editorial da Folha de São Paulo
O noticiário cotidiano tem-se encarregado de impor necessário e enfático
desmentido a pronunciamentos como o feito recentemente pelo ministro
Eliseu Padilha, da Casa Civil, no sentido de que as autoridades
responsáveis pela Operação Lava Jato haverão de, a certa altura, pensar
em concluir suas investigações.
Em vez de declinar, o ímpeto da Lava Jato começa a ter reflexos em
outras ações policiais, externas ao âmbito da chamada "República de
Curitiba". Partiu de São Paulo, numa operação intitulada Custo Brasil, a
iniciativa de requerer a prisão preventiva de Paulo Bernardo, ex-ministro dos governos petistas de Lula e Dilma Rousseff.
Bernardo é acusado de receber cerca de R$ 7 milhões em propina, dentro
de um esquema que teria desviado um total de R$ 100 milhões por meio de
contratos irregulares de uma empresa de informática com a pasta do
Planejamento.
Na mesma investida da Polícia Federal, foi preso Valter Correia,
secretário municipal de Gestão da administração Fernando Haddad (PT),
em São Paulo. A sede nacional do partido, na capital paulista, e o
escritório de Brasília tornaram-se, ademais, objeto de ações de busca e
apreensão.
Repetida em nota oficial, a habitual alegação de que está em curso uma
tentativa de criminalizar o PT fica menos convincente do que nunca.
Bastaria lembrar a circunstância de que um dos maiores desafetos do
partido, o deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), viu-se ainda nesta
semana novamente na condição de réu perante o Supremo Tribunal Federal.
Paralelamente, apura-se em Pernambuco a suspeita de que as campanhas de
Eduardo Campos (PSB) em 2010 (para governador) e 2014 (para presidente)
beneficiaram-se de um mecanismo de corrupção que, no total, teria
movimentado cerca de R$ 600 milhões.
A partir de dois delatores da Lava Jato, investigaram-se as contas de um
dos donos do jatinho cujo acidente ocasionou a morte do pessebista.
Preso, o empresário João Carlos Lyra foi reconhecido como a pessoa que
fazia repasses da construtora Camargo Corrêa a Campos e seus
correligionários.
O PSDB, por sua vez, é atingido na figura de seu antigo presidente, o
falecido senador Sérgio Guerra, de quem se revelam os entendimentos que
teve para abafar a CPI da Petrobras em 2009 —sem mencionar as diversas
vezes em que o nome do atual presidente da sigla, senador Aécio Neves
(MG), aparece em delações premiadas.
Tudo indica que não há fim à vista para a Lava Jato e seus
desdobramentos —e é exatamente isto que se deseja do inédito
desvelamento de práticas generalizadas de assalto a cofres públicos
perpetradas por políticos de todos os matizes.
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