Jornalista Andrade Junior

segunda-feira, 25 de abril de 2016

O PSDB, que receou fazer oposição por 13 anos, dobra a meta e também receia integrar o governo Temer

Valentina de Botas:

“Não vou até aí, é muito perigoso; espera o pessoal do seguro, e quando você chegar, te faço uma massagem”. Passava da meia-noite e uma amiga querida, para quem confesso até meu IMC, ouviu ao telefone o marido confirmar a rotina daquele casamento unilateral: que não contasse com ele. Professora universitária num curso noturno, voltava para casa e o carro enguiçou nos ermos do trajeto obrigatório. Quando me ligou em seguida, não me surpreendi com o relato na voz de choro contido: “Não acredito”, disfarcei acolhendo a angústia dela e fui ajudá-la.

O PSDB que, na oposição há 13 anos, receou fazer oposição por 13 anos, dobra a meta e também receia integrar o governo Temer. Faz cálculos adequados a essa conduta patética diante da possibilidade de José Serra ser ministro de Temer – receia que o governo seja bom e receia que seja ruim: na primeira hipótese, Serra chega fortalecido à disputa de 2018, atrapalhando outros tucanos presidenciáveis; e, na segunda, Serra enfraquecido atrapalha outros tucanos presidenciáveis.
O partido só não receou excluir o país de cálculos que envolvem covardia e oportunismo elevados à potência da estupidez: o Brasil talvez não possa contar com o PSDB agora e o PSDB espera contar com o Brasil em 2018. Perfeitamente, senhores. O partido desfigurou-se sob o lulopetismo, num trabalho incansável por meio do silêncio cúmplice na narrativa canalha que deturpou a história do Plano Real, causando a extinção do precioso legado que, hoje, é só doída lembrança do que poderíamos ter sido.
Legado que não contempla somente princípios econômicos e fiscais, como a domesticação da inflação e a consequente normalização do cotidiano, condição fundamental para haver futuro – mas que remete, sobretudo, à última vez em que os interesses do país foram projeto de governo. Nesses 13 anos miseráveis, enquanto o nível de testosterona política dos tucanos declinava a ponto de se limitarem a hesitantes campanhas eleitorais, os brasileiros indignados não recuaram da oposição real unindo com pontes incertas ilhas esparsas de resistência.
Agora, os tucanos forjam com medinhos e nojinhos um dilema artificial para refúgio contra os perigos de fazer política, agendando um encontro com a irrelevância. Ela avisa que topa. Uma pena, pois o partido reúne quadros genuinamente democratas que somam honestidade e competência. Integrar um governo é aspiração legítima de qualquer partido que, depois de ajudar a destituir legalmente o anterior mafioso, passa à obrigação se convidado. Concorrer à presidência é aspiração naturalíssima de qualquer político; ilegítimo é fazê-lo por covardia ou oportunismo como o PSDB ameaça; por dissimulação como a Rede de Marina Silva; e pela delinquência como a escória lulopetista.
No silêncio de constrangimento tão sólido que se tornava outro passageiro, eu adivinhava o choro da minha amiga, é duro acabar um casamento mesmo quando ele está acabado. Vazia da palavra ou do olhar certos para a delicadeza da situação, estendi-lhe a mão sem olhar, só para que percebesse minha presença como companhia. Na retribuição do gesto, consegui perguntar se a tal massagem valia mesmo aquela sofrência toda. Rimos tanto que quase batemos o carro: posso ficar uns tempos na sua casa até alugar um aparamento e tal? Claro que podia.
Numa nota para o site O Antagonista, o senador Aloysio Nunes, com a assertividade costumeira, apontou o absurdo da estratégica eminente do PSDB. Se os tucanos não o ouvirem, se o país não puder contar com eles para o conserto de que precisa para chegar a um lugar seguro, que se preparem para, em 2018, massagearem-se uns aos outros.









extraídadecolunadeaugustonunesopiniaoveja

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