, editorial de O Globo
Há um aspecto estrutural no pensamento econômico do PT que explica, na
essência, a debácle em curso no Brasil, com dramáticas implicações
sociais. (Chega a ser irônico que o partido que tentou ser monopolista
no combate à pobreza e à miséria tenha sido o agente de um desemprego de
dois dígitos, causa de grande retrocesso no padrão de vida da
população).
Um erro crasso da visão econômica petista é considerar que muito do
avanço de um país depende da vontade política de seus dirigentes. Se
forem sensíveis às questões sociais, saberão tratar de forma competente
os problemas na área.
Infelizmente, não é assim na vida real. Nenhum governante, em sã
consciência toma decisões contra a população, por óbvio. Só mesmo a
miopia, muito intensa quando provocada por fervor ideológico, pode
causar uma catástrofe como a em curso no Brasil, devido a erros que
vieram sendo cometidos desde a parte final do segundo governo Lula.
A questão da renegociação da dívida com entes federativos — estados e
grandes municípios — se coloca dentro deste contexto. Eles também
entraram na farra fiscal, no vácuo da festa patrocinada inicialmente por
Lula 2 e ampliada ao paroxismo por Dilma 1.
Com a explosão dos gastos, a necessidade de ser dado um choque tarifário
— desmentido na campanha e creditado à oposição —, salto da inflação,
recessão, queda de receitas tributárias e aumento de gastos indexados e
vinculados, tudo somado quebrou a Federação — União, estados e
municípios.
Voltamos, em certa medida, ao Plano Real. Só que ali o desequilíbrio
fiscal e de bancos se deveu a algo benéfico: o fim da hiperinflação. Por
aquele motivo, foi feita uma renegociação de dívidas e, em seguida,
editou-se a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), a garantia que a farra
não se repetiria. Terrível engano.
Está aberta outra rodada de renegociação de dívidas — no montante de R$
600 bilhões. Débitos com o BNDES também serão contemplados.
Uma das discussões se refere às contrapartidas que o governo federal
exige de estados e municípios para que se beneficiem de um abatimento do
principal da dívida, ampliação de prazos e juros mais baixos. Mas há
quem considere que as exigências são draconianas, sempre em nome da
“defesa dos trabalhadores”.
O governo, entre outras exigências, quer dois anos de congelamento de
folhas de servidores, reforma dos respectivos sistemas previdenciários,
moderação nas despesas em custeio etc. Mas desejam atenuar as
contrapartidas.
Ora, não há como sair de uma crise fiscal do tamanho desta, histórica —
10% do PIB de déficit — sem apertos. Mas argumenta-se que o
“trabalhador” é muito sacrificado. Não se leva em conta, porém, o
crescimento vertiginoso de gastos com o funcionalismo em vários entes da
Federação.
A outra alternativa é deixar a economia fazer o ajuste selvagem, pela inflação. Aí, sim, haverá muito mais sacrifício.
extraídaderota2014blogspot
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