Jornalista Andrade Junior

quinta-feira, 30 de junho de 2016

Risco de populismo e caixa dois na eleição municipal -

 EDITORIAL O GLOBO

Atender a interesses individuais e de corporações, de grupos partidários ou de setores empresariais em detrimento do conjunto da sociedade é prática deletéria


A notícia de que o pré-candidato à prefeitura do Rio Pedro Paulo Carvalho vai proibir o Uber caso seja eleito acionou o alerta para a grande possibilidade de as próximas eleições serem marcadas — numa intensidade jamais vista — por populismo e corporativismo. Não que surpreenda, mas será a primeira vez em que valerá a proibição de doações de empresas, diminuindo a quantidade de dinheiro disponível para propaganda, e os candidatos deverão tentar compensar a falta de recursos apostando ainda mais em práticas nocivas. Estarão em alta promessas que garantem votos de grupos específicos, mas são lesivas à coletividade, caso da proibição do aplicativo, uma alternativa ao sofrível serviço de táxis na cidade. Há, ainda, grande risco de mais caixa dois e compra de votos por esquemas clientelistas.

A Justiça Eleitoral deverá ficar atenta. Populismo e assistencialismo são pragas que assolam a política fluminense há décadas. Nos chamados “centros sociais”, candidatos a vereador e prefeito — e deputados aos quais são ligados — costumam oferecer tratamento dentário, consultas médicas e assistência jurídica em troca de votos. Alguns foram fechados por ordem judicial em 2014, mas sempre há risco de voltarem, trazendo para o subúrbio e a Baixada práticas das áreas mais atrasadas do país.

O assistencialismo traz um paradoxo, porque os eleitos para trabalhar por serviços eficientes serão os maiores interessados em mantê-los precários, já que disso depende a sua sobrevivência política.

Querem ser vistos pelo eleitor de baixa renda como salvadores do povo. Além disso, o dinheiro usado nos centros sociais não apareceria na prestação de contas dos candidatos. Ou seja, gasto típico de caixa dois.

Conforme destaca o sociólogo e cientista político Gláucio Soares, a proibição do Uber põe nas mãos dos candidatos um potencial de 250 mil votos — levando-se em conta as famílias dos taxistas —, mas deixa de lado a liberdade de escolha do usuário. Da mesma forma, o assistencialismo e a compra de votos dão ao eleitor a ilusão de que seu problema foi resolvido mas, na verdade, o agravam. Tais práticas só dificultam uma ação política que resulte efetivamente em melhorias para todos.

Atender a interesses individuais e de corporações, de grupos partidários ou de setores empresariais em detrimento do conjunto da sociedade é prática deletéria. E isso nunca foi tão evidente quanto agora.





















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