Jornalista Andrade Junior

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

"Um ajuste que avança é o externo",

editorial de O Globo

Como no passado, as contas do relacionamento do país com o mundo reagem à desvalorização cambial, mas a crise não será superada apenas pelas exportações


Sem depender de aprovação no Congresso, de pendores ideológicos e políticos da presidente Dilma e do PT, o setor externo da economia brasileira passa por forte ajuste. As estatísticas referentes ao ano passado, divulgadas na terça pelo Banco Central, impressionam.
O déficit em conta corrente (comércio, serviços, juros) foi de US$ 58,9 bilhões, uma queda de 43% sobre o resultado de 2014, de preocupantes US$ 104,1 bilhões. Quando o rombo atingiu o equivalente a 4,3% do PIB, índice elevado, e foi reduzido agora para 3,3%. Os mercados acompanham este indicador como termômetro da solvência externa do país — o que não se encontra em questão com relação ao Brasil diante de suas elevadas reservas externas, de mais de US$ 300 bilhões, sem deduzir a parcela que cauciona operações de swaps, feitas para não deixar o dólar subir em alta velocidade.
Uma boa notícia é que os investimentos diretos continuam a ser feitos no país, talvez impulsionados agora pela grande desvalorização do real — no ano passado, cerca de 50%, uma máxi. O Brasil ficou “barato” para o investidor externo.
Só em dezembro, entraram no país US$ 15,2 bilhões, dos quais US$ 2 bilhões para o setor elétrico. Capitais chineses, por certo. No ano, os investimentos totais de US$ 75,1 bilhões, embora 23% aquém dos verificados em 2014, cobriram com sobras o déficit em conta corrente. Boa notícia.
Mas nem tudo é para comemorar, pois as causas do ajuste nas contas externas estão nos efeitos da grave recessão interna (queda de cerca de 3,5% do PIB) e da disparada do dólar.
Na balança comercial, o país voltou a acumular superávits — US$ 17,6 bilhões em 2015 —, porém muito em função da queda das importações, reflexo da recessão interna. A queda foi maior que o retrocesso das exportações.
A disparada do dólar deu um choque inflacionário na economia, mas conteve gastos no exterior, não só nas importações de mercadorias — despesas em viagens internacionais encolheram 32% —, e ainda serviu de incentivo às exportações.


Não é a primeira vez que o Brasil passa por um ajuste externo. A diferença é que, desta vez, o país tem substanciais reservas externas, porque a crise, ao contrário do passado, não começou com um estrangulamento externo. Ela veio de erros de política interna, com o “novo marco macroeconômico”, responsável por enorme crise fiscal. O país quebrou em real, não em dólar.
É sempre um alento a melhoria do cenário das contas externas. Calcula-se que a recessão poderia ter sido de mais de 6%, sem este ajuste no balanço de pagamentos.
Infelizmente, é ilusório achar que a economia brasileira, pouco aberta ao exterior, voltará a crescer como é preciso, para a recuperação do mercado de trabalho etc., apenas rebocada pelas exportações. Pois, sem um ajuste fiscal crível, o espaço para a decolagem da economia continuará estreito.
extraídaderota2014blogspot

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