editorial do Estadão
Com ou sem Trump a economia brasileira pouco deve crescer neste ano. Também isso distingue o Brasil da maioria dos europeus, do México e de muitos outros emergentes, como foi comprovado, nos últimos dias, na reunião do Fórum Econômico Mundial, em Davos. As maiores incertezas da economia brasileira são made in Brazil, enquanto as de vários outros países são importadas. Horas antes da posse de Trump, um grupo ilustre, incluída a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, especulou no Fórum sobre as perspectivas econômicas de 2017. A recuperação no mundo rico deve continuar, concordaram os participantes da conversa. A China e a Índia se manterão na ponta do crescimento e há discretos sinais positivos no Japão.
As preocupações com a política de Trump e com os efeitos do Brexit, o abandono da União Europeia pelo Reino Unido, continuaram no alto da agenda, nos debates econômicos da reunião anual do Fórum. As mudanças prometidas pelo novo presidente podem dar um impulso à economia americana, por algum tempo, mas seus efeitos sobre outras economias serão muito ruins, se a ameaça de protecionismo for cumprida. Essa ameaça, embora de forma indireta, foi reiterada na véspera da posse, numa festa ao ar livre, quando o presidente insistiu no compromisso de impedir a destruição de empregos americanos por outros países.
Se Trump de fato elevar as barreiras comerciais, países mais voltados que o Brasil para as trocas internacionais poderão ser seriamente afetados em pouco tempo. A economia brasileira, embora ainda muito fechada, também será atingida, mas provavelmente com efeitos menos severos. De toda forma, os principais desafios para o governo brasileiro estarão dentro do País.
Com os negócios ainda avançando lentamente, será complicado fechar as contas federais no fim de 2017, com o déficit primário reduzido a R$ 139 bilhões. A arrumação fiscal dependerá amplamente da contenção de gastos, porque a arrecadação de impostos continuará muito fraca, se a recuperação da atividade for muito lenta, como se prevê. As estimativas de aumento do Produto Interno Bruto (PIB) variam hoje de 0,2%, na projeção do FMI, a pouco menos de 1%.
Sem se envolver num debate sobre décimos de um por cento, o governo promete resultados mais sensíveis no fim do ano. A comparação do trimestre final de 2017 com o último de 2016 mostrará, segundo o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, uma expansão próxima de 2%.
Essa fraqueza econômica é atribuível essencialmente a causas internas – erros acumulados em vários anos de governo petista, de modo especial no período da presidente Dilma Rousseff. Baixo investimento, produtividade estagnada ou em queda, pouquíssima inovação, indústria empacada por vários anos, desordem nos preços e escasso poder de competição jogaram o País na mais longa e mais funda recessão de muitas décadas.
Reparos de curto prazo e algumas inovações institucionais, como a reforma da Previdência, poderão criar condições para alguma reativação dos negócios. A redução dos juros poderá contribuir de forma importante para o movimento inicial. Mas será preciso muito mais que isso para o País ingressar numa fase de crescimento mais rápido e duradouro.
Será preciso investir na infraestrutura e no reequipamento das empresas, cuidar da educação e da qualidade da mão de obra, criar condições para o avanço tecnológico e para a inovação e abrir a economia.
Embora com alicerces mais arrumados que os do Brasil, especialmente na parte fiscal na área de preços, países latino-americanos têm deficiências muito parecidas, quando se trata de tecnologia e de qualificação da mão de obra. Alguns desses países cresceram mais que o Brasil por vários anos, mas acabaram atingidos pela desvalorização dos produtos básicos. Não por acaso, tiveram pouco peso nas discussões de Davos, neste ano, e foram simplesmente esquecidos (como o Brasil) no debate final sobre as perspectivas globais de 2017.
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