Paulo Guedes: O Globo
A presidente Dilma teve o bom senso de não atacar nossas instituições em
sua fala na ONU. Pois a falsa narrativa de que estaria sofrendo um
golpe pelo processo de impeachment é na verdade o maior de todos os
golpes que poderiam ser desferidos contra o regime democrático.
A mentira do golpe é pior do que “um gravíssimo equívoco” e “uma ofensa
às nossas instituições”, como condenaram os ministros do Supremo Celso
de Mello e Dias Toffoli. É uma perversa convocação à militância na
tentativa de manter o poder, apesar das evidências de desrespeito à lei
orçamentária e de omissão ou cumplicidade com a roubalheira. É também
uma desonesta desculpa para o colapso político e econômico de um país
exaurido pela incompetência e pela corrupção.
Compromete nosso futuro porque tenta ocultar o aperfeiçoamento
institucional que experimentamos. O despertar de instituições
republicanas revela disfunções de um capitalismo de quadrilha, em que se
associam a falta de transparência e a corrupção no aparelho de Estado à
compra de sustentação parlamentar, cimentando degenerada aliança de
piratas privados e criaturas do pântano político.
O impeachment de Collor foi golpe contra presidente que não era de
“esquerda” e não dividiu o butim? Ou foi avanço institucional pela
declaração de independência do Legislativo? Poder que exerce agora
atribuições constitucionais avaliando a admissibilidade do impeachment
de Dilma. Como um Judiciário independente celebrará no futuro as
atuações históricas de Joaquim Barbosa e Sergio Moro.
É o fim da administração centralizada gerencialmente caótica (excesso de
ministérios) e politicamente desarticulada (sem sintonia com Estados e
municípios). Prioridades da democracia emergente (saúde, educação,
saneamento) exigem políticas públicas de execução descentralizada.
A lipoaspiração do governo federal (reforma administrativa) e a
descentralização de recursos para Estados e municípios (reforma fiscal)
aumentam a eficiência e melhoram a governabilidade. Impostos
disfuncionais (reforma tributária), relações de trabalho obsoletas,
encargos sociais proibitivos (reformas trabalhista e previdenciária) e
marcos regulatórios deficientes impedem investimentos. As reformas na
política e na economia são urgentes e indissociáveis.
extraídaderota2014blogspot
0 comments:
Postar um comentário