O GLOBO -
No sábado 31 de março de
2012, depois de uma visita à Índia, Dilma Rousseff embarcou de volta
sem a imprensa saber que o avião presidencial faria uma escala para
reabastecimento no Sul da Itália. Não tem autonomia para voar direto de
tão longe.
Durante cinco horas, por decisão de Dilma, somente as cúpulas do governo, das Forças Armadas e dos órgãos de segurança sabiam onde ela estava e o que fazia.
UM MÊS ANTES o chefe do cerimonial da Presidência da República telefonara para José Viegas, embaixador do Brasil em Roma, pedindo uma sugestão: de volta da Índia, onde o avião deveria pousar? Viegas respondeu na hora: em Palermo, capital da ilha da Sicília, parte da Itália. Ali conhecera um dos bens mais preciosos da humanidade - a Capela Palatina, recoberta de mosaicos do século XII.
VIEGAS FOI avisado uma semana antes da chegada de Dilma à Índia de que deveria recepcioná-la em Palermo. Os que cuidam da segurança da presidente haviam inspecionado os locais por onde ela passaria - o centro da cidade, a capela e o restaurante reservado para o jantar da comitiva de 18 pessoas, o quatro estrelas Tratoria Piccolo Napoli (telefone: +39 091 320431). Somente o governo da ilha sabia da visita.
"NÃO QUERO seguranças ao meu lado", ordenara Dilma. Que desembarcou em Palermo reclamando da companhia do fotógrafo da Presidência. A seu lado, Helena Chagas, então ministra da Comunicação Social, nada disse. Ninguém ousaria. Viegas consultou Dilma sobre o jantar. A Tratoria fica em um bairro popular de Palermo. De varais com roupas estendidos entre as casas. O bairro lembra o do Brás, no Centro de São Paulo.
HAVIA OUTRA opção - um cinco estrelas à beiramar, posto de prontidão pelos agentes de segurança brasileiros. "Vamos para o Brás", respondeu Dilma.
O jantar custou cerca de mil dólares. Dilma gosta de pizza. Em um domingo, há mais de ano, faltou pizza no Palácio da Alvorada. E ela queria uma. Seus assessores entraram em pânico. Foi aberta uma pizzaria para servi-la.
O QUE ELA JANTOU em Palermo é "segredo de Estado".
Fora os presidentes-generais da ditadura militar de 1964, presidente algum foi tão autoritário quanto Dilma. Nenhum deles - nem mesmo Fernando Collor de Mello, o primeiro a ser eleito pelo voto direto, em 1989. Ministros deixaram o governo Dilma por não suportá-la (atenção: sem desmentidos, prefeito Fernando Haddad). Outros recusaram convites.
O COZINHEIRO de Palermo foi aplaudido de pé. O encarregado dos bichos que vivem no Palácio da Alvorada, certa vez, foi procurado por Dilma. Jamais esquecerá o que ela lhe disse porque um avestruz bicara um cão. Palermo da Capela Palatina foi a primeira viagem de Dilma mantida em segredo. Salvo em ocasiões especiais, presidentes de países democráticos como o nosso nunca procederam assim.
NA SEMANA PASSADA, de volta da Suíça, sabia-se que Dilma iria a Cuba. O jornal "O Estado de S. Paulo" descobriu o que fora omitido do público por ordem dela: o avião presidencial faria uma escala em Lisboa. A informação parece irrelevante? De novo: em democracias, não é. O distinto público tem o direito de saber onde seu presidente está. Omissão equivale a uma mentira.
O QUE VOCÊ pensa a respeito? Mensagens para a seção de cartas do jornal. Ou para o site do GLOBO.
Durante cinco horas, por decisão de Dilma, somente as cúpulas do governo, das Forças Armadas e dos órgãos de segurança sabiam onde ela estava e o que fazia.
UM MÊS ANTES o chefe do cerimonial da Presidência da República telefonara para José Viegas, embaixador do Brasil em Roma, pedindo uma sugestão: de volta da Índia, onde o avião deveria pousar? Viegas respondeu na hora: em Palermo, capital da ilha da Sicília, parte da Itália. Ali conhecera um dos bens mais preciosos da humanidade - a Capela Palatina, recoberta de mosaicos do século XII.
VIEGAS FOI avisado uma semana antes da chegada de Dilma à Índia de que deveria recepcioná-la em Palermo. Os que cuidam da segurança da presidente haviam inspecionado os locais por onde ela passaria - o centro da cidade, a capela e o restaurante reservado para o jantar da comitiva de 18 pessoas, o quatro estrelas Tratoria Piccolo Napoli (telefone: +39 091 320431). Somente o governo da ilha sabia da visita.
"NÃO QUERO seguranças ao meu lado", ordenara Dilma. Que desembarcou em Palermo reclamando da companhia do fotógrafo da Presidência. A seu lado, Helena Chagas, então ministra da Comunicação Social, nada disse. Ninguém ousaria. Viegas consultou Dilma sobre o jantar. A Tratoria fica em um bairro popular de Palermo. De varais com roupas estendidos entre as casas. O bairro lembra o do Brás, no Centro de São Paulo.
HAVIA OUTRA opção - um cinco estrelas à beiramar, posto de prontidão pelos agentes de segurança brasileiros. "Vamos para o Brás", respondeu Dilma.
O jantar custou cerca de mil dólares. Dilma gosta de pizza. Em um domingo, há mais de ano, faltou pizza no Palácio da Alvorada. E ela queria uma. Seus assessores entraram em pânico. Foi aberta uma pizzaria para servi-la.
O QUE ELA JANTOU em Palermo é "segredo de Estado".
Fora os presidentes-generais da ditadura militar de 1964, presidente algum foi tão autoritário quanto Dilma. Nenhum deles - nem mesmo Fernando Collor de Mello, o primeiro a ser eleito pelo voto direto, em 1989. Ministros deixaram o governo Dilma por não suportá-la (atenção: sem desmentidos, prefeito Fernando Haddad). Outros recusaram convites.
O COZINHEIRO de Palermo foi aplaudido de pé. O encarregado dos bichos que vivem no Palácio da Alvorada, certa vez, foi procurado por Dilma. Jamais esquecerá o que ela lhe disse porque um avestruz bicara um cão. Palermo da Capela Palatina foi a primeira viagem de Dilma mantida em segredo. Salvo em ocasiões especiais, presidentes de países democráticos como o nosso nunca procederam assim.
NA SEMANA PASSADA, de volta da Suíça, sabia-se que Dilma iria a Cuba. O jornal "O Estado de S. Paulo" descobriu o que fora omitido do público por ordem dela: o avião presidencial faria uma escala em Lisboa. A informação parece irrelevante? De novo: em democracias, não é. O distinto público tem o direito de saber onde seu presidente está. Omissão equivale a uma mentira.
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