por Percival Puggina.
Fundado em 1980, o PT acolheu o maior quinhão da esquerda revolucionária que atuava ou atuara na clandestinidade. Nasceu como ente político igualmente revolucionário e passou a influenciar todos os setores da vida nacional. Com ele, imensa energia destrutiva se instalou no país. Idéias não são inócuas. Ainda hoje, graças a tais idéias, a maior parte de nossos pedagogos, por exemplo, afasta de suas atribuições proporcionar conhecimentos que permitiriam aos jovens ganhar a vida conjugando saber e trabalho. Optam por formar agentes de transformação social, militantes da causa. Tema de uma dissertação de mestrado que folheei outro dia: "Conscientizar os professores de matemática de sua tarefa como intelectuais orgânicos a serviço da construção da hegemonia dos excluídos, dos explorados em geral". O papel revolucionário da tabuada? O conservadorismo excludente da regra de três? A radicalidade da raiz quadrada? E as potencialidades de milhões de jovens abortados no ventre do sistema de ensino!
O caráter revolucionário do partido se reafirmou quando, junto com o PC Cubano, criou o Foro de São Paulo. Era o ano de 1989, desabava o comunismo, o leste europeu abraçava a democracia constitucional, e uma reunião de emergência em São Paulo recolhia para a América Ibérica o lixo ideológico da época.
Foi como partido revolucionário que o PT chegou ao poder em 2003. Escaparam à compreensão de muitos as consequência daquela eleição. Organizações revolucionárias não se sentem limitadas pelos códigos vigentes nem pela ordem existente. Uma rápida espiada na memória dos "movimentos sociais" organizados no país fornece evidência suficiente do que afirmo. O espelho onde o alto comando petista se olhava após a eleição de 2002 não mostrava os vencedores de um pleito, mas os vitoriosos de uma revolução. E eram esses ventos que agitavam as bandeiras vermelhas nas festividades que se seguiram. O mesmo ânimo ajuda a compreender o que foi se tornando conhecido a partir de 2005. O grupo governante era responsável por uma causa e assumia o Estado como coisa sua. A estrela de flores vermelhas plantada por dona Marisa Letícia no jardim do Palácio da Alvorada não foi iniciativa de uma pessoa simples. Simbolizava, isto sim, uma percepção política.
Acabo de descrever o motivo principal de tantos e tão volumosos escândalos. O caráter revolucionário turbinou o velho patrimonialismo. Por isso, Lula entregou refinarias à Bolívia, tantas dívidas foram perdoadas, tantos favores concedidos, tanto negócio de pai para filho com os parceiros do Foro de São Paulo, tanto loteamento do Estado. Por isso, um sítio em Atibaia para Lula guardar "as tralhas" dos contêineres com que saiu de Brasília. Por isso, também, a posição no ministério serve para distanciá-lo do braço da Justiça e cobra gratidão de Janot. O palaciano ato de nomeação lembra papel higiênico: "Só usa em caso de necessidade", sublinhou Dilma.
(Por contrato, o restante deste artigo deve ser lido em zerohora.com/)
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