Jornalista Andrade Junior

sexta-feira, 3 de junho de 2016

"Crise terminal na Venezuela é oportunidade para Brasil",

editorial de O Globo

Itamaraty apoia proposta de diálogo entre oposição e regime chavista, enquanto militares fazem crítica a Maduro, e crescem temores de golpe no país



O Brasil deverá apoiar a proposta de diálogo apresentada pela Argentina para tentar superar a crise política na Venezuela. Trata-se de uma alternativa à posição do secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, que invocou a Carta Democrática Interamericana para obrigar o presidente Nicolás Maduro ao diálogo, sob a ameaça de suspensão do país da entidade, e convocou uma reunião entre os dias 10 e 20 de junho para tratar o assunto. Além disso, a proposta da Casa Rosada vem num momento em que setores militares emitem sinais de clara insatisfação com o presidente venezuelano, alimentando temores de um golpe.
A proposta argentina defende a continuidade das negociações iniciadas na semana passada, na República Dominicana, sob coordenação da União de Nações Sul-Americanas (Unasul). Na ocasião, representantes do governo de Maduro e da oposição se encontraram, em reuniões separadas, com uma comissão de mediadores, liderada por três ex-presidentes — José Luis Rodríguez Zapatero (Espanha), Leonel Fernández (República Dominicana) e Martín Torrijos (Panamá). A proposta, que visa a buscar uma solução “de comum acordo”, tem o apoio dos EUA, entre outros países, como Honduras, México e Peru, e incluiria outras frentes de negociação que surgiram na arena política venezuelana.
Maduro aproveitou o pedido de Almagro, com quem vem trocando farpas há meses, para reforçar a retórica da intervenção externa nos assuntos internos da Venezuela e convocou a população a resistir. “Sou alvo dos ataques das oligarquias do mundo e suas marionetes”, reagiu Maduro. Balela.
O presidente da Venezuela também prometeu levar à Justiça o líder da Assembleia Nacional, Henry Ramos Allup, por “traição” e “usurpação de poder”. O poder de Maduro, porém, se enfraquece aceleradamente mediante o colapso das estruturas sociais, econômicas e políticas do país, numa uma crise sem precedente. Além da maior inflação do planeta, a população vive uma escassez generalizada de remédios, alimentos, água e energia elétrica.
A crise na Venezuela é uma oportunidade para o Brasil enfim exercer um papel consequente na Venezuela. Se antes o país mantinha uma postura alinhada ideologicamente às nações bolivarianas, ignorando violações de direitos humanos pelo governo de Caracas, agora, com José Serra no Itamaraty, adota uma posição mais profissional e independente. Com isso, o país poderá ter um papel condizente à estatura de sua liderança regional, auxiliando na busca de uma solução negociada. Indagado sobre a proposta da OEA e a alternativa argentina, Serra afirmou que o Brasil analisará as propostas, mas favorece um entendimento que leve a uma resolução urgente. É a melhor postura.
Diante da desintegração do país e os sinais potenciais de insurgência nos quartéis, seria um desastre para o povo venezuelano sair de um regime autoritário para uma ditadura militar.


















extraídaderota2014blogspot

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