Jornalista Andrade Junior

domingo, 26 de junho de 2016

"Brasil e Argentina lenientes diante da Venezuela",

 editorial de O Globo

Eleição de Macri e chegada do tucano José Serra ao Itamaraty não se traduziram em uma diplomacia mais atuante contra a violação de direitos humanos no país vizinho



A Organização dos Estados Americanos (OEA) iniciou esta semana reuniões cruciais para discutir a crise da Venezuela. Ontem, o Conselho Permanente da entidade se reuniu com representantes do governo, num encontro mediado pelos ex-chefes de Estado e governo José Luis Rodríguez Zapatero, da Espanha; Leonel Fernández, da República Dominicana; e Martín Torrijos, do Panamá, com apoio da Unasul. Amanhã, o status de democracia do país deverá ser examinado a pedido do secretário-geral Luis Almagro, que invocou a Carta Democrática da OEA, podendo resultar na suspensão da Venezuela por violação de direitos humanos. Caracas tentava ontem suspender este encontro.
Os atores envolvidos nas negociações ressaltam a importância do diálogo entre oposição e o governo de Nicolás Maduro. Mas enquanto a diplomacia regional debate o impasse político, o país afunda na mais grave crise de sua história. Com a maior inflação do mundo e uma economia totalmente desestruturada, a população vive sob escassez generalizada e um índice explosivo de violência. Há racionamento de água e energia elétrica e extensas filas para se obter itens de primeira necessidade, inclusive alimentos e remédios.
A oposição, que domina a Assembleia Nacional, obteve 1,35 milhão de assinaturas para convocar um referendo revocatório do governo. No entanto, o regime, além de manter importantes líderes da oposição na prisão, como Leopoldo López, aparelhou instituições como o Judiciário, o que impede inciativas de mudança. É dessa forma que Maduro tenta anular ou adiar a consulta. Se o referendo não for realizado este ano, em vez de novas eleições, assumirá o vice-presidente, o chavista Jorge Arreaza e tudo continuará igual.
A eleição de Mauricio Macri, crítico de Maduro, para a Presidência da Argentina, e a chegada de José Serra ao Itamaraty, cujo partido liderou no Senado brasileiro um movimento pela punição do regime bolivariano por violação da cláusula democrática do Mercosul, sugeriam uma mudança de posição radical da diplomacia dos dois principais sócios da Venezuela no bloco sul-americano. No entanto, o Itamaraty continua reticente, afirmando que “apoia iniciativas construtivas que visem a promover o entendimento entre o governo da Venezuela e a oposição”.
Macri, por sua vez, mudou de tom para eleger sua chanceler, Susana Malcorra, no lugar de Ban Ki-moon. Ela enfrenta duas rivais na briga pela secretaria-geral da ONU, a búlgara Irina Bokova e Helen Clark, ex-premier da Nova Zelândia. O titular do cargo é indicado pelos países-membros do Conselho de Segurança, onde a Venezuela ocupa um dos assentos rotativos. E o governo argentino vem, segundo a imprensa regional, negociando com Maduro não só o voto venezuelano, mas também sua influência sobre outros membros, como Rússia e China. Diante da calamidade que assola a Venezuela, é frustrante ver importantes nações sul-americanas fugindo à responsabilidade que a situação impõe.
























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