Catarina Alencastro, O Globo
Dezesseis dias depois da prisão de Lula, o PT já tem um diagnóstico: a bandeira do “Lula Livre” não pegou.
Quando subiu ao palco montado defronte ao sindicato dos metalúrgicos
antes de se entregar à polícia, Lula achava que a luta por sua
libertação mobilizaria multidões. E que o grito “Lula Livre” seria forte
o suficiente para pressionar a Justiça por sua soltura e ao mesmo tempo
virar o mote de campanha eleitoral de todos os petistas candidatos.
Inclusive a mais importante candidatura — a presidencial — com ele no
comando (seja como candidato ou como articulador).
Mas as mobilizações foram chochas. O apoio internacional não veio. E a
eleição está sendo montada à revelia de Lula. Desde a semana passada, o
PT começou a se dar conta de que está perdendo o bonde na disputa
eleitoral. Embora permaneça como líder das intenções de voto, com
vultosos 31%, segundo o Datafolha, em janeiro ele aparecia com 37%.
Esse dado é confirmado por pesquisas internas dos próprios petistas,
segundo as quais o eleitor de Lula continua querendo votar nele, mas
sabe que ele não irá concorrer. Sendo assim, quanto mais se solidifica a
constatação de que o nome do ex-presidente não estará nas urnas,
torna-se urgente a necessidade de que o predestinado a substituir Lula
seja ungido ao posto. Antes que seja tarde demais, e a concorrência
abocanhe naco a naco o espólio lulista.
Se eleitoralmente definir quem é o candidato do PT à Presidência parece o
mais indicado a se fazer agora, alguns conselheiros do ex-presidente
avaliam que abandonar a roupa de presidenciável também pode ser
vantajoso para Lula pessoalmente. Fora da disputa ele contribuiria para
distencionar o ambiente jurídico, abrindo caminhos para uma medida
judicial que o tiraria da prisão. Hoje, como candidato, esse cenário é
improvável.
A convicção de que Lula preso estaria todos os dias no noticiário como
alguém que personifica a injustiça e a perseguição política foi
derretendo dia após dia nessas últimas duas semanas. Do lado de fora da
prisão, amigos do ex-presidente passaram a se preocupar com a saúde
dele, e com o quanto ficaria abalado quando se desse conta de que não
seria solto tão cedo. Ao “liberar” o partido para decidir como quiser
sobre a campanha presidencial, Lula dá sinais de que a ficha caiu.
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