editorial de O Globo
Se Donald Trump, sucessor de Barack Obama na Casa Branca, implementar as
políticas econômicas anunciadas na campanha eleitoral, os EUA muito
provavelmente passarão por um desalento parecido ao que castiga a
população brasileira, e cujas raízes remontam ao segundo mandato de Luiz
Inácio Lula da Silva e, sobretudo, à desastrosa gestão de Dilma
Rousseff.
A comparação é da economista Monica de Bolle, pesquisadora do Instituto
Peterson de Economia Internacional, em Washington — e faz sentido. Em
entrevista ao site Infomoney e à Bloomberg News, ela disse que “Trump é
uma espécie de Dilma americana sem a carga ideológica de petista”. O
magnata do setor imobiliário venceu as eleições com um discurso voltado
para setores da sociedade americana afetados por transformações
industriais recentes, e grandes vítimas da crise financeira de 2008. A
eles Trump prometeu gerar empregos por meio de expansão fiscal e
protecionismo, fórmula muito semelhante à adotada pelo lupetismo.
Na campanha, o presidente eleito dos EUA elegeu “inimigos” externos,
apontando para imigrantes e parceiros comerciais e estratégicos como os
responsáveis pelos infortúnios internos, especialmente o desemprego e a
perda de imóveis por mutuários de classe média. Trump foi sobretudo
eficaz em construir uma imagem sedutora aos olhos de eleitores
frustrados: a de que ele, pela desvinculação em relação ao sistema
político contaminado, reunia as condições e a disposição para resolver
os problemas que atormentam americanos.
Além de reduzir a carga de impostos sobre a parcela mais rica da
população, Trump pretende estimular setores econômicos específicos,
sobretudo a área de infraestrutura, por meio de alívio tributário,
abrindo mão de receitas. Também deverá pressionar para que o Fed, o
banco central, eleve a taxa básica de juros. Até porque o protecionismo e
os gastos pressionarão a inflação, ameaçando a longo prazo a saúde
fiscal e o crescimento sustentável. Acrescente-se, por fim, o desmonte
de complexos acordos comerciais multilaterais, o que deverá isolar o
país.
Não são poucos os que apostam que a receita trumpista caminha para o
insucesso, configurando um caso de estelionato eleitoral. As razões para
isso podem ser conferidas na história recente brasileira, que culminou
no impeachment de Dilma Rousseff — fim, aliás, que Monica de Bolle,
entre outros, não descarta para o novo titular da Casa Branca, à medida
que Trump, de estilo histriônico, alimenta desconfianças na base do
próprio Partido Republicano.
Ressalvadas as desproporções comparativas e os múltiplos recursos da
maior economia do mundo, pode-se dizer que Trump se arrisca a repetir um
filme cujo final não foi feliz.
extraídaderota2014blogspot
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