CARLOS ALBERTO SARDENBERG O Globo
Provocado pelo pessoal
da Associação Brasileira de Shopping Centers com o tema “O Brasil que
temos e o Brasil que queremos”, o ministro do STF Luís Roberto Barroso
apresentou um conjunto de dez ideias que a gente poderia chamar de
liberal e progressista, não estivessem esses termos tão embaraçados.
E
para embaraçar um pouco mais, podemos dizer que o ministro apresenta
algo moderno ao buscar temas do passado. O que pode ser mais velho do
que dizer que só a iniciativa privada gera riquezas? Pois foi o que
Barroso sugeriu: o Brasil precisa de menos Estado, menos oficialismo e
mais livre empreendedorismo. Ou seja, capitalismo de verdade, não esse
praticado no país nos últimos tempos, uma associação criminosa e imoral
entre governo e empresas cartelizadas e, de algum modo, beneficiadas com
dinheiro público.
Mas o capitalismo não gera desigualdades?
O
ministro, falando no congresso da entidade na última terça, não fugiu
do tema. E tomou outra ideia antiga: o mais importante é a igualdade na
partida. Aqui aparece talvez a mais importante missão do Estado:
fornecer a todos uma educação de qualidade.
Dito de outro modo,
não pode haver um bom capitalismo sem um Estado eficiente, que garanta
os bens comuns, como escola, saúde, segurança, mas, sobretudo, a
educação.
Sim, esta é uma ideia velha e, sobretudo, praticada
largamente com sucesso pelo mundo afora. Aliás, neste aspecto, Barroso
mostrou-se internacionalista. Sugeriu que a gente contratasse
consultorias internacionais para avaliar a escola brasileira, do
fundamental ao superior, e apresentar propostas. O ministro já adiantou
algumas, ao comentar a decadência das universidades públicas: “Todo ano
começa com uma greve”.
A favor de um tipo de internacionalização,
Barroso disse que precisamos de mais intercâmbio com as universidades
do mundo, precisamos abrir nossas faculdades para o saber externo,
trazendo mestres, com aulas em inglês e espanhol, por exemplo.
De
novo, é o que se faz nos países bem-sucedidos em educação. Mas se trata
de uma proposta odiada pela elite acadêmica brasileira e,
especialmente, pelos sindicatos de professores. Dizem que é para
proteger nossa cultura. Na verdade, é reserva de mercado e, sobretudo,
medo da competição, da comparação.
Por contraste, ao sugerir a abertura, o ministro Barroso parece um revolucionário.
E
também quando sugere um corte radical nos famigerados cargos em
comissão — esse instrumento do aparelhamento do Estado e da corrupção,
isso agora por nossa conta.
Os números são eloquentes. Cargos em
comissão preenchidos no âmbito do governo federal brasileiro, a maior
parte com nomeação do presidente da República: 23 mil. Nos EUA, oito
mil. Na França, 550. E ainda temos um crescente quadro de concursados.
Barroso
defendeu a reforma da Previdência — a necessidade disso “é intuitiva” —
o equilíbrio fiscal e, neste item, a recuperação do Orçamento como peça
política de alocação de recursos para o benefício da sociedade, em vez
do Orçamento assaltado todo ano pelas forças políticas — aqui, de novo,
comentário por nossa conta.
O ministro disse que o combate à
corrupção em curso é um avanço notável e defendeu a regra pela qual a
pessoa deve cumprir pena depois de ter sido condenada em segunda
instância.
Tema crucial este, que está para ser revisitado pelo
Supremo Tribunal Federal. A tese contrária, resumindo, diz que a pessoa
só pode ir em cana depois de condenada em “última, ultimíssima
instância”, o STF — o que abre espaço para quem pode contratar bons
advogados e, com uma farra de recursos, protelar para sempre o
julgamento. Aqui também o acréscimo é nosso.
Barroso citou ainda a
reforma política, aliás a primeiro item de seu decálogo. Defendeu o fim
das coligações em eleição proporcional — regra pela qual o eleitor não
sabe qual deputado elegeu e este não sabe quem o elegeu. Defendeu também
a cláusula de barreira — isso para o curto prazo. Para o futuro, a
proposta é o sistema distrital misto, como o alemão.
Como
políticas públicas, Barroso mostrou a necessidade de um esforço máximo
no saneamento básico e preservação do meio ambiente. Aqui, de novo, foi
moderno ao comentar ideia velha: é preciso ter um sistema no qual
preservar a floresta seja mais lucrativo e mais eficiente economicamente
do que destruí-la.
A pergunta que fica é a seguinte: por que a sociedade brasileira simplesmente não copia o que deu certo em outros lugares?




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