Carlos Newton
A disputa é desigual, porque no jogo sujo do Congresso Nacional é muito difícil derrotar quem está de posse da caneta que “nomeia, demite, manda prender e soltar”, como dizia o político mineiro Benedito Valadares. No momento, quem detém esse poder é o presidente interino Michel Temer, que está usando a caneta para garantir os 54 votos necessários para seguir governando até 2018 (se a Justiça Eleitoral não pensar diferente, é claro). Quando à presidente afastada Dilma Rousseff, não tem mais caneta e ficou sem a menor chance de voltar ao poder.
Enquanto esteve no governo, Dilma jamais soube usar a caneta e agora a única coisa que oferece aos senadores é a promessa de promover um plebiscito para convocar eleições antecipadas, e não há um só parlamentar indeciso que sonhe com isso, a não ser Cristovam Buarque. O senador entrou para o PPS e quer ser novamente candidato a presidente, mas é para valer. Ele sabe que não vence, quer apenas ganhar visibilidade eleitoral para depois se reeleger ao Senado.
CRITÉRIOS ARITMÉTICOS– Os jovens jornalistas que fazem a cobertura da política usam critérios meramente aritméticos para prever como será a votação decisiva do impeachment, em agosto. Acontece que essa conta não pode ser feita simplesmente com números, é preciso determinar também o peso de cada um dos fatores, e o principal deles é… a caneta.
Dilma Rousseff não conseguiu apoio nem mesmo quando estava de posse desse instrumento, que é fundamental na política brasileira. Primeiro, perdeu na Câmara por 367 votos a 137 , com duas ausências e sete abstenções. Depois, no Senado, o placar foi 55 a 22, com três ausências e a abstenção do presidente Renan Calheiros.
NÃO EXISTEM INDECISOS – Os jornalistas fazem e refazem as contas, dizem que há 26 indecisos e Dilma teria 18 votos certos. Isso significaria que, teoricamente, ela precisa de apenas mais 10 votos para completar 28 e se livrar do impeachment. Bem ,sonhar não é proibido.
O fato é que são necessários 54 votos para despachar Dilma e na primeira votação, logo de cara, 55 apoiaram a saída dela. Agora, segundo esses ingênuos jornalistas, 18 dos 55 senadores teriam pensado melhor e ainda vão decidir o que fazer.
Deve ser a Piada do Ano. Na verdade, não há indecisos, todos sabem muito bem como irão votar. Estão apenas imitando o senador Romário (PSB-RJ) e “valorizando o passe”. Fizeram exigências a Michel Temer e estão aguardando que ele use a caneta. Apenas isso. Nem pensam em votar a favor de Dilma.
O FILHO DE PERRELLA – Na primeira votação, o senador Zezé Perrela (PTB-MG) votou a favor do afastamento de Dilma. Agora exigiu que seu filho Gustavo, ex-deputado estadual, fosse nomeado para uma secretaria do Ministério dos Esportes.
Depois de o helicóptero da empresa da família ter sido apreendido pela Polícia Federal com 430 quilos de cocaína, Gustavo Perrella ficou longe de estar acima de qualquer suspeita, como diria o cineasta Elio Petri. O jovem Gustavo foi até inocentado, por faltas de provas, mas se constatou que ele empregara o piloto como funcionário da Assembléia, para economizar o salário dele, e gastou quase R$ 15 mil de sua verba parlamentar para abastecer a aeronave.
O QUE IMPORTA É O VOTO – Mesmo sabendo da tenebrosa repercussão que inevitavelmente haveria, Temer mandou nomear Gustavo Perrela e garantiu o voto do pai dele. Outros senadores “indecisos” apresentaram reivindicações e estão sendo atendidos.
É por isso que se pode dizer, sem medo de errar, que a presidente afastada Dilma Rousseff tem chance zero de evitar o impeachment, já que seu substituto Michel Temer usa a caneta melhor do que ela.
É triste constatar que a política brasileira funciona nesses moldes, mas não temos alternativa no momento. O dado positivo é que o setor industrial começou a reagir, há mais otimismo entre os empresários e já se pode até perceber que Michel Temer governa muito melhor do que Dilma Rousseff. Aliás, como diz o deputado Tiririca, sem a Dilma pior não fica.
EXTRAÍDADETRIBUNADAINTERNET
0 comments:
Postar um comentário