editorial de O Globo
Virada a página de Eduardo Cunha, neste longo capítulo sobre como a
corrupção serve de método de exercício do poder no Brasil, cresce no
enredo a figura do ex-presidente Lula, denunciado na quarta-feira, com a
mulher, Marisa Letícia, pela Operação Lava-Jato, por corrupção, passiva
e ativa, e lavagem de dinheiro.
Acompanham o casal, na denúncia feita no caso do tríplex do Guarujá, o
presidente do Instituto Lula, Paulo Okamoto; Léo Pinheiro, da
empreiteira OAS, acusado de ceder o imóvel como propina em troca de
contratos; e mais quatro executivos da empreiteira (Paulo Gordilho,
Agenor Medeiros, Fábio Yonamine e Roberto Ferreira).
A força-tarefa baseada em Curitiba, com o procurador Deltan Dallagnol à
frente, aproveitou a denúncia para expor o entendimento da Lava-Jato de
que Lula foi o “comandante supremo” da organização criminosa instalada
em Brasília desde 2003, quando o líder petista assumiu a presidência
pela primeira vez.
Funcionou como uma avant-première da acusação que deverá ser formalizada
contra o ex-presidente pelo próprio procurador-geral da República,
Rodrigo Janot, no principal inquérito da Lava-Jato.
A figura de Lula como “capo” máximo é uma ideia presente desde que, em
2005, o aliado petebista Roberto Jefferson denunciou o mensalão, em
entrevista à “Folha de S.Paulo”. Do escândalo, emergiu José Dirceu,
ministro-chefe da Casa Civil de Lula, como “chefe da organização”. Mas
nunca foi afastada a possibilidade de haver alguém acima dele — e só
poderia ser Lula. O então presidente chegou a pedir desculpas à nação,
enquanto se dizia traído. Mas voltou atrás, passou a negar a existência
do esquema de drenagem de dinheiro do Banco do Brasil, principalmente,
para azeitar sua base parlamentar. Não conseguiu evitar, porém, a
condenação de Dirceu e de parte da cúpula petista (Delúbio, Genoíno,
João Paulo Cunha) à prisão, pelo STF.
O tríplex do Guarujá — cuja existência foi revelada pelo GLOBO — e
gastos da OAS com a guarda do acervo presidencial de Lula não esgotam o
conjunto dos benefícios ilícitos que teriam sido destinados ao líder
petista. Deve-se considerar que continuam as investigações sobre o
pagamento generoso por palestras dadas por Lula a convite de empresas,
dentro e fora do país, bem como vasculham-se as finanças do seu próprio
instituto.
Devido ao cacoete do lulopetismo e do ex-presidente, em especial, de se
vitimizarem, mesmo o seu advogado, Cristiano Zanin Martins, politizou a
defesa que fez do cliente, logo após a apresentação da força-tarefa em
Curitiba. Segundo o advogado, tudo se explica porque “Lula foi um
presidente eleito democraticamente por duas vezes”.
A mesma linha de defesa foi ecoada pela ex-presidente Dilma: sem provas,
os procuradores querem prejudicar uma candidatura presidencial de Lula
em 2018, disse. Ontem à tarde, o próprio Lula chorou ao se defender,
desafiando os procuradores a provarem as acusações.
É mesmo fato que provas consistentes precisam ser apresentadas. O juiz
Sérgio Moro, também sob fogo lulopetista, precisa de argumentos sólidos,
por óbvio, para converter Lula e demais denunciados em réus, neste e
nos demais processos.
Não há dúvida é que se vive uma etapa importante da reação das
instituições republicanas brasileiras ao projeto de poder autoritário
que o lulopetismo tentou executar, infiltrando-se nos aparelhos de
Estado para subjugá-los.
EXTRAÍDADEAVARANDABLOGSPOT
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