CORA RÓNAI O GLOBO
Na semana passada, aproveitei o tempo do voo de Houston para o Rio para pôr o trabalho em dia. Paguei US$ 16 para ter internet durante todo o tempo da viagem e, ainda que continue achando WiFi a bordo uma espécie de milagre, durante alguns momentos me irritei com a instabilidade da conexão. Problema de Primeiro Mundo total! Dois dias antes, uma corte federal americana havia estabelecido que banda larga não é luxo, mas serviço de utilidade pública, como luz, água ou telefone.
É difícil imaginar que, no mesmo planeta em que isso acontece, ainda há bilhões de pessoas sem acesso a computadores, à margem da rede de conhecimento e de ideias que eles proporcionam. Ao longo do tempo, várias tentativas de inclusão têm sido feitas para diminuir esse contingente de excluídos: elas passam, em geral, por máquinas básicas baratinhas e sistemas operacionais gratuitos que funcionam bastante bem, mas esbarram invariavelmente na falta de infraestrutura local para a internet, inexistente ou tão lenta que torna inviável o uso da nuvem.
O MAIS NOVO PASSO NO CAMINHO da inclusão é um sistema operacional chamado Endless, desenvolvido na Califórnia por um time de brasileiros e americanos. Baseado em Linux, com uma interface atraente que lembra a dos smartphones, ele parte do princípio muito realista de que nem todo mundo tem acesso à internet, muito menos à banda larga, e tenta recriar parte da experiência on-line sem necessariamente usar conexão. Isso é feito através de uma seleção de aplicativos e de conteúdo previamente carregados, como parte substancial da Wikipedia, centenas de vídeos educativos da Khan Academy, uma versão livre do Office, editores de foto, vídeo e música, várias opções de entretenimento e estilo de vida.
Usá-lo me lembrou dos meus primeiros tempos de informática, quando a web ainda não havia sido inventada e todos os programas e conteúdo de que precisávamos ficavam armazenados em disquetes ou no disco rígido do computador; mas, na época, sequer sonhávamos com um conteúdo tão rico e variado. O Endless pode ser baixado gratuitamente em endlessm.com/pt-br/.
A “experiência Endless”, porém, tem também um lado hardware: um pequeno computador esférico e estiloso, o Mini, feito em plástico branco com uma banda em vermelho translúcido, que pode usar até aparelhos de TV antigos como monitor. Com processador AMLogic, 2GB RAM e 32GB de armazenagem, ele tem alma de celular — mas tem também três portas USB, saídas HDMI e RCA, entrada e saída de áudio, ethernet, bluetooth e WiFi. Está preparado para tudo, e é, além disso, um dos aparelhos mais bonitinhos que já vi: na contramão de produtos baratos que parecem ainda mais baratos, ele tem ótimo design, presente até na embalagem cilíndrica que a gente reluta em jogar fora.
Por que um computador quando, essencialmente, um smartphone poderia fazer o mesmo? Porque computadores ainda são ferramentas muito melhores para estudar e trabalhar.
O Endless Mini chega ao Brasil no fim do mês na loja on-line da Endless, a R$ 899. O preço é o único ponto negativo sério que encontrei nessa maquininha notável: no exterior, o mesmo modelo custa US$ 99, quantia bem mais compatível com a sua proposta social. Mais uma vez, pagamos o preço de uma política tributária míope que ainda não descobriu a importância da tecnologia para o país.
EXTRAÍDADEAVARANDABLOGSPOT
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