Chico Otávio e Juliana Castro
O Globo
Investigação da Operação Eficiência realizada nesta quinta-feira verificou o desvio de cerca de cem milhões de dólares de contratos do governo do estado na gestão do ex-governador Sergio Cabral, distribuídos em diversas contas em paraísos fiscais no exterior. De acordo com o Ministério Público Federal, a organização criminosa liderada por Cabral movimentou, em dez meses (agosto de 2014 a junho de 2015), R$ 39,7 milhões – cerca de R$ 4 milhões por mês). Os procuradores dizem que a remessa de valores para o exterior foi contínua entre 2002 e 2007, quando Cabral acumulou US$ 6 milhões. Com o auxílio de colaboradores, o MPF já conseguiu repatriar cerca de R$ 270 milhões.
A Operação Eficiência foi deflagrada nesta quinta-feira, com a expedição de dez mandados de prisão preventiva e quatro de conduções coercitivas. Entre os principais alvos com mandados de prisão s está o empresário Eike Batista, dono do grupo EBX, que não foi encontrado pela polícia.
NO PANAMÁ – As investigações apontam também o pagamento de uma propina de US$ 16,5 milhões ao ex-governador por Eike e Flávio Godinho, do grupo EBX, usando a conta Golden Rock no TAG Bank, no Panamá. Esse valor foi solicitado por Sérgio Cabral a Eike Batista no ano de 2010, para dar aparência de legalidade à operação foi realizado em 2011 um contrato de fachada entre a empresa Centennial Asset Mining Fuind Llc, holding de Batista, e a empresa Arcadia Associados, por uma falsa intermediação na compra e venda de uma mina de ouro. A Arcadia recebeu os valores ilícitos numa conta no Uruguai, em nome de terceiros mas à disposição de Sérgio Cabral, de acordo com o MPF.
Eike Batista, Godinho e Cabral também são suspeitos de terem cometido atos de obstrução da investigação, porque numa busca e apreensão em endereço vinculado a Batista em 2015 foram apreendidos extratos que comprovavam a transferência dos valores ilícitos da conta Golden Rock para a empresa Arcádia. Na oportunidade os três investigados orientaram os donos da Arcadia a manterem perante as autoridades a versão de que o contrato de intermediação seria verdadeiro.
DELAÇÃO PREMIADA – A operação de hoje é baseada da colaboração dos operadores de mercado financeiro Renato Hasson Chebar e Marcelo Hasson Chebar. Eles conheceram Cabral na época do escândalos do Propinoduto, por meio da mulher do pai do Renato, Eva Berth, que era secretária de Cabral no final dos anos 90.
Inicialmente, Cabral usava os serviços desses dois operadores para trocar reais por dólares para fazer viagens ao exterior. Com o estouro do escândalo do propinoduto, em 2002, Cabral procurou Renato para propor um negócio. Cabral queria transferir valores que ele mantinha em uma conta chamada Eficiência na agência do Israel Descont Bank em Nova York. Assim, foram transferidos dois milhões de dólares da conta Eficiencia para duas contas de Renato também no Israel Discount Bank.
O Propinoduto foi um escândalo de desvio de dinheiro entre 1999 e 2000 na secretaria de Fazenda do estado do Rio durante o governo de Anthony Garotinho. O escândalo estourou em 2002, envolvendo o então subsecretário de Administração Tributária do Rio, Rodrigo Silveirinha.
EM DINHEIRO VIVO – A partir daí, os valores passaram a ser entregues em espécie por Sérgio de Castro de Oliveira, chamado Serjão, a Renato e Marcelo Chebar nos escritório de ambos na Avenida Rio Branco 123, sala 1105. As quantias entregues variavam entre R$ 50 mil e R$ 250 mil por vez. E eram transferidos para o exterior por uma operação chamada Dolar-Cabo.
Segundo Renato, esse esquema entre 2002 e 2007, quando Cabral era deputado estadual e depois senador, acumulou US$ 8 milhões. Com a eleição de Cabral para o governo do estado, as quantias passaram a ser “surreais”, segundo o Ministério Público Federal, e obrigaram os dois operadores a ampliar a operação de lavagem de dinheiro.
NOS PARAÍSOS FISCAIS – Na época, o Israel Descont Bank estava sendo vendido, e Renato passou a usar também nove outras contas em bancos localizados em paraísos fiscais. Também nesse período, Cabral substituiu Serjão pelo operadores Carlos Emanuel de Carvalho Miranda, preso em Bangu, como responsável pela entrega do dinheiro.
Em função do grande volume de propina, Renato e Marcelo não encontraram mais parceiros para realizar as operações de dólar-cabo, e foram obrigados a procurar um outro doleiro, conhecido como Juca Bala, que fica baseado em Montevidéu, no Paraguai.
extraídadetribunadainternet
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