editorial do Estadão
O aumento de R$ 4 para R$ 4,30 nas passagens de ônibus, trem e metrô da cidade de São Paulo deu ao Movimento Passe Livre (MPL) o pretexto de que necessitava para voltar às ruas, interrompendo o trânsito entre a Praça do Patriarca e a Rua da Consolação, na última quinta-feira. Ao todo, 15 mil pessoas teriam participado do protesto, que terminou com a depredação de agências bancárias na Avenida Paulista e na Rua Bela Cintra, o tombamento de uma caçamba e a destruição de latas de lixo.
Ao justificar a manifestação, os líderes do movimento alegaram que o reajuste de 7,5% na tarifa do transporte público da capital ficou muito acima da inflação de 2018, que foi de 3,59%. Também afirmaram que, no plano federal, o governo aumentou o salário mínimo abaixo da inflação. E, misturando alhos com bugalhos, disseram ainda que a reforma trabalhista promovida em 2017 “pesou no bolso dos trabalhadores”. Diariamente, 9,5 milhões de passageiros utilizam os 14 mil ônibus que circulam pela cidade. No metrô, são mais de 3,7 milhões.
Em resposta, a Prefeitura de São Paulo argumentou que o reajuste dos ônibus foi estabelecido em 7,5% para reduzir o desequilíbrio financeiro do sistema de transportes públicos. “Por dois anos, em 2016 e 2017, a tarifa não sofreu qualquer reajuste, mantendo-se no valor de R$ 3,80, impactando significativamente o orçamento municipal. Em 2018, houve um aumento abaixo da inflação, elevando o valor para R$ 4,00. Agora, é necessária uma adequação de receita”, disse a Prefeitura, em nota.
As autoridades municipais também afirmam que, para promover essa adequação, decidiram manter a política de subsídio apenas para os passageiros e assegurar a gratuidade para idosos, estudantes e pessoas com deficiências. No caso das empresas, contudo, o vale-transporte deixou de ser subsidiado pelos impostos municipais pagos pelos contribuintes. A medida foi necessária porque o valor do subsídio vinha subindo ano a ano. Em 2013, as companhias de ônibus recebiam R$ 1,6 bilhão. Em 2017, o valor foi de R$ 2,9 bilhões. Apesar das providências tomadas, a estimativa de gastos para 2019 é de R$ 2,7 bilhões.
Os líderes das manifestações do MPL contra o reajuste das passagens de ônibus, trem e metrô, no entanto, não estão preocupados com os números da Prefeitura, cujo equilíbrio é essencial para que os paulistanos possam se locomover diariamente. A motivação do movimento é, exclusivamente, política e ideológica. Basta ver a palavra de ordem dos manifestantes no protesto de quinta-feira. “Não vamos aceitar mais catracas, porque o transporte não pode ser lucro para os de cima e luta para os de baixo”, repetiam eles. Uma nova manifestação contra a Prefeitura e contra o governo do Estado, que também reajustou o preço da integração entre ônibus e trem na região metropolitana de São Paulo, já foi marcada para a próxima quarta-feira, na Praça do Ciclista, e tem tudo pare repetir a baderna e as depredações do patrimônio público e privado ocorridas nos protestos da semana passada.
O MPL ganhou projeção por volta de maio e junho de 2013, quando liderou manifestações que acabaram sendo apropriadas por outros movimentos sociais, o que culminou em violentos protestos por todo o País. Na época, ficou conhecido o manual com base no qual o movimento instruía seus militantes a empregar táticas violentas, como bloquear terminais de ônibus e grandes avenidas. Criado por líderes estudantis em 2005, por ocasião do Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, desde o início o MPL se caracterizou pelo irrealismo de suas reivindicações, que são a adoção da tarifa zero para o transporte coletivo, a conversão do “direito à cidade em direito social” e um sistema de transporte “sem exclusão social”. Mas de onde sairia o dinheiro necessário para sustentar essa mobilidade urbana utópica?
Na realidade, o MPL nada mais é do que um movimento irresponsável que usa direitos sociais como pretexto para afrontar a ordem estabelecida e o império da lei.
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