Com Blog do Mineiro Luiz Antônio Novaes
Num plenário vazio para uma quarta-feira, o procurador Dallagnol, da
Lava-Jato, apelou aos poucos deputados presentes que aprovassem o pacote
do MP anticorrupção, na Câmara há meses. E citou uma estimativa
astronômica, não dele, mas da ONU: o Brasil perde com desvios e fraudes
R$ 200 bilhões anuais. “A corrupção é uma serial killer que se disfarça
de buracos de estrada, falta de medicamentos, crimes de ruas e pobreza”.
No dia seguinte, ouvimos, no sotaque paulista da Operação Custo Brasil,
que ela também se traveste de taxas irrisórias de R$1,25, retiradas
pelo próprio governo dos contracheques de centenas de milhares de
servidores e aposentados. Segundo a denúncia, a partir do Planejamento,
R$100 milhões foram desviados de empréstimos consignados, entre 2009 e
2015, para integrantes do esquema e para o PT.
Se confirmado, o “escândalo do tostão”, que levou à primeira prisão de
um ex-ministro de Dilma, Paulo Bernardo, terá, pela vilania de furtar
trabalhadores endividados, efeito ainda mais devastador para o PT do que
os bilhões roubados, via empreiteiras, da Petrobras. A impactante Custo
Brasil, que prendeu ainda um secretário de Haddad e outro ex-tesoureiro
petista, além de atingir o ex-ministro Gabas, é o filhote de Curitiba
que nasceu em São Paulo recolocando no foco o PT. Na terça-feira, a
Operação Turbulência sacudiu Recife e o PSB de Eduardo Campos, herdado
por Marina Silva na campanha de 2014. Nas semanas anteriores quem esteve
no olho do furacão foi PMDB, com a delação de Sérgio Machado, sob
coordenação de Brasília. O modelo consagrado no Paraná, de atuação
conjunta da força-tarefa PF-MP-Justiça, se espraia para os demais
estados.
No Senado, a comissão do impeachment continua em sua modorra: até um
assistente de Eduardo Cardozo não resistiu e cochilou. Às voltas com a
prisão do marido, Paulo Bernardo, a senadora Gleisi, que também está
denunciada na Lava-Jato, não deverá se dedicar tanto à defesa de Dilma.
Esperando a retomada das ações contra Lula, o que Moro fez somente ontem
à noite, o PT foi pego de surpresa e pouco reagiu ao novo escândalo —
que abate sem dúvida a moral da tropa dilmista. De moral baixa também
anda Eduardo Cunha, que virou réu pela segunda vez no STF, agora pelos
milhões escondidos na Suíça, e segue para o cadafalso da cassação ou da
prisão.
No oficial e no paralelo (1)
O Departamento de Polícia Federal (DPF) também contratou, via
Coordenação de Tecnologia de Informática, a Consist Software — empresa
que a própria PF acusa de ter desviado R$ 100 milhões da folha do
Ministério do Planejamento em favor do PT. Segundo o Siafi, cerca de R$
500 mil foram pagos entre 2008 e 2010. Além da PF, a Consist teve ainda
como clientes o Ministério da Defesa, o Exército e a Marinha — que
desembolsou R$ 1,57 por fatura emitida.
No oficial e no paralelo (2)
Mas o melhor cliente da Consist, de longe, foi o Serpro, da Fazenda: de
2005 a 2008, pagou mais de R$ 34 milhões, enquanto os gastos da Marinha,
segunda colocada, não chegaram a R$ 2 milhões. O fluxo do Serpro parou
em 2008. A partir daí, começou, segundo a Custo Brasil, o desvio
milionário no Planejamento. Um esquema tão clandestino, chamado de
“cooperação técnica”, que sequer aparece no Siafi. Nos demais casos, não
há notícia de irregularidades.
Operação casada
Na véspera de Paulo Bernardo ser preso e ter documentos confiscados na
casa da família em Brasília, dois ministros, Toffoli e Gilmar, votaram a
favor de manter a mulher e a filha de Eduardo Cunha no STF. A extensão
indireta do foro privilegiado a parentes foi defendida pelo Senado no
Supremo, imediatamente após a PF entrar no apartamento funcional da
senadora Gleisi, mulher de Bernardo, apoiada em mandado da Justiça
Federal de SP.
Ponto morto
Tanto faz. Com Dilma ou Temer, nada anda na CPI do Carf na Câmara.
Oposição e governo se uniram esta semana para derrubar o quórum. Há mais
de cem requerimentos esperando votação — inclusive a convocação de Luís
Cláudio Lula da Silva. O prazo acaba em 2 de julho. Na finada CPI do
Senado, que encerrou em dezembro, nenhum político ou parente de político
foi indiciado.
Vinte anos depois
Há mais semelhanças entre Paulo César Farias, do esquema PC, e Paulo
César Morato, da Operação Turbulência, do que os nomes. Metidos em
lavagem de dinheiro para políticos, ambos foram empresários foragidos e
apareceram mortos num final de junho.
Imobilidade
Se a Dilma só restou a bicicleta, após perder jatinho, carro oficial e
moto, a situação de Cunha é bem mais desconfortável: não pode, segundo o
STF, nem caminhar na Câmara.
Falando para cima
Com exceção de Sarney, que ameaçou, nenhum dos acusados por Sérgio
Machado anunciou processos contra o delator. Nem Temer, que, segundo
explicou, “não fala para baixo”, nem Renan, nem Jucá, nem Lobão, nem
Henrique Alves. Dizem que Machado “mente do início ao fim” — mas ninguém
o enfrenta judicialmente.
Humor negro
De Barroso para Teori, na sessão que tornou Cunha réu pelas contas na
Suíça: — O país teve uma sorte imensa ao ter o senhor para conduzir esse
processo.
— Quem não teve sorte fui eu — rebateu, de pronto, o relator adepto de
remédios amargos para a crise. O sisudo plenário teve de rir.
Alerta vermelho (1)
O perigo ronda Haddad. Com o marqueteiro de 2012 preso em Curitiba e o
quase vice citado na Lava-Jato, o prefeito enfrenta agora em casa o
desgaste da Custo Brasil — que mandou para a cadeia seu secretário de
Gestão.
Alerta vermelho (2)
Tá feia a coisa no PT de São Paulo. Contra 257 candidatos que disputaram
as eleições municipais em 2012, o partido espera no máximo 120 em 2016.
Depois de tudo
Para tentar sair das cordas, o PT marcou um Encontro Nacional
Extraordinário para... dezembro. Depois da Olimpíada, do impeachment e
das eleições municipais.
Codinome
No sistema informatizado de propina, Marcelo Odebrecht era Gigi.
extraídaderota2014blogspot
0 comments:
Postar um comentário