HÉLIO SCHWARTSMAN Folha de S.Paulo
Por que democracias às vezes levam a decisões objetivamente erradas? O problema, como sempre, é a natureza humana. Quando lidamos com características indesejáveis que se distribuem aleatoriamente pela população, como o pendor para o radicalismo, as democracias até se saem bem. As posições mais extremas do espectro ideológico tendem a anular-se, resultando em regimes cuja marca é a moderação e a responsabilidade. Não há registro de guerra entre dois países democráticos.
Quando, porém, os erros não são aleatórios, mas sistemáticos, isto é, quando se calcam em vieses cognitivos, a coisa muda de figura. Dependendo das circunstâncias, a democracia pode agravá-los. Um bom exemplo, que influiu na decisão dos britânicos, é o viés antiestrangeiro.
Por razões evolutivas, tendemos a desconfiar de gente que não pertence a nosso grupo. Não é preciso mais do que uma alta no desemprego e um orador oportunista para magnificar e instrumentalizar o sentimento xenófobo. A imigração, que, na verdade, é a solução para o grave problema demográfico enfrentado pela Europa, passa a ser vista como uma ameaça não apenas a empregos como também aos valores da nação.
As democracias, no fundo, funcionam não porque promovam as melhores decisões, mas pela razão mais modesta de que disciplinam a disputa pelo poder, tornando-a menos violenta. Não é pouco. Apesar de o Brexit causar uma enorme crise na UE, nem os mais pessimistas cenários incluem guerras -que eram a regra no continente até meados do século 20.
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