Jornalista Andrade Junior

sexta-feira, 29 de abril de 2016

Cubanos, não tenham medo!

 Escrito por Pedro Corzo

É uma demanda que se ouve em Cuba desde há décadas, porém que lamentavelmente não foi atendida pela maioria dos ilhéus que reclamam a governos estrangeiros, os direitos e oportunidades que possivelmente não foram capazes de exigir em seu país.
Há situações particularmente complexas para ser analisadas, principalmente quando estão envolvidos inúmeros fatores, interesses contrapostos e estimativas pessoais que podem estar influenciados pela subjetividade.
Não obstante, é necessário soltar o demônio que oprime e inquieta porque o primeiro dever de um observador é dizer o que crê, além do bom, mau ou feio que possa resultar.
Antes de tudo, é justo asseverar mil e uma vezes que a razão de todos os problemas de Cuba e dos cubanos são conseqüências da ditadura que rege o país. A falta de direitos, as penúrias econômicas e discriminação, assim como o exílio e a emigração, são produtos do sistema.
A outra realidade, dura e crua, é que o regime sobreviveu 57 anos por sua capacidade repressiva, por sua habilidade para oferecer garrote e cenoura, mais o primeiro que o último, mas também porque um setor do povo, apesar dos esforços e do sacrifício de outra parte dos nascidos na ilha, optaram pela cumplicidade ou a simulação que no final de contas como expressou José Martí, “Aquele que vive da infâmia, ou se relaciona com ela em paz, é um infame. Abster-se dela não basta: é necessário lutar contra ela. Ver um crime com calma, é cometê-lo”.
A nação cubana leva décadas em franca deterioração. Seus filhos são os que devem restaurá-la. Esforçar-se. Trabalhar. Correr os riscos que demandem as circunstâncias para ter uma vida livre com a qualidade à qual cada um tem direito, só corresponde aos que nasceram nela. Na ilha não faltaram exemplos. Houve desperdício de valor e sacrifícios, embora também tenha sobrado cúmplices e pusilânimes.
Como seqüela, se alguns de seus descendentes não querem ou temem correr os riscos que implicam reparar a casa de todos, isso não lhes confere o direito de despojar a tranqüilidade de seus vizinhos. Nenhum povo é obrigado a dispor de seus bens ou abandonar suas prerrogativas, em benefício dos que não foram capazes de conservar os próprios.
Não se trata de promover a falta de solidariedade. Simplesmente que os que necessitam de ajuda, devem demonstrar um interesse genuíno em resolver o problema que os aflige.
Emigrar é um direito, porém é necessário contar com o beneplácito de quem acolhe. É necessário respeitar as regras de quem hospeda e nunca exigir na casa alheia o que não se foi capaz de demandar na própria.
A afirmação do jornalista Rolando Cartaya de que “o maleconaço deve ser em Havana”, é válida para os que submissamente acataram na ilha as normas da ditadura e em um país estranho, quando não satisfazem seus reclamos, exigem, protestam e vandalizam, atos que não se justificam, embora seja provável que tenham sido instigados por provocadores do castrismo.
Os direitos devem ser reclamados na terra natal, não na que acolhe sem ter sido convidado. É ao castrismo que se deve exigir, é em Cuba onde se deve gritar “até às últimas conseqüências”, é junto às Damas de Branco onde se deve fazer passeatas e finca-pé, até conseguir que a ditadura cesse.
Por outra parte, é necessário partir da premissa que exilado e emigrantes são condições diferentes, que embora a política exerça um papel na decisão de abandonar o país de origem, a categoria é imposta pelos antecedentes de cada um e da conduta que se assuma no exterior.
Exilado é quem deixou seu país por enfrentar o governo. O que não volta à sua terra natal, enquanto as condições que determinaram seu desterro não tenham mudado. É o que luta no exterior, depois de havê-lo feito em seu país, para derrocar o regime.
Emigrante é quem, fazendo uso do direito inalienável a uma vida melhor, busca outras terras onde espera desfrutar de mais oportunidades e segurança. Trabalha para seu benefício e o de sua família, sem reparar a opressão e os abusos de que são sujeitos seus compatriotas.
Entretanto, apesar das diferenças há uma denominação comum, que é a de que ambos estão vivendo em casa alheia, as regras são postas pelo dono da terra e, em conseqüência, salvo que se assuma a nacionalidade do país que o aloja, continua sendo, no melhor dos casos, um convidado.

Tradução: Graça Salgueiro











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