editorial do Estadão
O grande temor da oposição vai-se tornando realidade: a plena
consolidação do governo do presidente Michel Temer. Os apoiadores de
Dilma Rousseff almejavam que a força da Constituição não fosse
suficiente para sustentar Temer no cargo presidencial e que o discurso
repetitivo do golpe maculasse a legitimidade do governo. Nada disso
ocorreu.
Da mesma forma como havia ocorrido com Fernando Collor, o impeachment de
Dilma Rousseff deixou claro que existe lei no País e que ela vale para
todos, também para os que estão no cume da hierarquia do poder público.
A consolidação do governo de Michel Temer vai, no entanto, além da
questão meramente institucional. Ela é decorrência direta de um governo
que, se não isento de erros, até o momento vem mostrando disposição de
acertar. Logicamente, há ainda muito a ser corrigido, começando por
retirar do governo pessoas que devem antes prestar esclarecimentos à
população e, em alguns casos, à Justiça.
Mas isso não obscurece o fato de que o presidente Michel Temer, como há
muito tempo não se via no Palácio do Planalto, está disposto a colocar o
Brasil nos trilhos. Sua opção por uma equipe econômica de alta
qualidade técnica, sem apegos político-partidários, começa a dar
resultados. Ainda há uma longa distância para devolver ao País o
dinamismo que ele precisa ter, mas é inegável o empenho para fortalecer
os fundamentos macroeconômicos, em especial o equilíbrio das contas
públicas. Nesse campo, a aprovação da Emenda Constitucional 95,
estabelecendo um teto para os gastos públicos, foi uma vitória da
racionalidade e da responsabilidade frente a um populismo que perdurou
por longos anos, nas administrações de Lula – especialmente em seu
segundo mandato – e de Dilma Rousseff.
Também é verdade que o presidente Michel Temer soube vislumbrar, ainda
no exercício provisório da Presidência, que o ajuste fiscal, por si só,
não seria suficiente para a retomada do crescimento econômico. Talvez
aqui esteja a principal razão da consolidação do seu governo frente às
frustradas tentativas da oposição de minguar sua legitimidade – a
disposição de Temer de levar adiante reformas legislativas que não são
fáceis de serem implementadas e, ao mesmo tempo, são tão necessárias.
Se as reformas previdenciária, trabalhista e tributária representam o
grande desafio do governo Temer, já que uma eventual rejeição pelo
Congresso põe em risco as conquistas até aqui alcançadas, a disposição
de levar adiante essas alterações legislativas é, por sua vez, o grande
mérito do governo. Seria, portanto, um equívoco pensar que transigências
do Palácio do Planalto na tramitação das reformas facilitariam a
trajetória de Temer na Presidência. Concessões nesse campo seriam tão
somente derrotas.
Deve-se reconhecer que os acertos do governo de Michel Temer ainda não
se refletiram em popularidade. As pesquisas de opinião mostram uma
avaliação que, se não chega a ser péssima, está longe de trazer
tranquilidade a qualquer governante. De toda forma, a capacidade do
governo para aprovar as reformas não depende, nesse momento, de sua
popularidade. Manter-se firme na disposição de trabalhar pelo bem do
País, sem dispor do conforto de um apoio massivo da opinião pública, é o
atual desafio do presidente Temer.
A tarefa de reconstrução do País mal começou. Os desafios são enormes.
Basta ver as dificuldades que o governo tem pela frente para aprovar uma
tímida, porém imprescindível, reforma da Previdência. Agora, é preciso
continuar no mesmo rumo, trabalhando com afinco pelas reformas, e
corrigir os equívocos. Não é segredo, por exemplo, que há colaboradores
de Temer que, mais do que ajudar, trazem sérios problemas ao Palácio do
Planalto. Urge trocá-los.
É justamente essa atuação segura de Temer de que tanto o País necessita e
que, ao mesmo tempo, faz a oposição ficar tão alarmada. O PT e seus
aliados torciam por uma administração débil e, a cada dia que passa, vão
percebendo que o impeachment não trouxe um golpe. Trouxe um governo.
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