Jornalista Andrade Junior

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

"Crise corroeu a competitividade",

 editorial do Estadão

A pior crise econômica em muitas décadas só não fez o Brasil cair ainda mais no ranking de competitividade elaborado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) porque sua classificação já era muito ruim: a penúltima posição entre 18 países com nível de desenvolvimento comparável ao brasileiro. Esta tem sido a posição do País desde 2012, quando a CNI iniciou os estudos sobre competitividade. Pior só a Argentina, submetida durante anos ao regime populista dos Kirchners, cujas consequências lentamente o governo Macri vem tentando neutralizar.
A persistência do Brasil no fim da lista comprova, de um lado, a ineficácia – quando não o caráter pernicioso – das políticas do governo Dilma Rousseff anunciadas como de estímulo ao crescimento e mostra, de outro lado, o tamanho do desafio que o governo Temer e seus sucessores terão de superar para assegurar o crescimento do País.
Era previsível que a crise econômica – iniciada no segundo semestre de 2014 e agravada nos anos seguintes pela incapacidade da administração lulopetista de dar respostas aos problemas por ela mesma criados e pela crise política que resultou no impeachment – comprometeria o desempenho do Brasil no estudo da CNI. Em quatro dos nove fatores que afetam a competitividade dos países, e que são levados em conta na classificação, a posição do Brasil piorou entre 2015 e 2016. Em outros quatro, o País conseguiu manter sua posição, que não era confortável. Apenas em um, o que se refere à educação, melhorou.
A piora mais acentuada foi no fator disponibilidade e custo da mão de obra, no qual o Brasil baixou da 5.ª para a 11.ª posição. Os responsáveis pelo estudo da CNI atribuem esse mau desempenho ao aumento do desemprego e ao fato de que, com a crise afetando duramente o mercado de trabalho, muitas pessoas deixaram de procurar ocupação, com o que diminuiu a população economicamente ativa. A esses aspectos conjunturais negativos do mercado de trabalho, o Brasil tem outros, como a baixa produtividade e o alto custo da mão de obra.
A evidente deterioração do ambiente no período final da gestão petista – marcado por inflação acelerada, aumento do déficit público e da dívida pública, a manutenção dos juros em níveis muitos alto, queda da atividade econômica e redução do mercado interno – igualmente contribuiu para manter o Brasil na péssima classificação. No fator tecnologia e inovação, o País caiu da 9.ª para a 11.ª posição.
Em outros fatores, como infraestrutura e sistema tributário, o estudo da CNI confirma os resultados apresentados por outros estudos comparativos sobre competitividade e ambiente para a realização dos negócios – entre os quais os do Banco Mundial, da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico e do Fórum Econômico Mundial –, nos quais o Brasil está sempre mal classificado. Estradas ruins, malha ferroviária insuficiente, portos mal aparelhados e caros, pelo lado da infraestrutura, e um complexo e oneroso sistema, pelo lado tributário, são problemas com os quais o setor produtivo é obrigado a conviver há muito tempo.
A única melhora na classificação brasileira foi obtida no fator educação, graças ao fato de o País ter assegurado ao setor um volume de recursos equivalente a 6,4% do PIB (dado relativo a 2014), menor apenas do que o da África do Sul (7,3% do PIB).
Para começar a conquistar posições entre os países com os quais compete diretamente no mercado mundial, além de assegurar a estabilidade da economia, o Brasil precisa realizar reformas estruturais. Os primeiros passos foram dados pelo governo Michel Temer, que conseguiu a aprovação, pelo Congresso, da emenda constitucional que fixa um teto para os gastos públicos. Mas isso é apenas o começo. Outras reformas são essenciais não só para assegurar a estabilidade das contas públicas ao longo do tempo – como a do sistema previdenciário –, mas sobretudo para melhorar a produtividade da economia. A primeira delas é a trabalhista.













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