Não
há em cena neste momento uma força capaz de interromper essa debacle.
Os discípulos de Marcuse estão no poder e não há uma possibilidade
imediata de derrotá-los em uma eleição.
Embora os especialistas continuem a escrever como se tivesse havido uma recuperação econômica, os números contam uma história diferente. É a história da falsa recuperação e do contínuo mau investimento. No Business News anuncia-se em manchete: Economia dos EUA encolhe pela primeira fez desde o fim da recessão. Nessa notícia nos é dito que a “economia encolheu inesperadamente no fim do ano passado...” – era assim algo tão inesperado? Nossa sociedade se afastou das antigas regras e das antigas verdades. O hedonismo do mercado agora está junto do hedonismo socialista e, desta forma, nos é dado um novo tipo de sociedade que não entende mais aquilo que é básico na ciência econômica. É uma sociedade que faz empréstimos e se afunda em débito. É uma sociedade que sugere a ideia de tirar algo do nada.
E
é aí que tem início os nossos problemas. O que vem do nada é o nada.
Para que se cresça uma economia é necessário que haja incentivos,
especialmente no livre comércio de bens e serviços. Os inimigos do
capitalismo e do mercado não gostam desse tipo de liberdade. Melhor
condenar essa prática como algo ilusório que não é mais “sustentável”.
Isso explica a ternura dessas pessoas ao falar de “mudanças climáticas,
pico do petróleo e contradições internas do capitalismo”. Obstáculos de
todos os tipos devem ser colocados no caminho do sistema de mercado. Os
homens não devem ser livres para comprar e vender. E, finalmente, quando
se obtém a pobreza como resultado desse pisoteio do sistema de livre
mercado, este último mesmo assim será culpado.
Em
conferência proferia na Escola de Frankfurt no dia 28 de julho de 1967,
o “filósofo” Herbert Marcuse projetou o futuro caminho da Nova
Esquerda. “Estamos lidando com a dialética da libertação”, explicou
Marcuse. Essa libertação era de um sistema repressivo. Com efeito, esse
sistema havia se tornado opulento, poderoso e funcional; mas o sistema
(segundo Marcuse) era moralmente mau e caracterizado pela “servidão
voluntária”. Marcuse havia abandonado desde muito as fórmulas estritas
do marxismo em favor de uma fórmula revolucionária mais frouxa e
hedonista. É aí a raiz do marxismo cultural que pregava a liberação
feminina, o casamento gay e o moderno estado de bem-estar social. E é
isso o que o marxismo se tornou no opulento Ocidente.
De
acordo com Marcuse, “se o socialismo é definido em sua maioria por
termos utópicos, nomeadamente (...) a abolição do trabalho (então se
pressupõe)... uma transvaloração dos valores, uma nova antropologia”.
Nesse caso, o socialismo pressupõe “um tipo de homem que rejeita os
princípios vigentes que estabilizaram as sociedades: um tipo de homem
que se livra da agressividade e da brutalidade que são inerentes à
organização de uma sociedade estabelecida e da sua moralidade hipócrita e
puritana...”
É
aí que Marcuse, como o pai da Nova Esquerda, lega aos seus discípulos o
ideal ao qual eles ainda mantém firmemente incorporado nos dias de
hoje. É o iceberg em que o navio estatal está se arrebentando. É a ideia
do algo por nada – do prazer sem trabalho, da civilização sem
moralidade. Segundo Marcuse, o novo homem não precisa trabalhar. Ele
dedica seu tempo “às pequenas alegrias e prazeres sem peso na
consciência”. Rejeitando o princípio vigente, ele é incapaz de se
superar. Em suma, ele é o homem socialista – e também é o “último homem”
do qual Nietzsche falou: “A terra tornar-se-á então menor, e sobre ela andará aos pulos o último homem, que tudo apouca.”
Agora
vemos como a ética trabalhista se deteriorou. As rebeliões na década de
1960 não se tratavam de uma fase passageira, mas sim a transvaloração
como dita por Marcuse. Vemos também como tudo diminuiu. O próprio homem
se diminuiu conforme foi se tornando cada vez mais incapaz de cuidar de
si mesmo, já que vive sob um inchado estado de bem-estar social.
No
ano de 1900, boa parte dos americanos nasceu em fazendas. Agora
consideremos o que se necessitava para manter uma fazenda naquele ano.
Alguém atualmente trabalha tão duro quanto aqueles americanos? A
transição de uma sociedade rural para uma sociedade urbana nos trouxe
muitos benefícios. Benefícios esses adquiridos por causa da prevalência
da nossa capacidade intelectual. Ao invés de trabalharmos duro da aurora
ao entardecer, somos assistidos por máquinas, astutos engenheiros e
organizadores capitalistas que nos salvam de ter de enfrentar a
extenuante labuta do dia a dia. Assim, deveríamos todos nos lembrar que é
o capitalismo que mobilizou essa capacidade intelectual. É o
investimento e o mercado que nos livrou do trabalho árduo, não o
socialismo. Ao contrário, são os socialistas que organizaram um ataque a
esse mesmo mecanismo que trouxe a verdadeira libertação para milhões de
pessoas.
“Essa
é a libertação de um sistema falso, mau e repressivo”, disse Marcuse na
conferência de 1967. Mas ele estava errado. O capitalismo é o
libertador e o falso sistema é o socialismo. Ironicamente, foi o
capitalismo que tornou o socialismo hedonista possível. Foi a abundância
do capitalismo que permitiu o advento do estado de bem-estar social que
perdura até hoje, cada vez mais forte. Sem abundância não haveria o quê
redistribuir. A conversão para um socialismo hedonista é, portanto,
produto de um bem-sucedido – porém pouquíssimo cauteloso – sistema
capitalista. O marxismo de hoje não é o marxismo da revolução do
proletariado, e sim o marxismo do governo que dá brindes e dos grupos de
interesses especiais.
Como
sugerem as notícias, a economia está encolhendo e assim ela
prosseguirá. Não há em cena neste momento uma força capaz de interromper
essa debacle. Os discípulos de Marcuse estão no poder e não há uma
possibilidade imediata de derrotá-los em uma eleição. O estado de
bem-estar social continuará a crescer mesmo quando o lado produtivo da
economia estiver diminuindo. Tendo em mente que a economia de livre
mercado é parte do nosso patrimônio herdado, não há mais o que dizer
sobre esse assunto, porém finalizarei com uma citação do livro The Strange Death of Marxism de
Paul Gottfried, no qual ele escreve: “A esquerda pós-marxista vai muito
além dos movimentos totalitários do passado (...) ao rejeitar
enfaticamente a cultura ocidental e seu patrimônio histórico.”
Publicado no Financial Sense.
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