por Carlos Alberto Sardenberg O Globo
Vamos falar francamente: a Petrobras só não está em pedido de recuperação judicial porque é estatal
Os governos petistas sempre tiveram como meta fortalecer as estatais
como o melhor meio de combater as propostas de privatização, reais ou
imaginárias. Importante esta última ressalva porque, a rigor, privatizar
a Petrobras nunca entrou na pauta política brasileira.
Mas isso não importava. Defender as estatais, eis o discurso básico do
PT. O partido também procurou desmontar a tese implantada no governo FH,
segundo a qual as companhias públicas deveriam ser administradas
profissionalmente, quase como se fossem privadas, por executivos e
quadros técnicos do setor.
Isso, dizia Lula, era neoliberalismo. Seria colocar as estatais a serviço do mercado e dos interesses privados.
Vai daí, as estatais deveriam ser administradas pelos quadros
partidários, pelos companheiros, para que fossem encaminhadas na direção
correta.
Essa direção era: ampliar as atividades e o alcance das estatais;
objetivos políticos e sociais eram mais importantes que lucros ou valor
de mercado; comprar e contratar no mercado nacional, mesmo que a preços
mais caros.
Fizeram isso, com requintes de populismo, como o de entregar a
administração de recursos humanos da Petrobras a representantes dos
sindicatos de petroleiros.
Quebraram a estatal. Vamos falar francamente: a Petrobras só não está em
pedido de recuperação judicial porque é estatal. Todo mundo espera que,
em algum momento, o governo imprima dinheiro para capitalizar a
empresa.
A companhia tem problemas em todos os lados, inclusive de excesso de
pessoal e de pessoal mais bem remunerado que no mercado. (Aliás, a ideia
era exatamente essa).
A Petrobras não quebrou apenas por corrupção. A causa maior é a péssima
administração, consequência daqueles “princípios” estatistas.
Por isso estamos falando do assunto. O estatismo tem sido dominante
entre nós. E ainda hoje, muita gente partilha daquelas ideias
implantadas pelo PT. Diz esse pessoal: a coisa saiu mal por causa da
incompetência dos governos Lula e Dilma, e não porque a tese seja
errada.
Esse é o grande risco que corremos. O modelo populista está errado, a
doutrina estatista é origem do fracasso. Nem um gênio da gestão
empresarial conseguiria evitar o desastre da Petrobras nesse processo em
que foi lançada por Lula.
Vai daí que será preciso aproveitar a oportunidade para fazer o
contrário, em tudo. Citamos mais a Petrobras porque é o caso mais
notável. Imaginemos uma teoria conspirativa: um presidente neoliberal
que tivesse a ideia macabra de quebrar a Petrobras para poder fechá-la
e, assim, coloca-se uma equipe talhada para produzir o desastre.
Pois não teria conseguido fazer o que a gestão petista aprontou.
Hoje, por exemplo, seria impossível privatizar a Petrobras — a menos que
se vendesse a preço de banana. E por falar nisso, a ação da Petrobras
não está mesmo valendo menos que um cacho de bananas?
Mas é possível — e absolutamente necessário — vender pedaços da
Petrobras e privatizar um monte de ativos. E o que sobrar deve, sim, ser
administrado por quadros do mercado, com regras de gestão privada.
O presidente da companhia também deveria ser procurado no mercado,
inclusive no mercado internacional. Qual o problema de se colocar um
executivo chinês ou norueguês tomando conta da Petrobras, conforme
programas aprovados pelos conselhos?
Isso vale para as demais estatais quebradas, como a Eletrobras.
E mais um programa de privatização não envergonhada. Quando percebeu que
não tinha mais dinheiro nem competência para arrumar aeroportos,
estradas, portos etc., o governo petista resolveu concedê-los à
iniciativa privada. Mas como era feio privatizar, colocaram um monte de
regras que tornaram o negócio menos atraente e mais caro para os
concessionários.
Por isso, isso andou mal.
Fazendo o contrário, aqui há uma hipótese de rápida retomada de
negócios. Muitas empresas médias, nacionais e estrangeiras, estão
prontas para tomar o negócio das empreiteiras apanhadas na Lava-Jato. O
que não funciona é privatizar e dizer que o concessionário não pode
ganhar dinheiro ou só pode ganhar quanto o governo autorizar.
Tudo isso vale também para os bancos públicos. Todo o mercado desconfia
que estão em situação pior do que no final dos anos 90, quando o governo
FH precisou colocar um monte de dinheiro no BB e na Caixa.
A contrapartida foi a gestão profissional nesses bancos, também desmontada pelos governos petistas. Quebraram de novo.
A tristeza disso é que os governos Lula/Dilma estragaram o que estava
pronto e funcionando. O que traz um certo ânimo é que sabemos o que
precisa fazer: é só repetir a combinação
privatização/profissionalização/equilíbrio das contas públicas.
O país já havia conseguido enterrar o populismo estatizante.
Ressuscitou. Agora é preciso corrigir o desastre e colocar esse
populismo numa cova bem profunda, em algum cemitério privado, claro.
extraídaderota2014blogspot
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