por Nelson Motta O Globo
Conheci o Serginho como filho do querido amigo e grande mestre da música brasileira Sérgio Cabral. Era vereador, e acreditei na sua simpatia, no seu estilo carioca, nas suas ideias de proteção aos idosos. Votei nele, várias vezes, a última na sua reeleição para governador, certo de que era um político moderno e habilidoso, que tinha feito boa administração e tinha tudo para ir longe, como vice ou até mesmo candidato a presidente.
O resto é história, mas...
Não imagino por que, logo no início do governo, quando recebeu uma propina de US$ 16,5 milhões de Eike Batista, ele não encerrou a gatunagem e garantiu um futuro tranquilo e faustoso.
Uma bolada dessas, investida com segurança, poderia render uns dois milhões de dólares por ano, que asseguraria vida luxuosa para filhos e netos... era o que eu faria, se ladrão fosse. E pararia por ali, já estaria de bom tamanho, não seria ganancioso, nem burro, nem louco. Mas Cabralzinho...
Por que diabos, com tudo o que já tinha, ele ainda queria receber comissão de 5% em todas as obras do estado, num plano para chegar ao bilhão de dólares? Como e quando gastaria essa fortuna? Que diferença faria viver com 16,5 milhões ou com um bilhão de dólares ? Só num primeiro flagra da Lava-Jato lhe foram confiscados R$ 256 milhões sujos.
Como explicaria e o que ele faria com seu bilhão? Compraria o Pão de Açúcar? A Presidência da República?
Como não é burro nem louco, só posso imaginar que quando começou a roubar, e a se tornar cada vez mais rico e poderoso, foi entrando em uma espécie de transe que toma os jogadores quando começam a ganhar e a aumentar as apostas. Ou em “um êxtase”, como disse Adriana Ancelmo. Embriagado por uma sensação de onipotência e de impunidade, passou a precisar de doses cada vez maiores de propina, talvez menos pelo dinheiro do que pela inebriante e afrodisíaca vivência do poder.
Talvez pudesse ter se salvado, se existissem os CC, Corruptos Conhecidos, seguindo os mesmos 12 passos dos Alcoólicos Anônimos, para se livrar do vício de roubar.
— Boa noite, eu sou o Sérgio e sou um ladrão.
— Boa noite, Sérgio.
extraídaderota2014blogspot
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