, editorial de O Globo
A reação dos promotores da Lava-Jato foi proporcional à ameaça que
passou a pairar sobre qualquer investigação de corrupção depois de
mudanças feitas durante a terça-feira, no plenário da Câmara, no projeto
anticorrupção — ameaçaram pedir demissão caso a proposta não seja
depurada no Senado, e, se isso não ocorrer, deixe de receber o veto do
presidente Michel Temer.
Este gesto, ocorrido ontem, foi mais um da escalada de radicalização
entre promotores, associações de juízes e agentes políticos, e que
precisa ser estancada. Bastam as cenas de violência ocorridas na
Esplanada em Brasília, coibidas, como deve ser, pelas forças de
segurança pública. Este clima não pode é contaminar instituições.
Não é simples a herança recebida por Temer do governo da presidente
impedida — uma economia em recessão histórica, causa de mais de 12
milhões de desempregados, dívida pública sem controle, sinalização de
insolvência do Tesouro e assim por diante. Tudo é intrincado, mas, com
todos os percalços, o combate à crise avança, embora pudesse ser numa
velocidade maior. Enquanto a Câmara entrava em ebulição devido à ação
corporativista de parlamentares para dar o troco em juízes e promotores,
o Senado aprovava, na penúltima rodada de votação, a PEC do teto, passo
importante do ajuste.
Depois de sua aprovação final, em dias, poderá ser tocada a reforma da
Previdência, segundo pilar de sustentação do importantíssimo ajuste
fiscal.
Já se passaram momentos de tensão, e virão outros. Importante é todos
evitarem que o nível desta tensão, já bastante elevado, continue a
subir.
Se o momento é delicado na política, também na economia ainda há
obstáculos a superar, até que se possa enxergar o horizonte.
Minimamente, a reforma avança, com a PEC do teto. Porém, a reação dos
agentes do mercado, com reflexos na economia real, está aquém do que era
esperado.
O PIB ainda fraqueja, a recessão dá sinais de continuar profunda, o
desemprego deverá subir ainda mais e, diante deste conjunto de
dificuldades, a retomada do crescimento será mais lenta que o previsto
anteriormente, refletindo-se de forma direta num retorno lento à criação
de empregos.
Não tem sentido, portanto, diante deste quadro, que poderes tentem
atrapalhar outros poderes, como acontece nesta tentativa de aprovação de
projetos que criminalizam juízes e procuradores. É indiscutível que a
legislação sobre abusos de autoridade está defasada. Mas o momento não é
este de reformá-la.
A presidente do Supremo, ministra Cármen Lúcia, emitiu nota deixando
claro que entende que esses projetos resultam na redução da
independência do Judiciário. Sinaliza, então, que essas iniciativas
tendem a desaguar no próprio Supremo. Melhor, então, que todos se
entendam, porque tudo isso provocará uma perda preciosa de tempo para o
Congresso aprovar o que é preciso, e aliviar a pressão. Ganharão todos.
extraídaderota2014blogspot
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