que importa é a percepção) – Marina Silva e Jair Bolsonaro. É a
aposta na capacidade de mobilização através de tecnologias digitais, e o
uso do que identificam como qualidade própria de atender à “demanda” do
eleitorado por limpeza “do que está aí”.
A potência dessas “armas” será testada no confronto direto que se inicia
agora, e meu palpite é o de que miséria, pobreza e infraestrutura
precária ainda dão bastante peso ao dinheiro para campanhas e ao tempo
de TV, fatores ligados, porém, às qualidades de cada personagem (Chuchu
conquistará paladares?) e subordinado ao que todos os generais
inteligentes já admitiam desde que batalhas existem, ou seja, que a
guerra é o terreno da sorte, do acaso e do imponderável (como a Lava
Jato, por exemplo).
E como é que fica com os planos do PT, uma força que não se pode
negligenciar? Por enquanto parece-me o cálculo menos “frio” de todos,
pois emana do fígado de Lula, o chefe da seita. A dificuldade com o
atual “plano” fixado em Lula é o problema que os estrategistas chamam de
confusão entre meios e fins: o plano é usar Lula como arma de
transferência de votos (que, sem dúvida, ele é) ou só o de livrar Lula
da cadeia? Até agora, serviu para isolar a agremiação política e dar
conforto a seus adversários.
Diante do quadro ainda indefinido das eleições, saborosas frases antigas
sobre como ganhar batalhas continuam tendo ressonância hoje. “A gente
se engaja (no combate)
e depois vê o que faz”, disse Napoleão, quando perguntaram qual era seu
princípio estratégico. Prefiro uma definição de estratégia bem mais
recente, e proferida pelo boxeador campeão mundial dos peso pesados,
Mike Tyson: “Todo mundo tem um plano até levar um soco na boca”.
Com O Estado de São Paulo
extraídaderota2014blogspot
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