Jornalista Andrade Junior

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Transporte gratuito não é sequer uma causa ou utopia, mas apenas uma irracionalidade

Valentina de Botas:

Nas madrugadas, gosto do silêncio estilhaçado por conversas no vizinho e da certeza clandestina de haver cúmplices noturnos fabricando a madrugada comigo. Qual Brasil, este ou outro? A mulher descalça, num vestido longo, cabelo solto, sozinha na madrugada com a lua na varanda, trazendo uma taça e uma garrafa, é esta ou outra?

Numa versão das manifestações pela gratuidade do transporte em São Paulo, o Fantástico apresentou como “a nova cara das manifestações” umas lindezas de meninas (e os meninos?) boazinhas com gramática e causa ruinzinhas. Na versão de certo jornalismo, a cara dos movimentos pró-impeachment é meia dúzia de cretinos que pedia intervenção militar. Claro: quem viu cara, não quis ver coração. Contra tais versões, há os fatos desprezados pelos mentores delas.
Ora, os manifestantes democratas rechaçamos os pró-militares enquanto os black blocs são cara, corpo e alma do movimento que usa o aumento das passagens para obscurecer a agenda dramaticamente urgente do país e provocar a PM para produzir notícias negativas envolvendo o governo do PSDB em ano eleitoral. Truculentos, arcaizantes e autoritários, acham que o direito a ideias estúpidas enseja o direito à violência para efetivá-las.
A mulher na varanda serve-se de vinho e penso nas meninas que acreditam estar “lutano” por uma causa boa ignorando que são manobradas por um movimento cujo sonho é o pesadelo comunista que só deu errado onde foi tentado, de delinquência patente já nas táticas para se concretizar; que transporte gratuito não é sequer uma causa ou utopia, mas apenas uma irracionalidade; que nenhum governo produz riqueza e, portanto, precisaria coletar de quem produz – as pessoas, usuárias de ônibus ou não – a grana para custear o transporte que custa como qualquer outro serviço e menos do que utopias.
Travar a cidade nos horários de pico para “provocar a corja de empresários” decorre do excesso de Ovomaltine e da carência de honestidade que encobrem a outra cidade, a real: aquela que precisa pegar o filho na creche antes de voltar para casa e ainda preparar o jantar quando chegar; que se feriria com a bomba na estação de metrô jogada pelos black blocs; aquela infernizada não pelo reajuste da passagem abaixo da inflação, mas por esses terroristas mistificados com a designação calhorda de “ativistas”.
O Estadão revelou uma trapaça que fantasiou o jeca de vítima e atendeu à libido criminosa do PT: cientes de que os black blocs atiraram a bomba no instituto Lula, José Dirceu e Bruno Altman espalharam que fora coisa do PSDB, enquanto Dilma Rousseff afagava a democracia que vive espancando. Aos cidadãos eventuais vítimas da bomba no metrô, a presidente dedicou o conhecido silêncio acanalhado. Os terroristas se servem das bombas na causa espúria; o PT embala uma delas em mentiras para torna-la útil, nem se importa com a outra, pois isso implica importar-se com os brasileiros, postura a que o lulopetismo é imune.
Então, a súcia lulopetista e a do Ovomaltine, com o perigoso suporte de certos jornalistas, bombardeiam a democracia num Brasil de cara para o atraso. No outro, meninas e meninos se mobilizariam, claro, mas sem manipulações ou mistificações e cobrando, pacificamente, qualidade nos serviços públicos pelos quais a população sempre pagará, mesmo de graça. Na varanda enluarada, brindo a um ausente cúmplice noturno; e o vinho, embora não à altura do homenageado, me distrai de uma difusa saudade de mim e de outro país nele mesmo.
EXTRAÍDADECOLUNADEAUGUSTONUNESOPINIÃOVEJA

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