por Mary Zaidan Com Blog do Noblat - O Globo
Motivo de loas ao vigor das instituições, a ordem de prisão do petista e
líder do governo Delcídio do Amaral, expedida pelo Supremo, escancarou
exatamente o inverso: o avanço da deterioração do Estado brasileiro.
Rouba-se, saqueia-se, extorque-se em todo lugar. Nada funciona, exceto o
poder de polícia - ações pontuais da Justiça, do Ministério Público e
da PF.
Como praga, a degradação alastrou-se pelo Executivo em cada canto, cada
ato, cada palavra. Nas mentiras ditas pela presidente Dilma Rousseff e
pelo ex Lula, em cada negociata que ambos afirmam desconhecer.
Multiplicou-se nos ministérios, nas autarquias e nas estatais, nas joias
da coroa como Petrobras e Eletrobras, no Banco do Brasil, enrolado no
mensalão, no BNDES, e sabe-se lá onde mais.
Corroeu o Parlamento. Fez com que a política se tornasse ambiente
impróprio para gente de bem. Maleficio dos malefícios, até porque a
política é a única saída para qualquer e todas as crises. E há gente de
bem que a ela se dedica.
O Judiciário também tem lá suas fraquezas. Ao mandar prender poderosos,
recebe efusivos aplausos por fazer valer o princípio básico de que a
justiça é igual para todos. Ainda assim, não consegue inseticida
suficiente para exterminar todos os insetos contaminam algumas de suas
partes. E mais: o mesmo Supremo que dá orgulho exige aumentos abusivos
sem lastro na economia do país, briga por regalias no topo e pouco
distribui à base. As varas judiciais que recebem bilhares de demandas do
cidadão comum continuam entupidas, não raro sem recursos para fazer o
mínimo. Isso sem contabilizar denúncias de malversação que pairam sobre
vários tribunais.
Ao contrário do que seria saudável e lógico em uma democracia, tanto nos
poderes Executivo quanto no Legislativo – e até no Judiciário - pessoas
falam mais alto do que as instituições.
Durante o julgamento do Mensalão, o então presidente do STF, ministro
Joaquim Barbosa, se fez maior do que a Corte. Hoje, muitos acham que a
Lava-Jato não existiria sem a obstinação do juiz Sérgio Moro. Ou seja, o
crédito e a confiança estão em pessoas, não nas instituições.
Mesmo flagrado com contas na Suíça e explicações fajutas para o
inexplicável, Eduardo Cunha continua comandando a Câmara dos Deputados. E
o reincidente presidente do Senado, Renan Calheiros, também investigado
pela Lava-Jato, se mantém em alta. No governo e junto aos colegas, que
não pouparam reverências a ele na condução da sessão em que se apreciou a
manutenção da prisão de Delcídio.
Fiel ao governo, à interpretação que fez da Constituição e do regimento
interno e, principalmente, ao seu pescoço, Renan decidiu que a votação
seria secreta. Mas teve de se render. Antes de revelar o placar final e
já ciente de qual seria o resultado, direcionou suas baterias contra a
intervenção do STF, que acabara de deferir liminar pró-voto aberto.
No alvoroço do final da sessão, quando todos exigiam a exibição dos
resultados, a fala da senadora Rose de Freitas resumiu, de forma
dramática, o estado das coisas. “Hoje, em todo momento, em qualquer
lugar, sentado aqui, sentado ali, nós nos deparamos com alguém que está
sendo indiciado, exatamente por usar o poder a seu favor ou de uma
circunstância que lhe favoreça.”
Ao lembrar que o Senado não cumpre com as suas tarefas mínimas, a
parlamentar disse o que ninguém na República diz: “a culpa é nossa”. E
prosseguiu: “O que estamos fazemos agora, sem a menor preocupação de
como sair dessa crise, de como ajudar o povo brasileiro, votando quando
achamos que devemos votar, empurrando a pauta prioritária quando
queremos empurrar. Nós estamos errados!”.
O discurso da senadora não frequentou os noticiários da internet, do
rádio e da TV, nem as páginas dos jornais, obviamente ocupadas pelos
detalhes do escândalo Delcídio. Mas dar consequência a ele faria bem às
instituições, à democracia, ao país.
E não há como consertar qualquer coisa sem reconhecer que ela está quebrada ou estragada. Sem assumir erros.
extraídaderota2014blogspot
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