editorial do Estadão
A decisão do Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), a mando de Lula da Silva, de autorizar sua bancada no Congresso a apoiar a candidatura de Rodrigo Maia (DEM-RJ) à presidência da Câmara e a de Eunício Oliveira (PMDB-CE) à presidência do Senado deflagrou uma grave crise dentro do partido. Os petistas que se consideram mais à esquerda, fiéis ao espírito radical que fundou a legenda, dizem não aceitar que o partido se engaje em candidaturas que, segundo sua visão, representam aqueles que se articularam para dar um “golpe” e derrubar a presidente Dilma Rousseff.
É claro que, assim como aconteceu em outras ocasiões como essa ao longo da trajetória petista, todos os que ousarem questionar as decisões daquele Politburo, que nada mais faz do que dar formato institucional às ordens do chefão Lula, serão devidamente expurgados ou marginalizados. Desta vez, porém, a crise parece mais grave, dadas as circunstâncias muito adversas.
Será um teste importante para medir o atual alcance da liderança de Lula entre os próprios petistas, que andam pelos cantos a se queixar de que o chefão não aproveita a oportunidade oferecida pelas recentes derrotas do partido para reconduzi-lo às suas “origens” – que podem ser resumidas em uma frase do manifesto de fundação do PT, na qual o partido diz que “pretende ser uma real expressão política de todos os explorados pelo sistema capitalista”.
A principal reclamação dos dissidentes petistas diz respeito à flagrante contradição de um partido que, enquanto denuncia o “golpe” contra Dilma Rousseff, aproxima-se dos partidos que apoiam um governo cuja legitimidade questiona. “O PT não deve apoiar golpistas no Congresso Nacional”, disse Bruno Elias, secretário nacional de movimentos populares do PT, que defendeu candidatura própria ou apoio a um nome da oposição. Para ele, “a militância petista e o campo democrático e popular devem se mobilizar contra essa posição”.
A manifestação mais contundente partiu do senador Lindbergh Farias (RJ), expoente da defesa de Dilma Rousseff no processo de impeachment. “É um escândalo, um erro brutal, uma decisão descolada da realidade, sem consonância com a militância do partido e da esquerda em geral”, disse Lindbergh.
Nos tempos em que estavam acocorados nos píncaros da glória, os petistas pouco se queixaram publicamente quando o PT se associou ao que havia de pior na política nacional – com o objetivo de reduzir o Congresso a uma mercearia e destruir os fundamentos da democracia representativa – para permanecer para sempre no poder. Naquela época, Lula da Silva era considerado por essa turma um gênio da tática política.
Hoje, depois do impeachment e da surra eleitoral de 2016, a Lula e seus estrategistas restou fazer o que sabem melhor, isto é, a baixa política. Aceitaram negociar com os “golpistas” para obter espaço na direção da Câmara e do Senado e, assim, manter uma migalha de poder no Congresso antes das eleições de 2018, além de abrir ao partido preciosas vagas para acomodar os correligionários hoje desempregados.
Aos petistas magoados, Gilberto Carvalho, espécie de porta-voz informal de Lula, disse que o PT está numa “encruzilhada”. Segundo ele, seria uma “posição mais tranquila” declarar “que não votaremos em golpistas”, mas a decisão do partido sobre a eleição na Câmara e no Senado “é apenas uma batalha dentro de uma guerra ampla que estamos travando contra os verdadeiros autores do golpe, o capital financeiro internacional, nacional e seus lacaios e representantes”.
Nesse conflito épico, os cargos nas Mesas Diretoras do Congresso darão ao PT, segundo Carvalho, “mais condições de impedir e dificultar a marcha golpista”.
Não surpreende que alguns petistas tenham se considerado insultados em sua inteligência por esse tipo de raciocínio. O que surpreende é que eles tenham levado tanto tempo para perceber que o partido, formado oficialmente para representar os trabalhadores, só existe mesmo para atender aos interesses de Lula da Silva.
extraídaderota2014blogspot
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