por Ruy Castro Folha de São Paulo
Não se passa um dia sem uma péssima notícia sobre a Petrobras. Ou ela
registrou o seu pior balanço nos últimos 60 anos ou chegou a um inédito
grau de endividamento. Ou terá de vender oleodutos, gasodutos e
navios-petroleiros –o que eles chamam de "fatias de subsidiárias"– a
preços de avenida Passos, ou precisará receber "injeção de recursos da
União".
O resultado é a "forte redução de recursos e investimentos" (as aspas
são oficiais) ou a ameaça de ser rebaixada para a segunda divisão no
ranking mundial de empresas.
Em todos os casos, sobrará ainda menos dinheiro para a cultura. A
Petrobras já não é a maior patrocinadora estatal da cultura brasileira,
coincidindo com as revelações dos assaltos contra o seu patrimônio
praticados por administradores e operadores, em benefício de ministros,
políticos, tesoureiros de partidos, doleiros e outros heróis do povo
brasileiro.
A cada milhão desviado para esses ilustres uma companhia de teatro
encerrou suas atividades, um grupo de dança nunca sairá do projeto, uma
sinfônica foi obrigada a dispensar um naipe de oboés e milhares de
bolsas deixarão de ser concedidas. Muitas dessas companhias –pela sua
própria natureza, sem lucro– jamais atrairiam o interesse de empresas
privadas. Era aí que a Petrobras entrava, e não fazia mais que sua
obrigação.
No atual panorama de terra arrasada, quantos empregos relativos à
cultura (de cenógrafos, carpinteiros, coreógrafos, ensaiadores,
maestros, arranjadores, copistas, diretores de cinema, assistentes de
direção, fotógrafos, diretores de arte, divulgadores etc. etc.) não
estão deixando de ser criados? Quantos milhões de espectadores não ficam
em casa assistindo ao "Big Brother Brasil" em vez de estar consumindo
coisa melhor?
Para cada evento cultural que a Petrobras deixa de ajudar, um corrupto
brasileiro ergue um brinde com uma taça de vinho francês.
EXTRAÍDADEROTA2014BLOGSPOT
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