por Rogério Gentile Folha de São Paulo
Sob o risco de deixar Brasília pela porta dos fundos da história, Dilma
se comparou a Jango ao dizer que é vítima de um golpe e pedir a reedição
de uma nova campanha da legalidade. Mesmo sem desmerecer o sagrado
direito de espernear da presidente, não há como não discordar da
analogia. Collor é o seu verdadeiro par.
Assim como o predecessor, Dilma comanda uma gestão desmoralizada pela
corrupção. O eleito em 1989 teve no irmão (Pedro Collor) o algoz que o
delatou. A atual presidente foi alvejada pelo líder do seu governo. Se
tudo o que Delcídio afirmou é verdade, a petista sabia que havia um
esquema de superfaturamento na compra da refinaria de Pasadena.
Dilma, da mesma forma que Collor, também perdeu o controle da base
parlamentar na esteira da derrocada de sua popularidade. Cerca de um mês
antes de sair do cargo, 68% dos brasileiros avaliavam Collor como "ruim
ou péssimo" e 75% pediam impeachment. Dilma é "ruim ou péssima" para 69% e 68% defendem o impedimento.
Vale notar que, naquela época, assim como agora, parcela importante da
sociedade se dizia contra a medida: 18% declaravam não concordar e
advogados conceituados diziam que não havia crime de responsabilidade.
Hoje, 27% rejeitam o impeachment.
O então presidente, assim como Dilma, afirmava que o processo era um
golpe que "feria regras básicas da democracia". Collor usava a expressão
"sindicato do golpe" e comparava os adversários a "porcos". Dilma não
chegou a tanto, ao menos em público, mas chama o movimento atual de
"conjuração que ameaça a estabilidade democrática".
No caso Collor, a própria "cadeia da legalidade" foi invocada. Aliado do
governo, Brizola disse que estavam tentando "garrotear" as
instituições. Lula, na oposição, respondeu: "Quero é colocar a
ilegalidade na cadeia". Os atores mudaram, alguns trocaram de papel. Mas
a história é essencialmente a mesma.
extraídaderota2014blogspot
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