Pedro do Coutto
Foram, sem dúvida, os personagens principais de um desastre político como poucas vezes aconteceu no mundo, produzindo uma explosão que atingiu diretamente o Palácio do Planalto e levou multidões às ruas e praças do país, em revolta contra o grau de incompetência e corrupção revelado ao longo dos últimos anos, especialmente do início de 2013, cujo dramático desfecho estamos assistindo.
A saída do PMDB da base governista no Congresso representou uma consequência lógica, reflexo da soma dos acontecimentos. O governo Dilma Rousseff fracassou. Só Lula o defende com uma dose de sinceridade interior. Para começar, a sequência e a inconsequência dos erros, a candidata afirmou uma coisa na campanha, propôs-se a realizar o inverso à frente do Poder. Entrou em conflito com sua base popular e também com seus sinceros partidários. Primeiro lance de uma escala descendente.
Nomeou Joaquim Levy para a Fazenda. Teve que exonerá-lo. Por pressão de seu grande eleitor, teve que substituir Aloizio Mercadante na Casa Civil. Lula assumia o posto de co-presidente. Cargo que não existe. O poder não se divide.
AGRAVAMENTO
De etapa em etapa, a crise se agravava. A nomeação de Lula para ministro representou um salto no espaço político, sem rede de proteção. O plenário do Supremo talvez decida hoje a questão. Os sintomas não são favoráveis ao ex-presidente. Até pelos conceitos que emitiu sobre o mesmo STF que irá decidir seu destino.
O PMDB deixou o governo e possui um candidato próprio à hipótese da sucessão antecipada: Michel Temer, desnecessário dizer por quê.
Agora passemos ao fator Delcídio Amaral, o homem que sabe demais. Suas revelações foram um forte fator para a explosão. Logo a seguir, a Odebrecht, como disse Élio Gaspari, domingo no Globo e Folha de São Paulo, mostrou que possui um “setor de operações estruturais”, sinônimo de manter em atividade um departamento para contabilizar a corrupção que alimentava por ação direta de seus dirigentes e executivos. O próprio presidente da Empresa, Marcelo Odebrecht, encontra-se preso, condenado a uma pena de 19 anos de reclusão.
SEM PRECEDENTES
Odebrecht, maior empreiteira do país, alimentava e operava esquema de corrupção sem precedentes. Os prejuízos causados à Petrobras, por exemplo, elevam-se a muitos bilhões, não apenas de reais, mas de dólares. Não está sozinha, mas liderou um elenco fatal com a OAS, Andrade Gutierrez, além de outras mais.
O escândalo alcançou dimensão ainda maior com as revelações do senador Delcídio Amaral. E também com os ataques absurdos de Lula ao juiz Sérgio Moro, culpando-o pela recessão econômica do país que levou à queda do Produto Interno Bruto e a uma taxa recorde de desemprego. A recessão, vale frisar, começou com as desonerações fiscais que a presidente Dilma Rousseff, na fase final de seu primeiro mandato, destinou ao sistema empresarial.
Enquanto isso, a dívida federal atingiu 2,8 trilhões de reais. Em cima de tal montante, o país tem de pagar anualmente 14,25% de juros. Desastre completo, desorientação total e absoluta. O impeachment, que se encontrava em segundo plano, voltou ao centro do palco.
Hoje, dia de plenário na Corte Suprema, não se pode afirmar que acontecerá ou não a posse de Michel Temer no Planalto. Mas depois da explosão, a sociedade encontra-se à espera de uma alvorada. Um novo caminho, uma nova paisagem. Um novo destino democrático. A corrupção foi além dos limites. Os principais personagens do desastre aqui estão. Do outro lado, o povo brasileiro.
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