editorial do Estadão
Há dois anos, a crise em que o País continua mergulhado mal havia
começado e ainda eram pouco visíveis seus efeitos sobre a atividade
empresarial e a vida das pessoas, mas ela já tinha poder para provocar
graves danos, que só agora começam a ser aferidos com mais precisão. Em
2014, depois de seis anos de saldo positivo, o número de empresas que
entraram no mercado foi inferior ao daquelas que encerraram suas
atividades. No resultado acumulado daquele ano, o Produto Interno Bruto
(PIB) brasileiro ainda registrou pequeno crescimento, de 0,1%, mas, no
segundo semestre, já surgiam os sinais da recessão que se aprofundaria
dali em diante. Em 2015, o PIB teve redução de 3,8%; para este ano,
projeta-se nova queda, próxima da registrada no ano passado. Por isso,
os dados ruins de 2014, que compõem a mais recente edição da Demografia das Empresas,
pesquisa elaborada anualmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), devem ter piorado nos dois anos seguintes.
Entre 2013 e 2014, o índice que o IBGE chama de taxa de saída – ou seja,
a relação entre o número de empresas que encerraram sua atividade e o
total de empreendimentos em operação no ano – passou de 14,6% para
20,7%. Com o aumento de 6,1 pontos porcentuais em um ano, a taxa de
saída de 2014 tornou-se a maior da série, iniciada em 2008.
Há dois anos foi registrado o surgimento de 726,3 mil novas firmas no
País, mas foram extintos 944 mil CNPJs. Assim, o número total de
empresas ativas, que vinha crescendo desde o início da série de
pesquisa, numa demonstração do vigor da economia e da disposição
empreendedora dos brasileiros, diminuiu de 4,78 milhões em 2013 para
4,58 milhões no ano seguinte. Em números mais precisos, houve uma
redução de 217,8 mil empresas, um recuo equivalente a 4,6%.
A analista do IBGE Kátia Carvalho, integrante do grupo de técnicos
responsável pelo estudo – que se baseia no Cadastro Central de Empresa
(Cempre) do IBGE – considera esses números um “reflexo do início da fase
mais complicada da crise que passamos a viver”. Como a crise se
intensificou desde então, os números dos novos estudos sobre o tema
devem mostrar resultados piores.
A queda do número de empresas é generalizada, pois atinge praticamente
todas as atividades econômicas classificadas pelo IBGE (16, entre 19
atividades pesquisadas). Entre estas, as que apresentaram aumento nas
taxas de saída estão as de serviço; de artes, cultura, esporte e
recreação; de construção; e de informação e comunicação. Quanto às taxas
de entrada no mercado, apenas as atividades de eletricidade e gás
registraram aumento.
Elaborado para permitir a análise da dinâmica empresarial no País, o
estudo contém, além de números de entrada e saída de empresas no
mercado, dados sobre a reentrada de empresas e sua sobrevivência,
pessoal ocupado como assalariado e estatísticas sobre empresas de alto
crescimento.
Curiosamente, o estudo constatou que, apesar da redução do número de
empresas, o pessoal assalariado ocupado aumentou 0,5%, de 35,05 milhões
para 35,22 milhões de pessoas. Por causa do alto custo das demissões e
das dificuldades na contratação de pessoal qualificado, as empresas
resistem aos cortes. Mas, quando a crise persiste, como vem ocorrendo
com a atual, são forçadas a reduzir o pessoal, como muito provavelmente
mostrarão futuros estudos.
O IBGE constatou que a idade média das empresas ativas em 2014 era de
10,6 anos. A média é impulsionada por empresas com mais empregados, pois
o que os estudos têm mostrado é que os empreendimentos que mais geram
empregos tendem a permanecer mais tempo no mercado.
Em média, de cada dez empresas, seis encerram suas atividades antes de
completar cinco anos. É provável que esse índice aumente, pois, na crise
atual, o início de um empreendimento tem sido a alternativa escolhida
por parte dos que perderam emprego, muitos dos quais o fazem sem a
adequada preparação.
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