Jornalista Andrade Junior

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

"Menos empresas",

editorial do Estadão

Há dois anos, a crise em que o País continua mergulhado mal havia começado e ainda eram pouco visíveis seus efeitos sobre a atividade empresarial e a vida das pessoas, mas ela já tinha poder para provocar graves danos, que só agora começam a ser aferidos com mais precisão. Em 2014, depois de seis anos de saldo positivo, o número de empresas que entraram no mercado foi inferior ao daquelas que encerraram suas atividades. No resultado acumulado daquele ano, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro ainda registrou pequeno crescimento, de 0,1%, mas, no segundo semestre, já surgiam os sinais da recessão que se aprofundaria dali em diante. Em 2015, o PIB teve redução de 3,8%; para este ano, projeta-se nova queda, próxima da registrada no ano passado. Por isso, os dados ruins de 2014, que compõem a mais recente edição da Demografia das Empresas, pesquisa elaborada anualmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), devem ter piorado nos dois anos seguintes.
Entre 2013 e 2014, o índice que o IBGE chama de taxa de saída – ou seja, a relação entre o número de empresas que encerraram sua atividade e o total de empreendimentos em operação no ano – passou de 14,6% para 20,7%. Com o aumento de 6,1 pontos porcentuais em um ano, a taxa de saída de 2014 tornou-se a maior da série, iniciada em 2008.
Há dois anos foi registrado o surgimento de 726,3 mil novas firmas no País, mas foram extintos 944 mil CNPJs. Assim, o número total de empresas ativas, que vinha crescendo desde o início da série de pesquisa, numa demonstração do vigor da economia e da disposição empreendedora dos brasileiros, diminuiu de 4,78 milhões em 2013 para 4,58 milhões no ano seguinte. Em números mais precisos, houve uma redução de 217,8 mil empresas, um recuo equivalente a 4,6%.
A analista do IBGE Kátia Carvalho, integrante do grupo de técnicos responsável pelo estudo – que se baseia no Cadastro Central de Empresa (Cempre) do IBGE – considera esses números um “reflexo do início da fase mais complicada da crise que passamos a viver”. Como a crise se intensificou desde então, os números dos novos estudos sobre o tema devem mostrar resultados piores.
A queda do número de empresas é generalizada, pois atinge praticamente todas as atividades econômicas classificadas pelo IBGE (16, entre 19 atividades pesquisadas). Entre estas, as que apresentaram aumento nas taxas de saída estão as de serviço; de artes, cultura, esporte e recreação; de construção; e de informação e comunicação. Quanto às taxas de entrada no mercado, apenas as atividades de eletricidade e gás registraram aumento.
Elaborado para permitir a análise da dinâmica empresarial no País, o estudo contém, além de números de entrada e saída de empresas no mercado, dados sobre a reentrada de empresas e sua sobrevivência, pessoal ocupado como assalariado e estatísticas sobre empresas de alto crescimento.
Curiosamente, o estudo constatou que, apesar da redução do número de empresas, o pessoal assalariado ocupado aumentou 0,5%, de 35,05 milhões para 35,22 milhões de pessoas. Por causa do alto custo das demissões e das dificuldades na contratação de pessoal qualificado, as empresas resistem aos cortes. Mas, quando a crise persiste, como vem ocorrendo com a atual, são forçadas a reduzir o pessoal, como muito provavelmente mostrarão futuros estudos.
O IBGE constatou que a idade média das empresas ativas em 2014 era de 10,6 anos. A média é impulsionada por empresas com mais empregados, pois o que os estudos têm mostrado é que os empreendimentos que mais geram empregos tendem a permanecer mais tempo no mercado.
Em média, de cada dez empresas, seis encerram suas atividades antes de completar cinco anos. É provável que esse índice aumente, pois, na crise atual, o início de um empreendimento tem sido a alternativa escolhida por parte dos que perderam emprego, muitos dos quais o fazem sem a adequada preparação.
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