Folha de São Paulo Ruy Castro:
Em conversa com uma amiga bem informada, fã de literatura, Carnaval e
futebol, descobrimos que, embora assistisse pela TV aos jogos da seleção
brasileira e do seu clube de coração, o Fluminense, ela não sabia
escalar nenhum dos dois. Da seleção, lembrava-se de Neymar, claro, e de
David Luiz, Daniel Alves, Hulk e olhe lá. E, do Fluminense, além de
Fred, só lhe vinham à cabeça Diego Cavalieri, Gum e Magno Alves – talvez
por já serem tão móveis e utensílios do tricolor quanto os vitrais das
Laranjeiras.
"O Millôr [Fernandes] dizia que a Academia Brasileira de Letras se
compunha de 39 membros e um morto rotativo", ela explicou. "Com a
seleção e com os nossos times, é parecido. Cada qual tem, digamos, um
craque e dez japoneses rotativos. De seis em seis meses trocam quase
todos, não dá para gravar".
Em compensação, nem vacilou quando a desafiei a escalar os membros do
STF (Supremo Tribunal Federal). De estalo, desfiou-os como se formassem
um time:
"Lewandowski; Celso de Mello, Teori, Fachin e Luiz Fux; Cármen Lúcia,
Rosa Weber e Gilmar Mendes; Barroso, Toffoli e Marco Aurélio Mello". E,
como se falasse de futuras estrelas dos Jogos Olímpicos, citou também o
juiz Sergio Moro, o procurador-geral Rodrigo Janot e os procuradores
Deltan Dallagnol e Carlos Fernando dos Santos Lima.
Minha amiga não será a única a saber de cor os nomes desses juízes e a
identificá-los em fotografias. Com exceção dos apresentadores do
noticiário e dos atores da novela, eles devem ser atualmente os rostos
mais conhecidos do país.
No Brasil de outros tempos, em que o governo estava sempre na iminência
de meter a mão no nosso bolso, era importante saber o nome do ministro
da Fazenda. Hoje, o povo torce por aqueles que — ele espera — o
redimirão do que vê como anos de putrefação da vida nacional.
extraídaderota2014blogspot
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