editorial de O Globo
Sem depender de aprovação no Congresso, de pendores ideológicos e
políticos da presidente Dilma e do PT, o setor externo da economia
brasileira passa por forte ajuste. As estatísticas referentes ao ano
passado, divulgadas na terça pelo Banco Central, impressionam.
O déficit em conta corrente (comércio, serviços, juros) foi de US$ 58,9
bilhões, uma queda de 43% sobre o resultado de 2014, de preocupantes US$
104,1 bilhões. Quando o rombo atingiu o equivalente a 4,3% do PIB,
índice elevado, e foi reduzido agora para 3,3%. Os mercados acompanham
este indicador como termômetro da solvência externa do país — o que não
se encontra em questão com relação ao Brasil diante de suas elevadas
reservas externas, de mais de US$ 300 bilhões, sem deduzir a parcela que
cauciona operações de swaps, feitas para não deixar o dólar subir em
alta velocidade.
Uma boa notícia é que os investimentos diretos continuam a ser feitos no
país, talvez impulsionados agora pela grande desvalorização do real —
no ano passado, cerca de 50%, uma máxi. O Brasil ficou “barato” para o
investidor externo.
Só em dezembro, entraram no país US$ 15,2 bilhões, dos quais US$ 2
bilhões para o setor elétrico. Capitais chineses, por certo. No ano, os
investimentos totais de US$ 75,1 bilhões, embora 23% aquém dos
verificados em 2014, cobriram com sobras o déficit em conta corrente.
Boa notícia.
Mas nem tudo é para comemorar, pois as causas do ajuste nas contas
externas estão nos efeitos da grave recessão interna (queda de cerca de
3,5% do PIB) e da disparada do dólar.
Na balança comercial, o país voltou a acumular superávits — US$ 17,6
bilhões em 2015 —, porém muito em função da queda das importações,
reflexo da recessão interna. A queda foi maior que o retrocesso das
exportações.
A disparada do dólar deu um choque inflacionário na economia, mas
conteve gastos no exterior, não só nas importações de mercadorias —
despesas em viagens internacionais encolheram 32% —, e ainda serviu de
incentivo às exportações.
Não é a primeira vez que o Brasil passa por um ajuste externo. A
diferença é que, desta vez, o país tem substanciais reservas externas,
porque a crise, ao contrário do passado, não começou com um
estrangulamento externo. Ela veio de erros de política interna, com o
“novo marco macroeconômico”, responsável por enorme crise fiscal. O país
quebrou em real, não em dólar.
É sempre um alento a melhoria do cenário das contas externas. Calcula-se
que a recessão poderia ter sido de mais de 6%, sem este ajuste no
balanço de pagamentos.
Infelizmente, é ilusório achar que a economia brasileira, pouco aberta
ao exterior, voltará a crescer como é preciso, para a recuperação do
mercado de trabalho etc., apenas rebocada pelas exportações. Pois, sem
um ajuste fiscal crível, o espaço para a decolagem da economia
continuará estreito.
extraídaderota2014blogspot
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