editorial de O Globo
A Organização dos Estados Americanos (OEA) iniciou esta semana reuniões
cruciais para discutir a crise da Venezuela. Ontem, o Conselho
Permanente da entidade se reuniu com representantes do governo, num
encontro mediado pelos ex-chefes de Estado e governo José Luis Rodríguez
Zapatero, da Espanha; Leonel Fernández, da República Dominicana; e
Martín Torrijos, do Panamá, com apoio da Unasul. Amanhã, o status de
democracia do país deverá ser examinado a pedido do secretário-geral
Luis Almagro, que invocou a Carta Democrática da OEA, podendo resultar
na suspensão da Venezuela por violação de direitos humanos. Caracas
tentava ontem suspender este encontro.
Os atores envolvidos nas negociações ressaltam a importância do diálogo
entre oposição e o governo de Nicolás Maduro. Mas enquanto a diplomacia
regional debate o impasse político, o país afunda na mais grave crise de
sua história. Com a maior inflação do mundo e uma economia totalmente
desestruturada, a população vive sob escassez generalizada e um índice
explosivo de violência. Há racionamento de água e energia elétrica e
extensas filas para se obter itens de primeira necessidade, inclusive
alimentos e remédios.
A oposição, que domina a Assembleia Nacional, obteve 1,35 milhão de
assinaturas para convocar um referendo revocatório do governo. No
entanto, o regime, além de manter importantes líderes da oposição na
prisão, como Leopoldo López, aparelhou instituições como o Judiciário, o
que impede inciativas de mudança. É dessa forma que Maduro tenta anular
ou adiar a consulta. Se o referendo não for realizado este ano, em vez
de novas eleições, assumirá o vice-presidente, o chavista Jorge Arreaza e
tudo continuará igual.
A eleição de Mauricio Macri, crítico de Maduro, para a Presidência da
Argentina, e a chegada de José Serra ao Itamaraty, cujo partido liderou
no Senado brasileiro um movimento pela punição do regime bolivariano por
violação da cláusula democrática do Mercosul, sugeriam uma mudança de
posição radical da diplomacia dos dois principais sócios da Venezuela no
bloco sul-americano. No entanto, o Itamaraty continua reticente,
afirmando que “apoia iniciativas construtivas que visem a promover o
entendimento entre o governo da Venezuela e a oposição”.
Macri, por sua vez, mudou de tom para eleger sua chanceler, Susana
Malcorra, no lugar de Ban Ki-moon. Ela enfrenta duas rivais na briga
pela secretaria-geral da ONU, a búlgara Irina Bokova e Helen Clark,
ex-premier da Nova Zelândia. O titular do cargo é indicado pelos
países-membros do Conselho de Segurança, onde a Venezuela ocupa um dos
assentos rotativos. E o governo argentino vem, segundo a imprensa
regional, negociando com Maduro não só o voto venezuelano, mas também
sua influência sobre outros membros, como Rússia e China. Diante da
calamidade que assola a Venezuela, é frustrante ver importantes nações
sul-americanas fugindo à responsabilidade que a situação impõe.
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